Sobre
Bullying e Tragédias.
Por Reinaldo Melo
Sobre o último fato chocante efêmero do país paira
a obtusidade de praxe. TV e outros meios de comunicação a demonizar uma criança
que reagiu ou justificar tal reação. Nadam de cachorrinho com o nariz tampado
num poço lamacento.
Já nas mentes que debatem educação reina a
hipocrisia. Sim, pois ainda insistem em tratar a escola como uma ilha, como se
dentro dela não houvesse o melhor e, infelizmente, o pior da sociedade.
Defendem que a escola deve resolver um problema de natureza social e, assim, se
tornam cúmplices de um status quo que continuará a ceifar vidas e almas em sala
de aula.
Dito isto, todas as crianças envolvidas neste fato
de Goiânia são vítimas, tanto quem atirou quanto quem foi alvejado. Sobre os
efeitos do bullying, nem me dou o trabalho de discutir. Mas a questão é por que
indivíduos possuem prazer em rebaixar outros com os quais convivem diariamente.
E a sociedade estupefata e chocada, antes de se
alienar com o final de uma outra mesma novela de sempre, segue ignorante e
cúmplice, pois o ato do bullying nada mais é que a extensão da lógica social
individualista, onde cá fora da escola homens e mulheres se relacionam por meio
da lógica da disputa, da falsa meritocracia, do ser melhor que os outros a fim
de conquistar o seu lugar no sol da sociedade de consumo, em que coisas
materiais possuem mais valor que o humano.
Nisto, as crianças absorvem este fratricídio
cotidiano e o levam para o espaço escolar. A própria escola nessa lógica de
educar para o mercado de trabalho, de priorizar avaliações em que mentes tão
inquietas e curiosas são classificadas com o número no pedaço de papel que as
subjugam reproduz o que pensa esvaziar. É a desumanização em forma de
propagação do conhecimento num local em que equações, sintaxes e fórmulas são
decoradas, mas onde não impera o entendimento da própria espécie. Onde o
sofrimento das crianças, as que ofendem e as que são ofendidas, passa
despercebido.
Num momento em que o próprio cinema brasileiro
naturaliza o bullying e o mau caratismo como prática estudantil, nada mais
hipócrita do que uma sociedade que se choca com aquilo que ela mesmo defende e
produz.
Até o próximo derramamento de sangue em sala de
aula.
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