domingo, 27 de maio de 2012

PL tenta inserir sistema de cotas em universidades públicas de SP

Apesar de determinação do STF, Fatecs, Unicamp e USP já declararam que seguirão sem adotar a política em suas vagas

O Projeto de Lei (PL) 321/2012, de autoria do deputado estadual Luiz Claudio Marcolino (PT/SP), que estabelece o sistema de reservas de vagas para negros, pessoas com deficiência e indígenas grupos nas universidades e nas faculdades de tecnologia públicas do estado de São Paulo, deverá esbarrar na resistência das próprias instituições.

Em audiência pública na Assembleia Legislativa paulista, na última terça-feira (22), representantes das universidades de São Paulo (USP), Estadual de Campinas (Unicamp) e Estadual Paulista (Unesp) reafirmaram que não pretendem implantar a política de cotas.

Segundo Marcolino, a insistência está relacionada a uma postura conservadora na gestão desses espaços. “A USP, a Unicamp e a Unesp seguem uma lógica da meritocracia. Essa postura traz uma desigualdade que foi inserida pelo estado, numa gestão feita a favor de poucas pessoas”, disse.

Em seu artigo 1º, o projeto de Lei foi “adotado com a finalidade de promover a igualdade substancial, a diversidade étnico-racial e a democratização do acesso ao ensino superior”.  Ele propõe que as instituições estaduais de ensino superior tenham 15% de suas vagas reservadas para afrodescendentes e indígenas, outros 15% destinados a estudantes oriundos da rede pública de ensino e 5% para pessoas com deficiência.

O PL 321/12, enviado no último 16, seguirá para a avaliação nas comissões da Alesp.  Conforme o relator, ele pretende estabelecer uma medida concreta para a implementação da política em São Paulo, a partir do que foi estabelecido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), no último 26 de abril, que decidiu pela constitucionalidade de reserva de vagas, com base no sistema de cotas raciais, nas universidades públicas.

“Estamos confiantes na aprovação desse projeto porque acreditamos que é uma questão que transcende a relação partidária e vai para um entendimento sobre a sociedade que a gente quer. Por isso, pensamos que o número de votos favoráveis dentro da Casa deve ser amplo”, afirmou  Luiz Claudio Marcolino.

A expectativa é que as instituições de ensino organizem seus processos seletivos considerando o sistema de reserva de vagas já a partir de 2013.

por: Vanessa Ramos
Rede Brasil Atual 

Vídeo Polêmico: Ken Robinson: Escolas matam a criatividade? (parte 2/2)

Vídeo Polêmico para reflexão:Ken Robinson: Escolas matam a criatividade?- 1

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Currículo e transição dificultam 1º ano do ensino médio

Alto índice de retenção é atribuído à dificuldade de adaptação a conteúdo mais extenso e à mudança de comportamento nessa fase da adolescência

O estudante João Pedro Borges Santos tem 15 anos e nunca teve grandes dificuldades na escola. Mas a chegada ao ensino médio cobrou-lhe uma atenção redobrada para manter o desempenho. "É bem diferente, na questão de avaliações, da cobrança." A colega Talita Novaes Moura, de 15 anos, tem sentido a mudança (e sofrido com ela). "Nunca fui de tirar dúvidas na sala, por timidez, e agora está ficando difícil acompanhar."

Os dois são alunos do 1.º ano do ensino médio, considerado o "vilão" para os estudantes. Em várias das grandes escolas particulares, como o Colégio Santa Maria, na zona sul de São Paulo - onde ambos estudam -, o índice de retenção é bastante superior aos demais anos dessa fase.

Segundo diretores e coordenadores, a explicação não é só o currículo, mas também se relaciona com mudança de comportamento dos jovens por conta da idade e da transição para uma nova fase. "No ano passado, olhava para o pessoal do ensino médio e todo mundo tinha um jeito diferente, mais unido, falando em festas, em uma nova fase", diz Talita.

