domingo, 30 de outubro de 2011

Ameaças levam Professor ao esgotamento

Segue abaixo entrevista de Vera Lemgruber, chefe do setor de Psicoterapia da Santa Casa de Misericórdia . A entrevista foi publicada na edição impressa do Jornal "O Estado de S. Paulo" na folha A25.


Especialista, que atende docentes com estresse pós-traumático, diz que não há vida saudável com violência e sofrimento

RIO - Vera Lemgruber, chefe do setorde Psicoterapia da Santa Casade Misericórdia, abriu as portas para o tratamento gratuito deuma professora. E no rastro vieram outras oito, com os mesmos sintomas. Metade delas foi diagnosticada com síndrome do estressepós-traumático. As outras tinham depressão ou sofriam deestresse agudo.Nesta entrevista ao Estado, a especialista ajuda a entender adoença, motivada por episódios ameaçadores e composta de três aspectos diferentes: revivência da ameaça, reação semelhante a um ataque de pânico e retração social.

● O que provoca a síndrome do estresse pós-traumático?

O fator estressante tem de ser considerado muito grave para a maioria dos seres humanos. Essas reações ocorrem depois de guerras, estupros, ocorrências de violência doméstica, assaltos, sequestros ou qualquer episódio de agressão em que você se sinta ameaçado.

Como a síndrome do estresse pós-traumático se manifesta?

A reação do paciente envolve três aspectos. O primeiro é o flash back. A pessoa revive a ameaça, como se ela estivesse acontecendo de novo. É o caso de um ex-combatente de guerra que revive a batalha ao ouvir um estrondo qualquer.O segundo é uma reação muito forte do sistema nervoso, que provoca uma descarga de adrenalina e também elevação de batimentos cardíacos, tremores, sensação de desmaio. É como se a pessoa estivesse tendo um ataque de pânico.E o terceiro é o ensimesmamento, a pessoa se retrai socialmente.

● Uma pessoa pode passar poressas situações de ameaça à vida e conseguir não desenvolver asíndrome do estresse pós-traumático?

Pode. A probabilidade de desenvolver a síndrome do estresse pós-traumático é pequena, de apenas uns 5%.O ser humano tem uma capacidade de adaptabilidade darwiniana. Nós somos bichos. É a lei da sobrevivência. O que determina se uma pessoa vai ter ou não a síndromedo estresse pós-traumático é avulnerabilidade pessoal, que pode ser genética ou da própria experiência de vida. O tratamento é terapia e medicação.

● Por que estas professoras desenvolveram a síndrome do estresse pós-traumático?

As condições na escola não são favoráveis. Elas sofrem com um estresse muito grande. Mas o mais comum é desenvolverem o burnout, uma reação de esgotamento agudo. Algumas profissionais são mais sensíveis a isso. São anos de sofrimento.É como o jovem que trabalha no mercado financeiro. Ele vive estressado, mas tem recompensa financeira. Enquanto o professor não tem dinheiro, não tem formas de compensações,como viajar nas férias.O Estado poderia minimizaro sofrimento. Não é só dinheiro que compensa o estresse. Se elas tivessem respeito e reconhecimento da sociedade, se os colégios fossem mais decentes,elas ficariam melhores. Mas vai chegando a um ponto em que fica tudo insuportável. E aí elas adoecem. /

Créditos da entrevista a MÁRCIA VIEIRA

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

“É um escalonamento falso”, diz pesquisadora da UERJ sobre método avaliativo aplicado em creches do Rio de Janeiro

Em entrevista ao Observatório da Educação, a professora, pedagoga e doutora em educação Lígia de Aquino, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), fala sobre o método de avaliação e monitoramento do desenvolvimento infantil Ages and Stages Questionnaries-3 (ASQ-3) que está sendo aplicado pela Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro. Aquino reflete sobre esse instrumento avaliativo e suas possívei implicações para a educação infantil. Leia a seguir a entrevista na íntegra.


Observatório da Educação – Qual a sua opinião sobre o sistema de avaliação ASQ-3 para educação infantil?

Lígia de Aquino -
Esse instrumento, assim como outros, é uma proposta por um sistema de avaliação de larga escala. A princípio e de alguma forma, pretende ver impactos, ou seja, em que medidas determinadas ações podem repercutir positiva ou negativamente [na educação]. Mas um sistema de avaliação, quando trabalha com a ideia de escala, está trabalhando com a ideia de medidas, aferição e estabelecimento de padrões e parâmetros. Trabalha com a lógica de comparação, tanto de criar padrão como de comparar e ranquear. Nesse ponto, vários educadores, cientistas sociais e políticos fazem críticas ao instrumento, por sua lógica de medição para fatores ou fenômenos que são altamente variáveis, imprevisíveis e dinâmicos que é o comportamento humano, a dinâmica coletiva e social.

