domingo, 24 de maio de 2015

Sobre a Coerção Econômica e Os Filhos da Pauta (algumas observações e propostas)


Somos 250 mil professores e a maioria. tirando aqueles que são canalhas beneficiados pelos sistema e os tucanos, é contrária aos desmandos do PSDB para com o nosso trabalho, seja em estrutura, seja em remuneração.
O que me pergunto é qual o motivo dessa maioria não parar. No meu entender, não é por mera questão ideológica, pois quem aqui conhece (tirando os canalhas e tucanos) professores que estão felizes com a situação, com a profissão? Há professores que estão nas escolas, mas são os primeiros a abrirem um planejamento ou ATPC com a sessão de lamentações.
Não sejamos hipócritas , todos aqui estavam esperando uma decisão positiva do judiciário para que mantivéssemos a luta com o mesmo vigor e com o mesmo número de colegas de semanas anteriores. E com os últimos ventos vindo do judiciário, vimos que muitos colegas de luta voltaram para a sala de aula.
No meu entender não é por mera questão ideológica que grande parte do professorado não adere à greve, mas pela coerção econômica, pois como explicar que colegas com ideologia cristalizada de esquerda voltaram para sala de aula? Ou seja, ideologia é fundamental, mas não é tudo.
Mas alguns podem contra argumentar: “Mas e os colegas que ainda continuam firmes?” E eu pergunto “Firmes, até quando? Até dezembro?”
Devemos analisar o real e não a simples questão ideológica. O Capitalismo não é um sistema que domina o cidadão por mera ideologia, há instrumentos de coerção econômica. De acabar com o tempo, com a disposição e com as oportunidades desse cidadão participar de questões de interesses dele próprio. A realidade não pode ser desprezada em nossas análises.
Ao mesmo tempo, nossa pauta foi totalmente despolitizada e deslocada. Despolitizada porque ficamos com o discurso do que, concretamente? O discurso de reajuste de 75% foi um erro. Ao mesmo tempo, deslocada porque a duzentena, a reabertura de salas e a readmissão de professores eram coisas que nem deveríamos estar pautando, pois já ocorreram. Por isso, a direção sindical é um grupo de filhos da pauta, pois constroem nossas reivindicações ao bel prazer de suas conveniências.
Por que? Porque esta greve foi uma greve atrasada. Em setembro e Outubro, as (os) dirigentes de ensino chamaram boa parte das subsedes para uma reunião para informá-las dos fechamentos de sala com o falso argumento da redução de demanda (redução de demanda com sala de aula lotada?). Aqui na minha subsede, eu sei dessa reunião desde o ano passado, e a APEOESP apenas procurando erro burocrático na atribuição de aulas, sem politizar a questão das demissões. Ficaram pianinhos.
E além de já saber sobre as demissões, sabia que seria ano de greve. E nessa reta final o que faz? Judicializa a nossa causa, fazendo boa parte do movimento depender do judiciário para que seguisse com a mesma intensidade. Ou seja, o próprio judiciário virou um filho da pauta nessa história, e nós a criarmos esperanças a partir de um poder que sempre esteve contra nós.
Sabendo que haveria greve, como justificar que campanha e ações para fundo de greve ocorressem apenas depois do primeiro mês? CadÊ a verba bilionária da CUT para nos ajudar, já que parte do nosso movimento tirou a direita da rua? Cadê a verba da APEOESP para colaborar com as subsedes e não deixando os próprios comandos que, deveriam estar fortalecendo a greve, se preocuparem com o próprio fundo? Eu vi lista de doação de deputado. Não quero depender de Vicentinho, ora bolas. E os conselheiros da APEOESP que estão aposentados? Quantos contribuíram para com o fundo de greve e com os companheiros do comando. Eu ouvi da boca de um conselheiro aposentado que não iria ajudar companheiro de comando que não tinha dinheiro da passagem porque isso era assistencialismo. Eu tinha de ir buscar o companheiro na casa dele com o meu carro.
A derrota é iminente, mas não defendo recuo. Estamos coagidos financeiramente e é este o problema que devemos enfrentar neste momento para continuarmos na luta.
A proposta que acho viável neste momento é ficarmos parte do tempo em faróis principais de nossas cidades com cartazes de “SOU PROFESSOR SEM SALÀRIO” e pedir mesmo esmola para os motoristas. Enquanto parte de um comando continue a visitar as escolas, outra parte vai tentando angariar fundos nos faróis da cidade. E não falo de um grupo num farol só, mas de um ou dois professores num farol, para não se dar trela ao anti esquerdismo. Estou dizendo de usar estratégia de compaixão mesmo para os potenciais doadores.
Também tem o trem. Dois professores ficarem no trem o dia inteiro, fazendo o discurso de vagão em vagão, de como está a educação de SP, e pedir dinheiro mesmo, dizendo que está sem salário, mas que quer uma escola melhor para os filhos dos trabalhadores.
Creio que isso pode amenizar a coerção econômica sobre a qual estamos sendo submetidos no momento. Não dá pra confiar no judiciário, a derrota é iminente, a unidade acabou, mas não acho que queremos voltar agora. Temos de pensar medidas para essa coerção e ao mesmo tempo começar a radicalizar extremamente o movimento. Chega de ficar andando em procissões. Temos de forçar negociação.