No Santa Maria, por exemplo, o índice de retenção em 2011 chegou a 10% dos alunos. Para a coordenadora dessa série no colégio, Roberta Edo, a repetência não pode ser vista como atraso. "Refazer é positivo, porque a função da escola é estruturar. Se tivesse passado, não iria acompanhar o próximo período", diz ela. "As mudanças curriculares coincidem com uma mudança interna, eles querem ter liberdade e autonomia."

A estudante Laís, de 16 anos, vive isso. Está fazendo o 1.º ano pela segunda vez, depois de ter sido retida em 2011. "A gente acha que é mais independente. E não acompanhei, não me adaptei e comecei a ir mal em matéria que sempre gostei. Só depois que repeti percebi as mudanças, que preciso estudar todo dia, tirar as dúvidas", diz ela, que não quis dizer o sobrenome.

Aulas. Para Alex Tabuada, de 17 anos e aluno do Mater Dei, que também repetiu o 1.º ano, a dificuldade maior foi acompanhar as disciplinas - apesar de ter sobrenome de conteúdo matemático. "Temos muito mais matérias e, ano passado, não estudei no começo. Depois virou uma bola de neve", diz ele.

No Mater Dei, o número de retenções também cresce na entrada para o ensino médio - é quase o dobro do registrado no 2.º ano -, assim como o de alunos que trocam de escola na reta final para evitar perder o ano. "É uma grande transição. A carga horária a partir do primeiro ano do ensino médio é maior. As exatas são a grande dificuldade", diz a coordenadora, Regina Ratto. Na escola dela, o ensino médio possui nove aulas a mais que o último ano do fundamental.

Os alunos do ensino médio encontram uma mudança considerável na grade de aulas. Química, Física e Biologia ganham especificidades, além de novos conceitos em Língua Portuguesa e Literatura. E a luz vermelha do vestibular começa a aparecer.

"Normalmente, o ensino médio tem ritmo mais puxado, porque a gente tenta fazer tudo em 2 anos e meio para que haja uma espécie de cursinho nos últimos seis meses", explica a coordenadora pedagógica do Colégio Sidarta, Anna Karina Da Col. Segundo ela, é importante que a transição seja realizada de modo gradual. "Temos que envolver a família, não da para esperar o boletim", completa.

No Sidarta, o nível de retenção no 1.º ano é evitado com algumas ações, como uma recuperação paralela, um conselho no meio do trimestre para analisar casos específicos, além da aproximação dos professores do ensino médio com as séries do fundamental.

Apesar das preocupações da escola, Melanie Ho, de 14 anos, notou uma mudança. "A sala toda sentiu uma diferença em relação ao aprendizado. A responsabilidade tem de ser maior, já sabemos que precisamos de mais foco", disse.


Novo estágio cobra maturidade que muitos não têm
A cultura do ensino no Brasil convive com degraus de passagens de níveis. O ensino fundamental é mais protetor com os estudantes e o médio já espera uma maturidade maior, que eles nem sempre têm. Isso geralmente contribui para as dificuldades na entrada dessa fase.

A geração atual de adolescentes é muito mais culta no geral do que a de décadas passadas. Mas também bem mais imatura, talvez como consequência do nosso modelo social. É um paradoxo: por um lado, são jovens extremamente cultos, que discutem de igual para igual com adultos em vários assuntos, e, por outro, têm necessidade de um guia. Algo que o ensino médio nem sempre oferece.

São jovens acostumados a serem mais protegidos e que se assustam muito com a mudança estrutural de um nível para outro. Na sala de aula, tornam-se mais inquietos, brincalhões e desatentos. E ainda se acham mais independentes do que a idade permite, com a pretensão de saber todas as questões.

Há muitos estudantes nessa fase que são excelentes, mas acabam tendo dificuldades em contato com sistemas de ensino mais tradicionais. Muitas vezes, necessitam do cuidado que somente escolas mais intimistas podem proporcionar.