Observatório - Quais os questionamentos quanto a esse método?

Lígia -
Como medir coisas que não são mensuráveis? Como ranquear ou escalonar aquilo que, por sua vez, não tem como medir? É um escalonamento que podemos dizer que é falso. Aqueles que acreditam nisso, montam uma estratégia e apresentam como se aparentemente tudo fizesse sentido, mas, os números por si mesmos não falam sozinhos. Há um não convencimento de que é possível medir algo que não é mensurável. Você valora e pode dar significado, agora atribuir valor/quantidade é um de nossos questionamentos.

Observatório - A avaliação estabelece padrões únicos avaliativos?

Lígia -
Outra crítica é qual a finalidade de se estabelecer padrões e para que padronizar comportamentos, o que estamos pretendendo? No campo da educação, qual o projeto de formação humana, qual a visão que a gente tem do que vêm a ser o ser humano, os coletivos humanos, a sociedade em que a gente vive? O que a gente pretende? São modelos padronizados para lidar com o diverso, o variável, com o que está fora do previsto. Isso não quer dizer que a gente não possa ter planejamento, mas um que seja aberto e não fechado. Há toda uma tensão de fundo que eu entendo ter um caráter ideológico, mostra a visão de mundo que temos e se é uma visão de um mundo padronizado e controlado ou aberto ao imprevisível, à criação, ao surpreendente e ao improvável.

Observatório – Pode-se afirmar que há uma relação entre a avaliação e o currículo?

Lígia - No campo da educação infantil, uma das coisas que eu discuto é a questão do currículo da educação infantil. Quando você estabelece um instrumento de avaliação, ele aparentemente diz que é um instrumento, mas indiretamente está pautando o currículo. Se ali está dito que a Secretaria, a direção ou alguém irá avaliar e observar determinados comportamentos, conhecimentos, hábitos e aptidões, de certa forma se direciona o que se quer para [a formação] de determinadas pessoas.

Observatório – Fale sobre esse direcionamento.

Lígia -
É um instrumento muito detalhado para larga escala, não é uma coisa de se estabelecer alguns princípios onde cada rede, grupo, instituição vai discutir dentro daqueles princípios o que de fato ela quer observar, como irá observar e em que momento. Nesse sentido, você deixa que emerja de fato a riqueza daquele grupo, as suas possibilidades. Se já se define o que é esperado da criança, se começará a investir que ela faça determinado tipo de coisa porque chegará um momento em que alguém preencherá o questionário e já se começará a treinar a criança, a traçar, olhar somente para algumas questões e a desprezar outras, igualmente ou mais relevantes, para um determinado grupo.

Observatório – Como a avaliação ASQ-3 parece se relacionar com o currículo?

Lígia -
Nesse caso, o currículo está sendo visto como um currículo prescrito, pré-definido e todo mundo terá que fazer igual. Existe uma distinção no campo do currículo, por alguns especialistas da área que vão trazer outra ideia que é ao invés do currículo ser um instrumento para formar pessoas, seria um instrumento para narrar as nossas experiências, o currículo como narrativa. Nesse caso, se tem uma intencionalidade, mas é aberta para aquilo que emerge nas relações dos grupos, das experiências vividas nos grupos e nos contextos que em cada momento vão se colocando, o currículo sendo construindo nas relações com os sujeitos.

Observatório – Pode citar outros exemplos de consequências em se estabelecer um modelo prescrito?

Lígia -
Fazendo um paralelo pode-se pensar como os vestibulares acabam de certa forma dirigindo o que irá acontecer no ensino médio. Se (conhecidas universidades) ou agora o ENEM estabelecem os campos do conhecimento, a maneira de traçar o conhecimento e se é mais analítico ou de memorização, isso indiretamente começa a influenciar os currículos das instituições e das redes porque o sujeito terá que responder mais adiante, àquele instrumento. Isso para pensarmos também na educação infantil, porque quando se estabelece um instrumento único e de larga escala, você começa a dizer que em todos os cantos (do país) as crianças terão que ter aquele comportamento mínimo esperado.

Observatório – E quais são os limites do método avaliativo?

Lígia -
Está se fazendo uma avaliação da criança e não das condições gerais do trabalho. Não se pergunta se existem livros disponíveis na instituição, se a professora diariamente conta história ou se há uma área externa, o que seriam formas de avaliar as condições de trabalho. Quando se tem uma ficha de avaliação para cada criança, se está fazendo uma avaliação de cada criança. Agora, que uso vai ser feito disso, não está muito claro.