sábado, 23 de maio de 2015

Histórica sim, vitoriosa, não


Entendo que somente a verdade, mesmo a mais dolorosa, deva ser sempre exposta. Qualquer tipo de discurso que busque atenuar um problema, gerando ilusão ou falsa sensação de bem estar, é contraproducente e deve ser prontamente rechaçado. Do alto do caminhão e das bocas de muitos grevistas, se ouve que a greve é histórica e vitoriosa. Historica sim, vitóriosa, não.
A batalha dos aflitos foi um jogo da Serie B do campeonato brasileiro onde Grêmio e Náutico disputavam uma vaga a primeira divisão. Foi um jogo com contornos épicos, e entrou para a história do futebol brasileiro. Mas nessa batalha, apenas o grêmio saiu vitorioso. Nossa greve histórica, revela de forma dramática, que a categoria sucumbiu ante ao projeto neoliberal, iniciado em 95 por Mário Covas.
A greve é histórica por vários fatores. Aponto o protagonismo da vanguarda nas ações regionais como o principal fator. Nós grevistas promovemos ao longo desses mais de dois meses, o maior conjunto de denúncias ao projeto tucano no estado de SP. Nossas ações de base promoveram um diálogo franco com a sociedade. Os pais de minha escola, por exemplo, sabem muito bem quem é Geraldo Alckmin. Alcançamos a quem foi possível, dentro de nosso contingente e recursos. Cumprimos nosso papel político nesse sentido. Mas a greve e toda a categoria, não venceu, ao menos não nesse momento. O projeto neoliberal segue a todo vapor.
No cerne do neoliberalismo esta a lógica do mérito e do individualismo. Posto isso, basta um olhar menos apaixonado sobre a nossa greve, para verificar que estamos sofrendo uma derrota acachapante. Sim, o projeto neoliberal esta nos tratorando.
Voltemos o olhar para nossos dirigentes sindicais, só para ter uma idéia. O trator neoliberal coopta todas as instituições de nossa sociedade. Não é diferente com os sindicatos. Após setenta e dois dias de greve, vemos uma clara disputa entre as correntes da diretoria para ver quem chamara o arrego primeiro. Enquanto muitos hoje não tem dinheiro sequer para honrar suas contas, carreiristas de sindicato se mostram preocupados em disputar o aparelho. O pensamento individualizado impera.
Mas não são apenas os dirigentes sindicais embriagados pela lógica individual. Quem militou, como eu e outros tantos em comandos de greve, sabe muito bem que os professores são um poço de individualismo. Pelegada que durante anos reclamou do governo, evocou os motivos mais esdrúxulos possíveis para fugir da luta. "Tenho contas a pagar..", como se os grevistas tivessem nascido em berço esplêndido e fizessem greve por lazer. Eu que estou há 72 dias parado sei muito bem as contas que tenho e que honrarei nenhuma delas tão cedo.
Esperar o que de professores sem formação política alguma? Boa parte dos professores de hoje acreditam que ser professor é seguir um curriculo, apresentá-lo ao aluno de forma acrítica, avaliá-lo e dar um veredito final sobre sua aprendizagem. Desconhecem por completo que educar, é um ato político. Fazem da cabeça do aluno um depósito de conteúdos. Mal sabem esses tolos que o Google pode desempenhar esse papel melhor do que nós. O professor currícular, tecnicista e descomprometido com a política e com a formação para o desenvolvimento da cidadania e da emancipação, são um retrato fiel do triunfo neoliberal.
E os pais? E os alunos? Abandonados anos e anos pelo estado, numa escola com poucos recursos, dizem o que no momento em que os trabalhadores da educação se organizam para pleitear melhorias que beneficiarão a todos, inclusive eles? "Eu não vou repor aos sabados", "Eu tenho ENEM, lutem de outra forma que não nos prejudicara...", os alunos repetem o individualismo exacerbado de professores e pais. O pensamento coletivo inexiste em todos os lugares e cabeças.
Camaradas, aderi a greve muito mais que por um reajuste, mas sim, por que sou consciente do estratagema neoliberal e quero combatê-lo. Mas para isso, é preciso ser honesto. Nossa categoria (grevistas e não grevistas) foi impiedosamente derrotada. Negar isso é fazer o jogo de Alckmin. Nos resta no pós-greve juntar os cacos, e aumentar o número de pessoas dispostas a militar nessa frente, em novas batalhas. Da minha parte, sempre me alistarei em quantas lutas forem necessárias pela classe trabalhadora. Firmo esse compromisso em público.
Sigo em greve, sem NENHUM arrego, tentando arrancar algum despojo desse governo. Vou até o fim com os valorosos grevistas que seguem sonhando com dias melhores para a COLETIVIDADE. Toda a categoria foi derrotada sim, mas estou feliz por tombar ao lado dos que escolheram a luta, ao invés da capitulação. Concluo evocando o cliche Zapatista. Tombo de pé, orgulhoso por não viver de joelhos.
A greve continua