Às vezes, a retenção amadurece o jovem e contribui para que ele possa acompanhar melhor a escola. Contribui para que a subida do degrau seja mais suave. No entanto, depende muito de como os pais e as famílias encaram esse momento e manejam a situação. A formação passa pela família e é importante que o adolescente perceba o respeito mútuo e a seriedade que precisa assumir.

Fontes:

domingo, 13 de maio de 2012

Apenas 11% dos alunos sabem matemática ao fim do ensino médio, mostra anuário

Brasília – O Anuário Brasileiro da Educação Básica-2012 mostra que o nível de aprendizagem entre estudantes brasileiros ainda é muito baixo, especialmente de matemática. Em 2009, apenas 11% dos alunos brasileiros mostram proficiência esperada na disciplina ao chegar ao 3º ano do ensino médio.

O lançamento do anuário foi realizado nesta quarta-feira (9) na Comissão de Educação e Cultura da Câmara. Formulado pelo movimento Todos Pela Educação – que congrega sociedade civil organizada, educadores e gestores públicos em torno do direito à educação básica de qualidade –, o anuário é um panorama do setor, com compilação de análises e dos dados oficiais mais recentes.

De acordo com o Todos pela Educação, para que a educação do Brasil atinja o patamar dos países desenvolvidos até 2022, a meta é que 70% ou mais dos alunos tenham aprendido o que é adequado para a sua série em cada disciplina.

“Mesmo nos estados mais ricos e com investimento maior em educação, o nível de aprendizagem dos estudantes brasileiros é baixo, principalmente no ensino médio e especialmente em matemática”, aponta a diretora-executiva do Todos Pela Educação, Priscilla Cruz. No Sudeste, por exemplo, apenas 13,7% dos alunos alcançam desempenho adequado em matemática ao fim do 3º ano do ensino médio. Na Região Norte, esse percentual é de apenas 4,9% dos alunos.

Para ela, é importante que o País tenha um projeto claro que impulsione o aprendizado da disciplina. “A matemática é fundamental para se ter uma população preparada para o século XXI”, diz Priscilla. Ela destaca que o poder de compra da sociedade brasileira está crescendo, inclusive na classe D e E. “Estamos formando uma classe consumidora que não sabe fazer conta”, observa.
Mais jovens formados

A diretora do Todos pela Educação destaca, como positivo, o dado de que mais jovens têm se formado no ensino médio. Em 2009, o percentual de jovens de 19 anos que concluíram o ensino médio era de 50,9%; em 2003, esse percentual era de apenas 43,1%. “Mas o ritmo ainda é lento”, afirma Priscilla. “Estamos conseguindo avançar, mas não da forma que o País precisa e que os jovens precisam para atuar de forma cidadã e consciente”.

Essa também é a visão do senador Cristovam Buarque (PDT-DF). Segundo ele, o anuário mostra que o Brasil está melhorando no setor de educação, mas não está melhorando em velocidade suficiente para enfrentar “as exigências educacionais do mundo moderno”.

Outro dado relevante contido no anuário é a desigualdade educacional no Brasil. “Essa desigualdade educacional é berço da desigualdade socioeconômica do País, que é muito naturalizada, infelizmente”, ressalta Priscilla. “O brasileiro acha natural oportunidades diferentes entre classes sociais diferentes, regiões, raças, idades – e isso tem que ser desnaturalizado.”

Um exemplo dessa desigualdade é o próprio percentual de jovens de 19 anos que concluíram o ensino médio. Se na região Norte essa taxa era de 39,1% em 2009, na Região Sudeste o percentual era de 60,5%.

Para o secretário nacional de Educação Básica, Cesar Callegari, o anuário é uma fotografia da educação brasileira, que mostra evoluções, mas também “o enorme caminho a ser percorrido para se chegar à educação de qualidade para todos no País”. Callegari elogiou o movimento organizado da sociedade, que está ajudando a formar um pacto social pela educação de qualidade. Segundo ele, a base desse pacto é o Plano Nacional de Educação (PNE - PL 8035/10 ). “O plano precisa ser votado; não podemos deixar que a discussão do plano fique reduzida ao financiamento da educação”, disse.
Royalties para educação

Na Comissão Especial do PNE, a votação tem sido atrasada pela polêmica em torno do percentual do Produto Interno Bruto (PIB) a ser investido na educação. Hoje, a União, os Estados e os municípios investem juntos o valor de 5% do PIB no setor. No texto original do PNE, o governo sugeria 7%. Já o relatório do deputado Angelo Vanhoni (PT-PR) prevê 8% de investimentos totais em educação; enquanto entidades da sociedade civil e outros deputados pedem investimento de, pelo menos, 10% do PIB em até dez anos.