Observatório - Quem são os envolvidos na proposição desse método?

Lígia -
Tem um corpo de psicológicos, de uma linha da psicometria, dessa ideia de que é possível medir comportamentos e atitudes, associado a um grupo de economistas. Parece que estamos voltando aos anos 70 com os economicistas todos com esse discurso de que tem que investir no capital humano e na preparação para o trabalho para fazer crescer a economia. Isso associado a um discurso de que é possível escalonar a cultura e o conhecimento. Então, é aquele discurso de que a população mais pobre tem um déficit cognitivo, linguístico e cultural e que, portanto, tem-se que fazer uma educação compensatória. Isso que estamos vendo são programas de novo com essa ideia, de como fazer um treinamento para cobrir aquilo que eles entendem como déficit. Parece uma nova roupagem, chamada agora de neurociência, antes era a psicometria.

Observatório - Quais os interesses aparentes nisso?

Lígia -
A impressão é que é uma tentativa de padronizar os currículos e os comportamentos. A prefeitura do Rio criou cadernos para (dizer) o que as professoras terão que fazer a cada dia em sala com as crianças. As professoras viram tarefeiras, cumprindo tarefas quase como aquele personagem Carlitos, de Charles Chaplin, apertando parafusos numa linha de montagem. Cada dia terá uma tarefa a cumprir, cumpriu ou não, passe adiante. Além disso, a padronização vem associada com ações, com produtos que são modelos de educação de pacote fechado que contém planejamento, currículo e material. São esses sistemas privados que têm sido vendidos tanto para a rede privada como para a rede pública, são pacotes fechados. De certa forma, quando se faz essas avaliações, se ajuda a definir certo padrão para alguém chegar, criar e vender um pacote fechado.

Observatório – E como os profissionais em educação infantil do Rio de Janeiro receberam a política?

Lígia -
Há quase que uma situação de espanto. Eu percebo que o professorado por um lado é parte reativa, mas que não sente muito espaço e condição para reagir. O sistema está muito bem montado, existe uma forma de controle muito intensa e uma vigilância permanente. Se as coisas não caminham direito, corre-se o risco de perder a função e há uma grande relação de insegurança entre os professores.


Fonte:
Observatório da Educação.

EXPEDIENTE
Coordenação editorial:
Denise Carreira
Redação: Lia Segre e Vanessa Ramos
Edição: Fernanda Campagnucci

“Estão deixando a pesquisa de educação de lado”, afirma professora da USP sobre proposta de avaliação em creches

Maria Letícia Nascimento é professora doutora da Faculdade de Educação da USP e pesquisadora na área da sociologia da infância e da educação infantil. Participa do Fórum Paulista de Educação Infantil e da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd).

Por essa última faz parte de Grupo de Trabalho (GT) nº7, que emitiu moção de repúdio à adoção de políticas públicas em âmbito nacional, estadual e municipal de avaliação em larga escala do desempenho da criança de zero até 6 anos de idade. Leia a seguir a entrevista que concedeu ao Observatório.

Observatório da Educação - Existem problemas na avaliação para crianças que está sendo proposta?

Maria Letícia Nascimento -
Há muitos anos, na década de 50 e 70, dentro e fora do Brasil, havia uma proposta cuja síntese era a educação compensatória, mas era uma educação que se pautava pela ideia de “criança universal”. Que acreditava que todas as crianças são exatamente iguais do ponto de vista do desenvolvimento.
Se uma criança faz uma coisa em um momento, todas farão. E essa criança universal era fruto de pesquisas científicas, à medida que essa pesquisa tirava o contexto, a imagem da criança universal era generalizada, e se aplicava a todas as crianças.

Inventava-se material, formação, uma série de coisas, de maneira que todas as crianças correspondessem à idealização. Pesquisas posteriores perceberam que a ideia de criança universal não existe, você pode ter indicativos do que as crianças são capazes de fazer do ponto de vista físico, linguagem, mas nem todas passam pelas mesmas coisas ao mesmo tempo. Esse material que chegou quer exatamente avaliar crianças a partir de indicadores restritos, repetidos. Isso que já tinha sido deixado de lado.

Esse material não pode ser usado na educação. A gente não é professor para medir se ela [criança] já é capaz de fazer uma coisa ou outra, mas para promover situações em que elas possam brincar, interagir e ter acesso ao mundo cultural dos adultos, para que elas produzam sua própria cultura.

