domingo, 19 de dezembro de 2010

Leitores a espera de um artigo

Escrevi um artigo sobre o novo PNE. Em breve vou postá-lo aqui. Enviei-o ao um jornal e prometi exclusividade para a editora até que a direção do jornal decida se o mesmo será ou não publicado. Assim que for publicado, ou se a resposta for negativa, posto-o aqui.

O título "Educação espera um milagre" já é de deixar com água na boca. Para deixá-los ainda mais na expectativa...

Escrevi sobre o que acho ser o cerne do PNE, que é a equiparação salarial dos professores com profissionais de outras carreiras com o mesmo tempo de estudo. Também escrevi sobre a questão do investimento na pasta (Educação) ser vinculada ao PIB. Ainda escrevi sobre o que, pra mim, são os principais avanços do novo PNE.

Aguardem!

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Educação acaba em Pisa

Paulo Flores

Além da feijoada, o “cardápio” desta quarta-feira (8/12) tinha muito Pisa. Veja bem, não é pizza, é Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos). Consequência da divulgação do resultado da avaliação realizada pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) a cada três anos, com a finalidade de medir a qualidade da educação nos países desenvolvidos e em outros convidados a participarem da avaliação, como o Brasil.

A maioria (se não todos) dos veículos da chamada “grande imprensa” estampou em suas capas chamadas para reportagens sobre o desempenho do Brasil no Pisa.

Alguns textos exaltavam a melhora do Brasil na pontuação obtida no exame realizado em 2009, na comparação com o anterior, realizado em 2006. Expunham informação creditada ao MEC de que o país é o terceiro em melhora de desempenho desde o início da pesquisa, em 2000.

Houve também aqueles que menosprezaram a suposta melhora no desempenho dos estudantes brasileiros. Preferiram se apegar ao fato de que, mesmo com a melhora de desempenho, o país ainda é um dos últimos na avaliação (53º colocado entre 65 países avaliados). Esses também ressaltaram que os estudantes brasileiros estão bem abaixo da média. Mais da metade não consegue decifrar informações implícitas em um texto curto.

“Estudantes, esses burros!”. Isso é o que pode transparecer as reportagens. Mas, elas também deixam claro que o Governo (Federal é claro) é o culpado pela mazela educacional brasileira, apesar de as escolas públicas federais terem tido desempenho superior até mesmo ao das escolas particulares e serem as escolas públicas estaduais e municipais as que puxam para baixo a classificação brasileira.

Para a elaboração do ranking da educação mundial, a OCDE leva em conta a resposta dos alunos de 15 anos (independentemente da série/ano/ciclo que ele esteja) a questões de leitura, matemática e ciências.

Claro que os jornalistas, corretamente, tratam de embasar seus textos em opiniões de especialistas e apresentam as “receitas” para a melhora da educação no país.

Mas, nenhuma das reportagens que li citou que o Plano Nacional de Educação (PNE) em vigor tem vigência somente até o final de 2010. Que de 2011 até 2020 deve vigorar um outro PNE, mas que o Governo, por meio do Ministério da Educação, adia sua apresentação faz meses. Como podemos melhorar a educação com plano apresentados em “atropelos”?

Diversas entidades, entre elas a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), a Ação Educativa e a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), que fazem parte da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, lançaram o manifesto “A educação não pode esperar”, no qual criticam os constantes adiamentos de apresentação do PNE 2011-2020 e falam da importância do mesmo.

As receitas apresentadas para a melhoria da educação têm como seus principais ingredientes o aumento dos investimentos e o planejamento, mas, sem o PNE, tudo acaba em Pisa.
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Obs.: A imagem é do artigo com algumas edições, publicado no Jornal da Tarde (São Paulo), em 16/12/2010.

Vale à pena ler

Vale à pena ler o texto “Progressão continuada não é aprovação automática”, do Fernando José de Almeida. É sucinto, mas traz elementos importantes para conseguirmos diferenciarmos a boa progressão continuada da detestável aprovação automática, implantada pelo governo tucano no estado de São Paulo, por exemplo.