De acordo com o secretário de Educação Básica, a porcentagem deve ser resolvida pelo Congresso Nacional. “Mas temos que ter a consciência de quanto o Brasil dispõe”, opinou. “Há muitas outras formas de avançar, melhorando a eficácia e eficiências dos recursos que temos hoje, e o PNE aponta várias dessas direções”, completou.

Conforme o presidente da Comissão de Educação, deputado Newton Lima (PT-SP), é primordial discutir de onde virão os recursos para investimentos na educação – “seja esse investimento de 8%, 9% ou 10% do PIB”. O deputado defende que 50% dos royalties do petróleo sejam destinados para as áreas de educação, ciência e tecnologia. A iniciativa já foi acatada pelo deputado Carlos Zarattini (PT-SP), relator do projeto sobre as novas regras de distribuição dos royalties do petróleo. Lima pediu mobilização da sociedade civil para que os deputados aprovem a proposta.

Por: Lara Haje, da Agência Câmara

Fechamento de creche transtorna famílias na Parada Inglesa, em São Paulo*


São Paulo – No dia 31 de maio, o bairro Parada Inglesa, na zona norte da capital paulista, vai perder sua única creche. Nesta data, o convênio de 13 anos entre a prefeitura de São Paulo e a Sociedade Beneficente São Camilo, que gerencia a unidade, será encerrado.

Em reunião com os pais das crianças na manhã de hoje (11), a diretora regional de Educação, Leila Barbosa Oliva, afirmou que todas as 274 crianças que frequentam o Centro de Educação Infantil (CEI) Mãe Wanda terão vagas garantidas em creches de locais próximos e que uma parte delas não terá de sair do bairro porque uma nova unidade vai acolher as crianças que ali moram.

"Com esse novo convênio vamos abrir 114 vagas, que serão destinadas prioritariamente a crianças que moram até a um quilômetro da CEI Mãe Wanda. Nosso objetivo é ampliar o número de vagas e, para isso, vamos fazer adequações no prédio para atender a mais crianças", disse Leila. A nova creche será gerenciada pela organização não-governamental Star of Hope, que já administra o CEI Vila Medeiros.

A Sociedade São Camilo não apresentou justificativa para o rompimento do convênio. Disse, apenas, por meio de nota, que a parceria será encerrada conforme disposição do Termo de Convênio firmado entre a entidade e a prefeitura e que, por iniciativa própria, estará à frente da administração do CEI Mãe Wanda somente até o fim deste mês. De acordo com Leila, os altos custos de manutenção do imóvel fizeram a Sociedade São Camilo desistir da creche. "Eles alegaram que era custoso manter a unidade e que não havia mais interesse", afirmou.

O prédio onde funciona a CEI Mãe Wanda é de uma outra associação, também beneficente, chamada Mãos Juntas Associação Brasileira de Voluntários Sociais, que, por sua vez, também não se interessou em negociar o espaço com a prefeitura. "Entramos em contato com o representante do dono do imóvel para que ele assinasse um termo de cessão à prefeitura ou a outra entidade que tivesse interesse em administrar o CEI, mas até o momento, não obtivemos resposta", disse a diretora.