Não é neurociência que entende a criança pequena. Nós da educação temos condição de entender a criança em contexto de educação. Estão deixando a pesquisa de educação de lado. Estão vendo crianças como objetos. Você lubrifica aqui, troca o óleo e as crianças vão funcionar durante muito tempo. Elas estão virando objetos de novo, deixaram de ser sujeitos.

Observatório – Se é retrógrado, por que ressurge nesse momento?

Maria Letícia –
Se imagina que esse tipo de situação seja uma saída para países desiguais como o nosso, porque vai trabalhar desse jeito com crianças pobres, é investimento. Os economistas compraram a ideia. Apostam que o grande investimento no país é investir na primeira infância. Acho que estão corretos teoricamente, mas para eles isso é conseguir controlar criança dentro de uma perspectiva de desenvolvimento igual.

Outro dia recebi propaganda de livro chamado “Como Investir na Primeira Infância” (Singular, 2011, 308 páginas), escrito por economistas. É um investimento, os economistas compraram a ideia da neurociência. É possível ganhar dinheiro com isso. É uma situação que nos deixa atônitos.

Ninguém imaginou que viria agora com essa força, e ninguém está preocupado com uma pesquisa que tem sido feita sobre crianças pequenas a não ser na área da neuropsicologia cognitiva e na economia. São as três áreas unidas para propor controle do desenvolvimento das crianças.

Crianças serão avaliadas [com referência a] essa criança idealizada. Se a criança é prematura, você tem que descontar dois meses. São 7 meses, mais 15 dias... É algo funcional. Crianças que convivem juntas, ou que eu e você aprendemos não é considerado, é considerada a idade delas. Pode ser interessante isso pensar em investimento, o povo da saúde que gosta de controlar. Dentição etc., controla as coisas todas, mas para educação isso não tem o menor sentido.

Temos instrumento construído pelos pedagogos, especialistas da área, para avaliação, auto-avaliação, os Indicadores de Qualidade na Educação Infantil. Onde se avalia contexto, não se avalia crianças. O que a gente tem que avaliar são contextos em que as crianças podem interagir e tudo isso. Nem todas as crianças se desenvolvem do mesmo jeito.

Tem um sociólogo dinamarquês de que gosto muito, Jens Qvortrup. Ele diz que costumam achar que crianças são máquinas, onde você coloca coisas e elas saem do jeito que você programou. Tem “input” e “output”, mas isso é ilusório, porque, como ele diz, as progressões gostam de entender crianças como máquinas triviais. Se fossem, o mundo não teria evoluído, teria parado no que se ensina na escola. Esse tipo de procedimento reduz as potencialidades das crianças, a quem controlam com tanto critério, que acabam perdendo de vista as crianças reais.

Observatório – Algum tipo de avaliação para a educação infantil é necessária?

Maria:
A educação infantil nunca teve avaliação como tema, porque a área ficou traumatizada por conta da avaliação de crianças feitas na década de 70. As pessoas ficaram receosas de trabalhar com esse tema.

Mas três ou quatro anos atrás, o MEC chamou um grupo de especialistas para montar indicadores de qualidade para educação infantil, que constituiu um livro que traz diferentes dimensões do que deve ser avaliado. É uma auto-avaliação e não é obrigatória, foi distribuída pelo Brasil inteiro. Existe intenção, sim, do MEC, em mudar essa política de avaliação da educação infantil. Avaliação, mas não das crianças, da educação.

Fonte: Observatório da Educação.

EXPEDIENTE
Coordenação editorial:
Denise Carreira
Redação: Lia Segre e Vanessa Ramos
Edição: Fernanda Campagnucci

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

O Dia do Saci

No final de outubro, muitas escolas comemoram o “Halloween”. Muitos pedagogos, no entanto, tentam lutar contra essa cultura e propõe que, no Brasil, as escolas comemorem o Dia do Saci e, com isso, trabalhem o folclore nacional.

No Portal do professor, existe uma coleção de aulas sobre o folclore brasileiro. Uma dessas aulas é sobre o Saci. Ao acessar essa aula, o professor pode acessar e baixar uma sonora de uns cinco minutos, mais ou menos, bastante didática, sobre o saci, que está inserida no contexto da aula preparada sobre o tema.

Também existem diversos vídeos que podem auxiliar nesta árdua tarefa de tentar ensinar o folclore nacional, frente à imposição cultural vinda de países ao norte da linha do Equador. Seguem abaixo alguns destes vídeos.