Progressão continuada não é aprovação automática
A confusão entre os conceitos prejudica os debates sobre os ciclos de aprendizagem

Fernando José de Almeida
É difícil defender uma ideia quando ela é desconhecida ou mal entendida pelos interlocutores. Sempre que falo em progressão continuada, em vez de sair apoiando essa maneira de organizar o tempo escolar, me vejo na obrigação de, antes de tudo, deixar bem claro sobre o que vou tratar. Há muita confusão, pois esse conceito é imediatamente confundido com "aprovação contínua" ou "aprovação automática", como indica a reportagem Organização em Ciclos Respeita a Diferença, que a revista Nova Escola Gestão Escolar traz na sua edição de dezembro/janeiro. Então vamos aos esclarecimentos.

Aprovação automática quer dizer sem avaliação, sem orientação, sem cobrança, sem algum apoio. Sendo assim, sem nenhum critério, o aluno é empurrado adiante, correndo ele os riscos de não estar preparado para nada e podendo, mais tarde, atribuir à escola - com razão - o abandono a que foi submetido, sem ter nenhum tipo de orientação.

Progressão continuada, ao contrário, é um alargamento do conceito de período escolar, pois prevê, em vez de anos, ciclos. E aí é possível falar em ciclo letivo, com mais do que os 200 dias previsto na lei, e também em ciclo de aprendizagem do aluno - e esse pode ser de dois ou três meses, um semestre, um ou mais anos. Dividir o tempo escolar fugindo do calendário anual tem por objetivo aprofundar a concepção sobre o ensino e a aprendizagem. Sabe-se, comprovadamente, que as crianças têm diferentes habilidades e, por isso, diversas maneiras e ritmos para aprender. Mas todos podem chegar lá. E chegam. Às vezes, alguns meses ou um semestre a mais são suficientes para constatar mudanças no aluno. Em um curto período
 de tempo, ele pode amadurecer, superar um problema familiar ou adquirir mais segurança com a ajuda de um professor - fatores que repercutem profundamente na sua capacidade de aprender.

Reprovar a criança uma, duas ou três vezes e mandá-la ficar com colegas menores causa problemas de adaptação e provoca desinteresse por ela ser obrigada a ver e estudar tudo de novo. Quando adota essa prática, a escola se assemelha a uma indústria automobilística, que devolve à fundição as engrenagens que não estão dentro das normas técnicas. Só que com seres humanos é diferente: não há padrão e, no que diz respeito ao retorno ao início, não se pode dizer que não houve aprendizagem alguma no ano "perdido". O resultado da reprovação anual na rede pública é a expulsão de milhares de jovens da escola, colocando-os no abandono e na marginalidade.

Os sistemas de progressão continuada são a forma mais eficaz e justa de estabelecer os prazos de reprovação para mudança de fase escolar. Na Finlândia, que tem uma realidade bem diferente da nossa, o ciclo básico é de nove anos e só após esse tempo são feitas as provas que indicam quem ficará retido. Na cidade de São Paulo, Paulo Freire (1921-1997), quando secretário de Educação, entre 1989 e 1991, propôs que os ciclos fossem de três anos no Ensino Fundamental e apenas no fim de cada um haveria exames que definiriam se o aluno seria retido ou não. Sistemas desse tipo devem vir acompanhados de um mecanismo que permita a correção dos rumos antes do fim do ano e envolva os professores em planos de orientação dos alunos com dificuldades. Na verdade, é bom que se diga, essas dificuldades, geralmente, não são dos alunos, mas da escola, do currículo (com pouco ou nenhum significado para eles) e dos professores.

A solução para um ensino eficaz não está na repetição dos conteúdos ou na afirmação - pobre - de que os jovens não gostam de estudar. Está na obrigação que a escola tem de oferecer a oportunidade de todos aprenderem.


Fernando José de AlmeidaÉ filósofo, docente da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e diretor de Educação da Fundação Padre Anchieta.

Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/gestao-escolar/diretor/progressao-continuada-nao-aprovacao-automatica-611988.shtml