Ela afirmou ainda que o rompimento de um convênio no meio do ano é uma situação inédita e que a preocupação do órgão neste momento é dar um atendimento adequado às crianças e às famílias. Leila explica que serão acomodadas na nova creche, inicialmente, as crianças que residirem na Parada Inglesa, mas também será levado em conta o local de trabalho dos pais.
Transtorno

Leila disse que, no último mês, em função do cancelamento desse contrato, a prefeitura buscou novos convênios e ampliou o número de vagas em algumas unidades já conveniadas. Segundo ela, apenas nos últimos 30 dias foram criadas 911 novas vagas em creches da região. A diretora assegurou que na terça-feira (15) terá início uma série de reuniões com os pais para definir os locais nos quais as crianças serão atendidas. "Vamos falar com cada família para conhecer a situação de cada uma delas e então, definir qual a unidade mais adequada para cada caso", ressaltou.

Durante a semana, sem informações sobre o que ocorreria com suas crianças, alguns pais ainda estavam surpresos com a notícia do fechamento da creche. Claudecir José Costa é um deles. Ele tem uma filha de quatro anos que há dois está na creche. "É uma surpresa, né? No meio do ano. Pouco tempo para achar outra creche. Deram algumas opções, tudo longe. Se precisar sair do bairro, vou ter de arranjar transporte para levar a menina. Vai ser um transtorno".

Sheila Lopes da Silva também está preocupada com a situação. Ela tem uma filha de um ano e um mês na creche. "A gente não está entendendo, e não aceita ficar sem a creche. É ano de eleição, eles tinham de abrir mais creches, não fechar", lamentou.

Moradora do Tucuruvi, bairro vizinho à Parada Inglesa, Mariana Soares, mãe de um bebê de seis meses, desabafa: "Acho essa história um absurdo. Aqui foi o único lugar em que encontrei vaga. No Tucuruvi não tem escola para criança com a idade do meu filho. Isso que eles estão fazendo é falta de consideração com a gente. Podiam esperar mais seis meses, pelo menos, até o final do ano para resolver isso."
Déficit de vagas

A promessa do prefeito Gilberto Kassab (PSD) de zerar o déficit de vagas nas creches, feita na campanha de 2008, dificilmente será alcançada. O Plano de Metas do prefeito previa 100% das crianças de até 3 anos atendidas até 2012. Segundo levantamento da Secretaria Municipal de Educação, existe hoje um déficit de 100 mil vagas nas creches da prefeitura.

Em algumas regiões da capital paulista os números são bastante altos. A subprefeitura de São Mateus, zona leste da cidade, contabiliza um déficit de mais de 9 mil  vagas. Em Cidade Ademar, na zona sul, mais de 6 mil crianças aguardam uma vaga e no Grajaú, também na zona sul, a fila de espera passa de 7 mil crianças.
'Chave do futuro'

A presidenta Dilma Rousseff afirmou hoje, durante a inauguração de unidades habitacionais em Betim (MG), que construir creche é atacar na raiz a desigualdade, a diferença de oportunidade que existe entre filho de pobre e filho de rico. Dilma disse ainda que “um país se mede pelo que ele faz pelas crianças, pela capacidade de transformar a vida da criança, dando oportunidades iguais a elas”.

O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, também presente ao evento, disse que a “chave do futuro” que as crianças receberão na creche é tão importante quanto a chave das casas recebidas pelas famílias. A unidade educacional recebeu o nome de Centro Infantil Municipal Wilma Costa Pinto Afonso e faz parte do Programa Nacional de Reestruturação e Aquisição de Equipamentos para a Rede Escolar Pública de Educação Infantil (ProInfância).

*Terlânia Bruno, Rede Brasil Atual

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Pinóquio Kassab e a falta de vagas em creches

A reportagem abaixo foi publicada hoje (12/5/2012) no jornal O Estado de S. Paulo. Fala sobre a falta de vagas em creches na cidade de São Paulo. Apenas para lembrar, na campanha eleitoral de 2008, quando foi eleito prefeito, o Pinóquio Kassab prometeu zerar o déficit de vagas em creches. Do jeito que está indo, ele vai zerar as vagas, não o déficit. Ainda mais que o presidente do Sinpeem é vereador da base aliada ao prefeito.