O Saci pererê


Iara - Juro que vi


Boitatá


O Boto - Juro que vi


O Lobisomem e o Coronel


O Curupira

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Loucura Sagrada

O Caio Andrade (também no twitter) postou o texto abaixo (de Dom Helder Câmara) no blog “Uma liberdade virtual”. Vale à pena não apenas ler o pequeno texto em tamanho, mas grande em conteúdo, como também acompanhar o blog.

"Sonhei que o Papa enlouquecia
E ele mesmo ateava fogo ao Vaticano
E à Basílica de São Pedro.
Loucura sagrada!
Porque Deus atiçava o fogo que os
Bombeiros, em vão, tentavam extinguir.
O Papa, louco, saia pelas ruas de Roma
Dizendo adeus aos embaixadores
Credenciados junto a ele
Jogando a Tiara ao tibre.
Espalhando pelos pobres, todos,
O dinheiro do banco do Vaticano.
Que vergonha para os cristãos!
Para que um Papa viva o Evangelho
Temos que imaginá-lo em plena loucura"

Educação no Brasil - Brasilianas.org (03/10/2011)

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Reprovação, necessária para uns e um mal a ser evitado para outros

Autônomas, escolas decidem qual o limite da repetência, e educadores se dividem sobre benefícios

Adauri Antunes Barbosa e Carolina Benevides - O GLOBO

RIO e SÃO PAULO. Aos 17 anos, Pedro Medeiros, aluno do 9º ano do ensino fundamental, acaba de conquistar a medalha de ouro na olimpíada brasileira de matemática. Mas, antes de fazer 123,5 pontos dos 150 que a prova Canguru Matemático sem Fronteiras permite, Pedro foi reprovado duas vezes. Aluno do Colégio Cruzeiro - que este ano, ocupou a 7ª posição no ranking nacional do Enem e a 2ª no ranking do estado do Rio -, ele repetiu o 6º e o 8º anos. No Brasil, segundo dados do Ministério da Educação (MEC), 10,3% dos alunos do ensino fundamental foram reprovados em 2010. No ensino médio, o índice foi de 12,5%.

- Jamais gostei de estudar. Em 2006, no 6º ano, eu ia mal, não entendia nada de matemática, meu pai morreu, e aí fui reprovado. No 8º ano, eu continuava sem entender nada de matemática. Repeti e conheci o professor Jorge (Gomes Santos), que me fez aprender e gostar da disciplina - diz Pedro, afirmando que as reprovações se tornaram um ponto positivo de sua vida. - No começo, foi ruim; eu chorei dois dias seguidos, depois, não aceitava a turma. Quando repeti o 8º ano, passei uns dias achando que era pegadinha! Mas amadureci, vi que tinha que me esforçar.

Jorge Gomes Santos, professor de matemática do 8º ano, concorda:

- Muitas vezes a reprovação vira crescimento. E os pais precisam entender que às vezes ela é necessária.

Assunto polêmico, a reprovação divide educadores. Para uns, "uma educação de verdade nem cogita reprovar". Outros acreditam que a medida é necessária em alguns casos. Autônomos, os colégios particulares de ponta - aqueles que ocupam as melhores colocações no Enem - lidam com o tema de acordo com seus projetos pedagógicos. Há os que sugiram que o aluno se retire, os que só permitem que a matrícula seja feita se houver vaga sobrando, os que aceitam que o estudante fique reprovado uma vez ao longo da trajetória acadêmica, e ainda os que trabalham com dependência, quando o aluno passa para a série seguinte e tem que fazer uma ou duas disciplinas da série anterior.

Nas escolas públicas, por sua vez, cada município e cada estado decidem o método que vão seguir. E o Conselho Nacional de Educação (CNE) recomenda que, em todas as escolas do país, nenhum aluno dos três primeiros anos do ensino fundamental seja reprovado.

- O Brasil tem um índice alto de reprovação e isso é um fracasso, porque a reprovação é ruim em todos os momentos. O aluno que repete, por exemplo, por conta de uma disciplina, fica desestimulado, acha o ensino tedioso, torna-se aborrecido. Além de passar por um descompasso na relação social, por conta da defasagem idade-série, o que impacta na aprendizagem - diz Maria Pilar Lacerda, secretária de Educação Básica do MEC.

"Reprovar no ensino fundamental não tem sentido"
Professor da Faculdade de Educação da USP, Vitor Henrique Paro diz que "na nossa cultura, por desconhecimento, por ignorância, a reprovação se tornou parte da educação":

- O senso comum acredita que, se não tiver reprovação, o aluno não estuda. Parte do pressuposto que fazer estudar é reprovar. Então, a criança não vai à escola para aprender, mas para passar de ano. Para mim, reprovar no ensino fundamental não tem o menor sentido.

