sexta-feira, 19 de abril de 2013

Defasagem série-idade: Mais uma do Pinóquio Kassab


Em 2010, Prefeitura formou 2º ano do ensino fundamental com estudantes repetentes e vindos de outras redes; hoje eles estão no 5º ano

A cidade de São Paulo terá até 2017 uma série escolar atípica, com alto porcentual de alunos atrasados. A distorção foi criada em 2010 na implementação do ensino fundamental de nove anos. Hoje, as turmas dessa série, com cerca de 7 mil alunos, estão no 5.º ano e acumulam mais um problema: também abrigam alunos reprovados no ano passado, no fim do primeiro ciclo.

O município optou à época por manter os dois sistemas (com denominações de oito e nove anos). Quem estava na 1.ª série em 2009 foi para o 3.º em 2010 e os novos alunos do fundamental, para o 1.º ano (mais informações nesta página).

Segundo a gestão do ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD), não havia alunos para o 2.º ano (pois os saídos da pré-escola eram muito novos) e, por isso, foram formadas turmas com estudantes provenientes de outras redes, além dos retidos por repetência.

Segundo a antiga gestão, a cidade não tinha alunos na idade adequada para esse ano porque matriculava, até 2009, crianças com 6 anos na 1.ª série. O Estado apurou que a formação das turmas de 2.º ano ocorreu por conta de uma preocupação do governo do Estado em haver uma lacuna de uma turma futura no ensino médio.

A decisão tem um impacto imediato nas estatísticas da cidade. Índices tabulados pela equipe do Estadão Dados mostram que na rede municipal a taxa de distorção idade-série no 2.º ano teve um salto de 1,8% para 6,3%. Essa defasagem se arrastou em 2011, já no 3.º ano, e deve se espelhar até o 9.º ano. A taxa é expressa pelo porcentual de alunos com dois ou mais anos além da idade recomendada para a série.

Prova Brasil. Enquanto essa turma tem pouco mais de 7 mil alunos, os outros anos da rede contam com uma média de 55 mil. Mas é essa turma que faz neste ano a Prova Brasil, avaliação federal, como lembra a diretora executiva da ONG Todos pela Educação, Priscila Cruz. "Como sabemos que a repetência tem forte correlação com evasão futura, é preciso ter muita atenção", diz ela, que ressalta a criação dessas turmas como uma escolha de gestão. "Mas a turma não é representativa da rede."

A consultora em educação Ilona Becskeházy afirma que essa realidade precisa ser estudada. "São alunos que têm dificuldade e se viram em uma transição administrativa", diz.

Segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), as turmas foram formadas em 71 escolas. Na Recanto dos Humildes, em Perus, 32,3% dos alunos do 2.º ano de 2010 estavam atrasados. Um integrante da equipe gestora, que preferiu não se identificar, disse que não houve tratamento específico e a disparidade de idades não foi percebida. "Há muitas transferências", disse.

Na escola Prof. Iracema Marques da Silveira, no Campo Limpo, também não houve nenhum trabalho específico - em 2010, o 2.º ano tinha 28,6% de alunos defasados. "Era só uma turminha", disse uma integrante da secretaria. Segundo ela, a distorção maior começou a ser sentida agora, com os repetentes da 4.ª série (que ficaram em 2013 no 5.º ano).

A gestão anterior ressaltou que questionários da Prova Brasil de 2011 aplicados aos diretores mostraram que 99% das escolas possuíam programas de recuperação. Já a Secretaria Municipal de Educação informou que está integrando ações para assegurar a educação na idade certa. "Os alunos em defasagem cumprirão o fluxo regular do ensino fundamental, com apoio pedagógico complementar caso necessário", informou em nota.

As turmas atípicas também foram formadas em escolas do Estado na capital, mas a defasagem ficou menos concentrada. Segundo o professor Ruben Klein, da Fundação Cesgranrio, a implementação do fundamental de nove anos foi malfeita. "O problema é que cada rede fez de um jeito, não houve organização".


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