Campo Limpo atende apenas 43% da demanda por creches

Subprefeitura é campeã na falta de atendimento às crianças de até 3 anos e 11 meses; em abril, 5.325 aguardavam na fila

Na região de Campo Limpo, na zona sul de São Paulo, menos da metade das famílias que tentaram matricular o filho em uma creche municipal no ano passado teve sucesso. A subprefeitura é a campeã da cidade na falta de vagas para as crianças entre 0 e 3 anos e 11 meses de idade: atende a apenas 43% da demanda.

O porcentual é somente três pontos maior do que o registrado em 2009:40%. No último relatório divulgado pela Secretaria Municipal de Educação, de abril deste ano, havia 5.325 crianças na fila de espera.

A segunda colocada nesse rol de falta de atendimento também fica na zona sul. Na subprefeitura da Cidade Ademar, só há vagas para 48% da demanda. Logo depois vem a região de M'Boi Mirim, que supre apenas a metade dos interessados.

E, apesar de a falta de vagas em creches ser um problema antigo em São Paulo, a média de atendimento na cidade toda, considerando as 31 subprefeituras, é de 67%, apenas cinco pontos maior do que o registrado em 2009. Em abril deste ano, a fila de espera tinha mais de 123 mil crianças.

"O esforço do município foi muito pequenos nos últimos anos, principalmente nessas regiões de alta vulnerabilidade social", diz Ester Rizzi, assessora da ONG Ação Educativa. "É comum a secretaria alegar que a falta de terreno e as ocupações irregulares da periferia dificultam as construções. Mas isso não é desculpa", afirma.

Menos atendimento. Apesar do discreto aumento de 5% no total de atendimentos do município, quase um terço das subprefeituras diminuiu seu porcentual em até 4% nos últimos três anos. Um problema que acomete tanto bairros centrais como periféricos. Na Penha, na zona leste, o índice caiu de 69% para 65%. Na Lapa, na zona oeste, diminui de 77% para 73%.

Em nota, a Secretaria de Educação disse que as matrículas em creches cresceram de 60 mil em 2005 para 203 mil em 2012. De acordo com informações da pasta, algumas regiões impõem um desafio maior devido a impedimentos para construções. Seria o caso da zona sul, por exemplo, onde estão as áreas de manancial.

A culpa é do professor?

Hoje (11/5/2012), o jornal O Estado de S. Paulo publicou a reportagem “Dados sobre educação básica revelam abismos em regiões da capital paulista”. Com base nos resultados do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), aponta a disparidade do índice de repetência e o número de alunos em série/ano inadequado em relação à sua idade. Pra variar, coloca a “culpa” pelo problema nos professores.

Incentivada pela ótica da imprensa, a declaração de um aluno é a de que ele deixava de frequentar as aulas porque elas eram “chatas”. Uma líder comunitária diz que são poucos os professores preparados e que os mal preparados não conseguem motivar os alunos.

Quem não se deixa levar pela ótica da imprensa e conhece minimamente a realidade da educação no país e, especificamente, na cidade de São Paulo, sabe que o professor pode até ter culpa, mas essa deve ser compartilhada com os governos (que não garantem estruturas e condições para que os professores mantenham a contínua formação; se dediquem ao ensino em uma única escola; ...).

Os pais, que não acompanham a educação formal de seus filhos e têm a escola como a única responsável pela educação deles, também devem compartilhar essa “culpa”. Além disso, é preciso ter claro que a escola é responsável pela educação formal e que este trabalho é prejudicado pela “falta de educação” de muitos alunos, que não a recebe em casa.

A falta da “homogeneidade” entre os alunos advém daquilo que Pierre Bourdieu chama de capital cultural. Vivemos em uma sociedade desigual. As crianças recebem diferentes estímulos culturais em suas casas. Isso afeta a apreensão do conteúdo formal “transmitido” na escola. Para algumas crianças, a educação formal é mais importante, para outras menos. Para umas é mais fácil, mais legal, para outras, mais difícil, mais chato.