Não é no que acreditam Isabel Rodrigues Monteiro, coordenadora de segmento do 6º ao 9ª ano, e Denize Peterson, orientadora educacional, do Cruzeiro.

- Acompanhamos aluno por aluno. Conversamos com os que têm dificuldade, sabemos se passam por um momento difícil, chamamos a família, orientamos, oferecemos aulas extras. Mas nem sempre é possível resgatar o aluno e evitar a reprovação. Então, quando acontece, tomamos cuidado para que ele não se sinta menosprezado, buscamos mostrar no que ele se destacou e o acolhemos na volta às aulas. Por conta disso, a gente diz que, para ser positiva ou negativa, a reprovação depende de como é tratada pela escola - diz Isabel, lembrando que os alunos do Cruzeiro são jubilados se repetirem duas vezes a mesma série.

Uma das dez primeiras escolas no ranking nacional do Enem, o Vértice só permite que o aluno seja reprovado uma vez. Quem repete duas vezes não pode renovar a matrícula.

- Ninguém fica feliz quando é reprovado. Mas aí uma tia chama para contar que repetiu, mais gente da família vem conversar. Aí, a gente vê que repetir não é o fim do mundo, e consegue se recuperar - diz Bruna Akinaga Moreira, de 16 anos, aluna do Vértice, reprovada no ano passado, no 1º ano do ensino médio.

- Se a retenção puder ser evitada, é melhor. Mas às vezes é inevitável. Quando percebemos o rendimento baixo, conversamos com a família. Se ela acha que a reprovação vai diminuir a estima do aluno, a gente sugere que ele seja transferido para outra instituição. Outras vezes, sugerimos a mudança porque o aluno não tem perfil para continuar na escola - diz Adilson Garcia, um dos diretores.

No Colégio Santo Inácio, do Rio, basta repetir uma vez para não ter a vaga garantida no ano seguinte. Por meio da assessoria de imprensa, a escola explica que o conselho de professores decide quem permanecerá. São analisados, além das notas, se o aluno passou por algum problema e se está integrado ao perfil da escola. No Santo Agostinho, também do Rio, e 3º lugar no ranking estadual do Enem, quem repete também não tem a vaga garantida. Mas, neste caso, só fica na escola se todos os reprovados daquela série tiverem vaga no próximo ano. A reportagem procurou o São Bento, 1º lugar no ranking nacional do Enem, mas a coordenadora estava viajando.

Também no Rio, o Colégio Zaccaria não reprova, a partir do 6º do ensino fundamental, se o aluno só não tiver conseguido média em uma disciplina. A dependência permite que ele avance e curse, ao mesmo tempo, a matéria do ano anterior.

- A gente luta para não reprovar, conversa com as famílias, oferece aula extra. Mas, muitas vezes, os adolescentes não estudam porque não querem, e nesse caso a reprovação é válida - diz Angela Maria dos Santos, da coordenação geral do Zaccaria.

Para Helena Sandes, coordenadora do Mopi Tijuca, o fundamental é que as escolas analisem caso a caso, com atenção:

- A reprovação não se dá no último bimestre, e é necessário que a escola trabalhe a relação de causa e efeito. Então, quando o aluno se mostra desinteressado, não estuda e conta com a sorte, a reprovação é necessária. Por outro lado, se o estudante está com algum problema de saúde, se houve uma morte na família e o rendimento cai, a reprovação não é indicada. É preciso ter critério.

O senso comum acredita que, se não tiver reprovação, o aluno não estuda. Parte do pressuposto que fazer estudar é reprovar. Então, a criança não vai à escola para aprender, mas para passar de ano"
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Vitor Henrique Paro, professor da Faculdade de Educação da USP
"Se a retenção puder ser evitada, é melhor. Mas, às vezes, a reprovação é inevitável"

Adilson Garcia, um dos diretores do Colégio Vértice

Portal do Professor

Uma dica do professor Adilson Ferreira, de Mauá.

Lançado em 2008 a partir de uma parceria entre o Ministério da Educação e do Ministério da Ciência e Tecnologia, o Portal do Professor tem como objetivo apoiar os processos de formação dos professores brasileiros e enriquecer a sua prática pedagógica. É um espaço público e pode ser acessado por todos os interessados.
Espaço da aula, jornal do professor, conteúdo multimídia, cursos e materiais e interação e colaboração são algumas das informações disponíveis no site que podem ajudar muito o dia a dia na sala de aula. Veja por exemplo a sequencia didática sobre “Como o desenvolvimento da linguagem oral pode auxiliar na construção da autonomia das crianças e no processo de alfabetização”.

