Entendo que somente a verdade, mesmo a mais dolorosa, deva ser sempre exposta. Qualquer tipo de discurso que busque atenuar um problema, gerando ilusão ou falsa sensação de bem estar, é contraproducente e deve ser prontamente rechaçado. Do alto do caminhão e das bocas de muitos grevistas, se ouve que a greve é histórica e vitoriosa. Historica sim, vitóriosa, não.
A batalha dos aflitos foi um jogo da Serie B do campeonato brasileiro onde Grêmio e Náutico disputavam uma vaga a primeira divisão. Foi um jogo com contornos épicos, e entrou para a história do futebol brasileiro. Mas nessa batalha, apenas o grêmio saiu vitorioso. Nossa greve histórica, revela de forma dramática, que a categoria sucumbiu ante ao projeto neoliberal, iniciado em 95 por Mário Covas.
A greve é histórica por vários fatores. Aponto o protagonismo da vanguarda nas ações regionais como o principal fator. Nós grevistas promovemos ao longo desses mais de dois meses, o maior conjunto de denúncias ao projeto tucano no estado de SP. Nossas ações de base promoveram um diálogo franco com a sociedade. Os pais de minha escola, por exemplo, sabem muito bem quem é Geraldo Alckmin. Alcançamos a quem foi possível, dentro de nosso contingente e recursos. Cumprimos nosso papel político nesse sentido. Mas a greve e toda a categoria, não venceu, ao menos não nesse momento. O projeto neoliberal segue a todo vapor.
No cerne do neoliberalismo esta a lógica do mérito e do individualismo. Posto isso, basta um olhar menos apaixonado sobre a nossa greve, para verificar que estamos sofrendo uma derrota acachapante. Sim, o projeto neoliberal esta nos tratorando.
Voltemos o olhar para nossos dirigentes sindicais, só para ter uma idéia. O trator neoliberal coopta todas as instituições de nossa sociedade. Não é diferente com os sindicatos. Após setenta e dois dias de greve, vemos uma clara disputa entre as correntes da diretoria para ver quem chamara o arrego primeiro. Enquanto muitos hoje não tem dinheiro sequer para honrar suas contas, carreiristas de sindicato se mostram preocupados em disputar o aparelho. O pensamento individualizado impera.
Mas não são apenas os dirigentes sindicais embriagados pela lógica individual. Quem militou, como eu e outros tantos em comandos de greve, sabe muito bem que os professores são um poço de individualismo. Pelegada que durante anos reclamou do governo, evocou os motivos mais esdrúxulos possíveis para fugir da luta. "Tenho contas a pagar..", como se os grevistas tivessem nascido em berço esplêndido e fizessem greve por lazer. Eu que estou há 72 dias parado sei muito bem as contas que tenho e que honrarei nenhuma delas tão cedo.
Esperar o que de professores sem formação política alguma? Boa parte dos professores de hoje acreditam que ser professor é seguir um curriculo, apresentá-lo ao aluno de forma acrítica, avaliá-lo e dar um veredito final sobre sua aprendizagem. Desconhecem por completo que educar, é um ato político. Fazem da cabeça do aluno um depósito de conteúdos. Mal sabem esses tolos que o Google pode desempenhar esse papel melhor do que nós. O professor currícular, tecnicista e descomprometido com a política e com a formação para o desenvolvimento da cidadania e da emancipação, são um retrato fiel do triunfo neoliberal.
E os pais? E os alunos? Abandonados anos e anos pelo estado, numa escola com poucos recursos, dizem o que no momento em que os trabalhadores da educação se organizam para pleitear melhorias que beneficiarão a todos, inclusive eles? "Eu não vou repor aos sabados", "Eu tenho ENEM, lutem de outra forma que não nos prejudicara...", os alunos repetem o individualismo exacerbado de professores e pais. O pensamento coletivo inexiste em todos os lugares e cabeças.
Camaradas, aderi a greve muito mais que por um reajuste, mas sim, por que sou consciente do estratagema neoliberal e quero combatê-lo. Mas para isso, é preciso ser honesto. Nossa categoria (grevistas e não grevistas) foi impiedosamente derrotada. Negar isso é fazer o jogo de Alckmin. Nos resta no pós-greve juntar os cacos, e aumentar o número de pessoas dispostas a militar nessa frente, em novas batalhas. Da minha parte, sempre me alistarei em quantas lutas forem necessárias pela classe trabalhadora. Firmo esse compromisso em público.
Sigo em greve, sem NENHUM arrego, tentando arrancar algum despojo desse governo. Vou até o fim com os valorosos grevistas que seguem sonhando com dias melhores para a COLETIVIDADE. Toda a categoria foi derrotada sim, mas estou feliz por tombar ao lado dos que escolheram a luta, ao invés da capitulação. Concluo evocando o cliche Zapatista. Tombo de pé, orgulhoso por não viver de joelhos.
A greve continua
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