Por José Carlos Fubalee
Professora Poliana assiste o
jornal enquanto se arruma para ir para a escola. É um velho hábito e ela
consegue ficar bem informada logo cedinho. Enquanto saboreava seu café e
devorava um generoso pedaço de broa de milho que ela mesma preparou na noite anterior,
ouviu o simpático apresentador do jornal matinal anunciar entrevista com o
Secretário da Educação do Tucanistão, aquele senhor cujo nome ela demorou para
aprender a pronunciar. Poliana correu para frente da televisão e aguardou a
aparição do chefe, ansiosa por novidades e na expectativa de ser uma das
primeiras pessoas a saber. O coração de Poliana acelerou um pouco com uma tênue
esperança de que o ilustre secretário anunciasse o tão esperado, sonhado e
merecido reajuste de salário para os quadros do magistério. Mas a esperança
logo se esvaneceu, já que o risonho apresentador anunciou que o magnânimo
secretário falaria das mudanças na organização escolar para 2016.
Poliana ficou surpresa com a cara
de cansaço e esgotamento do chefe e isso lhe causou uma certa comoção. O homem
estava com cara amarrotada, assim como suas roupas. Deve ter passado noites em
claro, trabalhando e trabalhando nos projetos que agora anunciaria em rede de
televisão. Poliana foi ouvindo o discurso de seu superior e tentando assimilar
tudo. Jornalista e secretário pareciam bem entrosados e quando uma pergunta
vinha o secretário já respondia de primeira e de forma eloquente. Mudanças
rápidas se encaminhavam: Separação dos ciclos. O secretário, após vários anos
no comando da educação, enfim descobriu o seu ovo de Colombo. Separar os ciclos
é a panaceia que vai resolver os grandes problemas do sistema educacional.
Poliana ficou perplexa. Era tão óbvio, tão simples, tão evidente, e ninguém
tinha pensado nisso até hoje? Separar os ciclos. Cada um no seu quadrado. Cada
um com seus problemas. Cada um, ora, cada um é cada um. E Poliana até se
esqueceu do reajuste zero. Poliana estava orgulhosa de ter votado no governador
e ajudado a reelegê-lo. Olhou para o relógio e viu que estava quase perdendo a
hora. Correu para o banheiro para escovar os dentes, mas quando abriu a
torneira apenas o som do ar veio pelo encanamento.
Um sentimento de raiva quase
tomou forma no peito de Poliana, mas moça de fé inabalável e de resignação
ainda maior ela respirou fundo e aceitou a provação. Colocou o resto da broa de
milho numa tupperware. Dividiria com os amigos da escola na hora do intervalo
enquanto comentariam as mudanças. E lá se foi Poliana trabalhar, sem escovar os
dentes, com mau hálito, mas cheia de esperança em um futuro melhor.
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