Relatório da Comissão Especial que analisa novo plano de educação deve ser apresentado na próxima semana

Relator recebeu as últimas contribuições em São Paulo em seminário na FEUSP e reafirmou disposição do governo em aprovar 7% do PIB

O deputado federal e relator do Plano Nacional de Educação (PNE), Ângelo Vanhoni (PT-PR), participou do Seminário sobre o PNE, organizado pela Comissão Especial do PNE, na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP) no início da semana, 17/10. A previsão é que o relatório seja apresentado na quarta-feira, 26.

Os debatedores apresentaram questionamentos sobre as metas de financiamento e de qualidade da educação contidas no projeto. Para o professor Otaviano Helene, do Instituto de Física da USP e da Associação dos Docentes da USP (Adusp), o Brasil está entre os “três ou quatro países sul-americanos com piores indicadores de alfabetização de jovens e conclusão do ensino superior”.

Entre os problemas atuais apresentados por Helene e outros participantes pode-se ressaltar a baixa remuneração dos/as professores/as, a ausência de licenciados/as dentro das salas de aula, a alta evasão e a baixa procura pelos cursos de licenciatura e o considerável índice de evasão no ensino fundamental (30%) e médio (50%).

Para o relator, a educação do país precisa passar por um “longo processo de melhorias”. “O Brasil tem uma dívida do ponto de vista da qualidade da educação ofertada ao seu povo”, falou Vanhoni.

10% do PIB para educação
As entidades, sindicatos, movimentos, estudantes e professores presentes afirmaram que é preciso repensar os recursos que serão destinados para a educação no Brasil, redefinindo as prioridades governamentais. Nesse sentido, Vanhoni explicitou que por se tratar de um plano de metas – e não apenas de diagnóstico ou de conceituações de problemas –, é realmente necessário definir referenciais quanto ao investimento. No entanto, o relator deixou claro que “o referencial econômico mandado pelo governo é de que o Brasil alcance, na próxima década, o investimento na ordem de 7% [do PIB]”.

O deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) afirmou que há mais de dez anos a discussão de 10% do PIB para a educação está em pauta. Para ele, apenas se conseguirá fazer um Plano de Educação que atenda às necessidades e promova a qualidade da educação no Brasil, se for dado um salto de qualidade também no financiamento.

O relator reconheceu que “na opinião dos deputados e entidades, tendo como base as emendas, para que a gente atinja um padrão de qualidade desejável e uma expansão que dê conta de uma necessidade da maior parte da população em idade escolar, os 7% não são suficientes para que atinjamos essa meta”.

Para Helene, é preciso definir 10% do PIB para a educação neste PNE. “Todos os países que têm ou tinham atrasos escolares equivalentes aos nossos e que estão superando ou superaram seus atrasos educacionais, aplicaram valores dessa ordem ou mesmo superiores”, apontou.

A professora e diretora da FEUSP, Lisete Arelaro, reforçou que sem recursos suficientes não há educação de qualidade. “Se não houver a disposição que esse gasto seja feito, é muito difícil dizer que vamos recuperar o tempo perdido na história da educação”.

Público X Privado
No decorrer do seminário, Vanhoni afirmou que o PNE deve garantir o acesso à educação a todos/as os/as brasileiros/as em idade escolar, mas que para isso as escolas precisam “ter condições mínimas de infraestrutura, acesso, padrão de desenvolvimento educacional, biblioteca, capacidade esportiva, desenvolvimento físico e assim por diante”.

O professor da Faculdade de Educação da Unicamp, Luiz Carlos de Freitas, ressaltou o risco de se direcionar a ampliação de recursos para a iniciativa privada. Para ele, a garantia desses insumos é importante, mas não se deve transferir a gestão para a iniciativa privada. “Há uma frente de privatização que começa a aparecer em vários estados, principalmente em Pernambuco e em São Paulo”, disse.

Para a professora Arelaro, a privatização tem avançado da educação infantil à pós-graduação lato e stricto sensu. Além disso, “o PNE dá razoáveis condições de crescimento ao poder privado”, ressaltou.

Freitas chamou a atenção para a falta de evidências empíricas de que o movimento dos empresários tenha melhorado a educação em países como os Estados Unidos e o Chile. Sobre o tema, a professora Lighia Horodynsky-Matsushigue, do Instituto de Física da USP, questionou: “por que a juventude chilena luta há meses contra o sistema público-privado em sua educação, que era para ser o modelo universal, segundo a receita do Banco Mundial?”. Para ela é “pelo simples fato de essa receita aplicada nas últimas décadas no Chile ter se mostrado socialmente injusta e promotora de mais desigualdade social”, disse.

