quarta-feira, 30 de setembro de 2015

‪#‎Pedagogicamente inviável, mas cheia de novidades

Segue abaixo um excelente texto do colega José Carlos Fubalee sobre a entrevista do Secretário Estadual de Educação do Estado de SP. Vale a pena a leitura e a reflexão das várias "polianas e polianos" que existem na Cátedra Paulista


Por José Carlos Fubalee

Professora Poliana assiste o jornal enquanto se arruma para ir para a escola. É um velho hábito e ela consegue ficar bem informada logo cedinho. Enquanto saboreava seu café e devorava um generoso pedaço de broa de milho que ela mesma preparou na noite anterior, ouviu o simpático apresentador do jornal matinal anunciar entrevista com o Secretário da Educação do Tucanistão, aquele senhor cujo nome ela demorou para aprender a pronunciar. Poliana correu para frente da televisão e aguardou a aparição do chefe, ansiosa por novidades e na expectativa de ser uma das primeiras pessoas a saber. O coração de Poliana acelerou um pouco com uma tênue esperança de que o ilustre secretário anunciasse o tão esperado, sonhado e merecido reajuste de salário para os quadros do magistério. Mas a esperança logo se esvaneceu, já que o risonho apresentador anunciou que o magnânimo secretário falaria das mudanças na organização escolar para 2016.


Poliana ficou surpresa com a cara de cansaço e esgotamento do chefe e isso lhe causou uma certa comoção. O homem estava com cara amarrotada, assim como suas roupas. Deve ter passado noites em claro, trabalhando e trabalhando nos projetos que agora anunciaria em rede de televisão. Poliana foi ouvindo o discurso de seu superior e tentando assimilar tudo. Jornalista e secretário pareciam bem entrosados e quando uma pergunta vinha o secretário já respondia de primeira e de forma eloquente. Mudanças rápidas se encaminhavam: Separação dos ciclos. O secretário, após vários anos no comando da educação, enfim descobriu o seu ovo de Colombo. Separar os ciclos é a panaceia que vai resolver os grandes problemas do sistema educacional. Poliana ficou perplexa. Era tão óbvio, tão simples, tão evidente, e ninguém tinha pensado nisso até hoje? Separar os ciclos. Cada um no seu quadrado. Cada um com seus problemas. Cada um, ora, cada um é cada um. E Poliana até se esqueceu do reajuste zero. Poliana estava orgulhosa de ter votado no governador e ajudado a reelegê-lo. Olhou para o relógio e viu que estava quase perdendo a hora. Correu para o banheiro para escovar os dentes, mas quando abriu a torneira apenas o som do ar veio pelo encanamento. 

Um sentimento de raiva quase tomou forma no peito de Poliana, mas moça de fé inabalável e de resignação ainda maior ela respirou fundo e aceitou a provação. Colocou o resto da broa de milho numa tupperware. Dividiria com os amigos da escola na hora do intervalo enquanto comentariam as mudanças. E lá se foi Poliana trabalhar, sem escovar os dentes, com mau hálito, mas cheia de esperança em um futuro melhor.