É por isso que se recomenda que as aulas procurem fazer a ligação do conteúdo a ser passado aos alunos com o cotidiano de vida de cada um deles.

Os “culpados” não são apenas os professores nem se limitam aos que apontei acima. O que quero dizer é que existem muitos fatores que levam à disparidade do aprendizado entre os alunos. Apontar o professor e sua “falta de preparo” como responsável pela realidade apontada pelo levantamento é querer fugir pela tangente e não solucionar o problema. O problema existe. Precisa ser solucionado!

sexta-feira, 4 de maio de 2012

São Paulo atrasa salário de professores

Parte dos docentes temporários do Estado está sem receber desde o início das aulas, em fevereiro

Parte dos professores da rede estadual de São Paulo está sem receber salário desde o começo das aulas, há três meses. Os atrasos do governo do Estado atingem professores contratados (que não são concursados). Há casos em que o pagamento está previsto para ocorrer, no mínimo, no mês de junho.

José Patricio/AE
Assembleia do professores da rede estadual de ensino por melhores condições

A Secretaria Estadual de Educação não informou exatamente quantos professores não receberam pagamento. Cerca de 29 mil docentes são temporários e trabalham regidos por contrato - 13,4% do total da rede. A reportagem conversou com 12 docentes que atuam como temporários - eles trabalham em escolas em vários locais da capital e do interior do Estado.

Em fevereiro, a gestão do governador Geraldo Alckmin (PSDB) havia informado que atrasos poderiam acontecer com ingressantes na rede por causa de problemas de cadastramento. Apesar disso, todos seriam pagos na segunda quinzena de março. Mas nada disso se concretizou. A falta de pagamentos atinge professores que já atuam na rede há pelo menos um ano, alguns com contratos em vigência. Muitos nem sequer têm previsão de receber. E continuam da mesma forma.

A professora de Língua Portuguesa Carina Siqueira, de 24 anos, dá aulas na Escola Maria Isabel Fontoura, na zona rural e Cachoeira Paulista, interior de São Paulo. Ela atua na rede há mais de 5 anos como contratada. Seu último contrato, com vigência de um ano, foi firmado em setembro - mesmo sem passar por renovação, não recebeu.

"Estou dando aulas desde a primeira semana de fevereiro e não recebi nada até agora. Neste mês, meu salário não foi provisionado e não vou receber de novo. Ninguém sabe explicar o porquê, é muito humilhante", diz ela, que mora em Lorena. "Tenho de pegar dois ônibus para dar aula e estou pedindo dinheiro para meu pai. Só estou comendo por causa dele e de outros bicos que tenho feito."

O caso não é isolado. Professora no Estado desde 1991, Janice Aparecida da Silva, de 40 anos, chegou a receber em fevereiro, após muitas reclamações. Nos meses seguintes, entretanto, ficou sem ver o dinheiro. "Não consegui comprar os remédios que são de uso contínuo. Ninguém explica nada. Na escola, a culpa é da secretaria. Na diretoria de ensino, é da secretaria, que diz que a culpa é da Fazenda", diz ela, que está de licença médica. No mês de maio, o pagamento apareceu no holerite, mas abaixo do que ela tem direito.

Na escola de Juliana, que pede para não ser identificada por medo de represálias, na zona sul da capital, há três professores sem pagamento. "Estou contando com ajuda da minha mãe para pagar as minhas contas e as do meu filho de 9 anos", diz ela, que trabalha no Estado desde 2009.

'Absurdo'. Segundo o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Roberto Leão, o Estado de São Paulo se destaca quando o assunto é atraso de salários. "Isso é um absurdo, em dias que se fala em computação, com tudo informatizado, ter problemas de cadastro, desorganização, é inacreditável", afirma.

Em nota, a secretaria alega problemas burocráticos e defende que os casos são pontuais. Segundo a pasta, "as diretorias de ensino serão orientadas a verificar casos de profissionais que eventualmente não tenham recebido seus vencimentos para que situações como essas sejam regularizadas". A secretaria também não deu prazo para normalizar a situação.