Nesse sentido, “é preciso um Sistema Nacional de Educação que possa legislar sobre o avanço da mercantilização da educação e do ensino privado no Brasil”, sugeriu Arelaro.

Tramitação
Quase três mil emendas foram apresentadas à Comissão Especial que analisa o PL 8035/10 na Câmara dos Deputados. Depois da entrega do relatório, os deputados têm o prazo de cinco sessões da Casa para apresentar novas emendas. Após a votação, o projeto do novo PNE seguirá para o Senado.
Fonte: Observatório da Educação (por Vanessa Ramos)

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Calle 13 - Latinoamérica

A Van Ramos postou o vídeo abaixo em seu facebook. Adorei. Nos faz refletir sobre nossa atuação frente à degradação do meio ambiente e sobre os "mandos" e "desmandos" do capitalismo. Valeu Vanessa! Vejam e tomem suas próprias conclusões.


Grump e o acordo ortográfico

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Quem precisa de remédio?


Transtornos como hiperatividade e dislexia estão no centro de uma polêmica que divide especialistas. Para alguns, a banalização dos diagnósticos e da medicalização ajuda indústria farmacêutica e esconde má qualidade do ensino.

Apenas por essa chamada, pode-se ver que a reportagem de capa da Revista do Brasil deste mês é imperdível. Todos aqueles que se interessam pela educação não podem deixar de ler. Acessem a versão on line.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Consciência Negra


Paulo Flores *

No dia 20 de novembro, a Paróquia Santuário São Judas Tadeu realizará, às 14h30, uma missa inculturada em comemoração ao Dia da Consciência Negra. Todos estão convidados.

Sobre consciência, a Bíblia nos ensina que é a compreensão que o povo tem da realidade, tendo como base o projeto de Deus. A consciência nos dá a capacidade de enxergar a ideologia da classe dominante. Com consciência, alcançamos o discernimento para trabalhar por uma sociedade fundada na justiça e na fraternidade, pontos fundamentais do Projeto de Deus. O Deus que se uniu ao povo marginalizado e explorado para promover a liberdade e a vida, em plenitude, para todos.

Mas, para que Deus promova liberdade e vida para todos, o povo precisa reconhecer que Ele está vivo no meio de nós, está vivo em nossos irmãos, e promover relações de partilha e fraternidade.

Infelizmente nossa sociedade está alicerçada na riqueza e no poder, conquistados graças à escravidão e a morte do Povo de Deus, entre eles os negros. Até hoje, muitas pessoas são exploradas para que poucas tenham luxo e desperdicem o que a maioria construiu com o suor de seu trabalho.

Que bom seria se, como diz Eclesiastes, todos pudessem desfrutar do fruto do suor de seu próprio trabalho. Mas, nem todos podem entrar no edifício que ajudou a construir. São privados daquilo que Deus nos deu: o direito de usufruir daquilo que produzimos.

Mais do que nos tirar a liberdade e os direitos, a sociedade na qual vivemos classifica as pessoas como boas ou ruins de acordo com o que cada um possui. Neste mundo capitalista, é melhor quem possui mais, quem consome mais.

Mas, esse sistema econômico, que nos é imposto como se fosse a única alternativa de organização do mercado, faz ainda pior. Classifica as pessoas de acordo com a cor de sua pele, com sua religião, de acordo com sua origem... Com isso, “nos força” a disputar espaço e status com outras pessoas que, como nós, são exploradas por esse mesmo sistema. Nos separa, nos fragmenta para que não tenhamos forças para nos unir e exigir as mudanças necessárias para que a sociedade seja aquela que Deus quer, fundada na justiça e na fraternidade e que leva todo o povo à liberdade e à vida em plenitude.

Que neste dia 20 de novembro, quando comemoramos 40 anos de lutas e festividades pela Consciência Negra, todos os povos, de todas as raças, de todas as cores e de todos os credos, se inspirem em Zumbi dos Palmares e se unam para lutar pela liberdade não apenas de alguns, mas de todos.

E que Deus esteja sempre conosco! Axé! Assim seja!

* Jornalista, participa da Comunidade Cristo Rei, membro do Núcleo de Coordenação das Comunidades da Paróquia Santuário São Judas Tadeu e da Equipe de Teologia e Formação do Conselho de Leigos da Arquidiocese de São Paulo.