segunda-feira, 20 de maio de 2013

Comissão do Senado analisa PNE nesta terça

O texto abaixo foi veiculado pela Agência Senado. Fala sobre a análise do PNE a ser feita pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) daquela "casa de leis". Além de ler o texto abaixo, vale à pena ler também a análise do blog do Luiz Araújo, que está muito boa. Mas, é claro que é preciso considerar que ele é assessor da liderança do PSOL no Senado.

Comissão do Senado analisa PNE nesta terça

A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) volta a analisar nesta terça-feira (21) o Plano Nacional de Educação (PNE). A votação estava marcada para o último dia 14, mas foi adiada após senadores pedirem mais tempo para avaliar a proposta (vista coletiva).

Previsto no Projeto de Lei da Câmara (PLC) 103/2012, o PNE destina ao menos 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para políticas educacionais e estabelece uma série de obrigações para serem cumpridas nos próximos dez anos.

Entre as 20 metas originalmente estabelecidas, estão: alfabetizar todas as crianças até, no máximo, os oito anos de idade; erradicar o analfabetismo absoluto; reduzir o analfabetismo funcional; oferecer educação em tempo integral em 50% das escolas públicas de ensino básico; e aumentar o número de professores da educação básica com nível de pós-graduação lato e stricto sensu.

Na CAE, o relator da matéria é o senador José Pimentel (PT-CE), que tentou resolver o problema da falta de adequação financeira e orçamentária da meta de aplicar 10% do PIB na educação. A solução encontrada pelo relator foi incorporar ao PNE parte das disposições do Projeto de Lei 5.500/2013, da presidente da República, Dilma Rousseff, em tramitação na Câmara, que destina 100% dos royalties do petróleo para a educação e mais 50% do Fundo Social do petróleo extraído da camada pré-sal. José Pimentel quer vincular à educação todos os royalties do petróleo dos novos contratos de exploração celebrados a partir de 3 de dezembro do ano passado.

- Ao adotar a decisão pelos 10% do PIB para a educação pública, a Câmara transferiu a esta Casa o ônus da descoberta das fontes de novos recursos. A ampliação da meta representa um aumento considerável já que, em 2011, o gasto foi de 6,1% - explica José Pimentel em seu relatório.

Alfabetização
Outra mudança proposta pelo relator é relacionada à universalização da alfabetização. Inicialmente, o governo propôs a idade máxima de oito anos. Na Câmara, o critério foi mudado para até o fim do terceiro ano do ensino fundamental. Agora, Pimentel propõe etapas: aos oito anos de idade e até o terceiro ano do ensino fundamental na primeira metade da vigência do plano; aos sete anos, no período compreendido entre o sexto e o nono anos de execução do plano; e ao fim dos seis anos de idade, no décimo ano de vigência do PNE.

Tramitação
O PNE foi enviado pelo governo federal ao Congresso em 15 de dezembro de 2010 e só passou pela Câmara quase dois anos depois, em outubro de 2012, após ter recebido quase 3 mil emendas.

A proposta inicial do governo era destinar 7% do PIB ao setor educacional, mas os deputados fixaram este índice como meta intermediária, a ser alcançada no quarto ano de vigência do PNE. Ao fim do plano, o percentual deve chegar a 10%, no mínimo.

No Senado, já foram realizadas duas audiências públicas sobre o tema. Além da CAE, onde recebeu 80 emendas, o projeto será analisado nas comissões de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) e de Educação, Cultura e Esporte (CE), antes de ser votado em Plenário.

A reunião da CAE desta terça-feira será às 10h na Sala 19 da Ala Alexandre Costa e pode ser acompanhada pela TV Senado. Confira aqui a íntegra do relatório do senador José Pimentel.

Entenda o PNE
O plano original enviado pelo Executivo à Câmara está estruturado em duas partes: um texto legal, composto de 14 artigos, sendo o último reservado à cláusula de vigência; e um anexo constituído de 20 metas, desdobradas em 229 estratégias. Durante a tramitação na Câmara, foram agregadas 59 estratégias à proposta, e algumas das metas da proposta original foram reformuladas.
•Erradicação do analfabetismo;
•Melhoria da qualidade da educação;
•Universalização do atendimento escolar;
•Valorização dos profissionais da educação;
•Promoção do princípio da gestão democrática na educação pública;
•Estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do PIB, que assegure atendimento às necessidades de expansão, com padrão de qualidade e equidade.

Algumas diretrizes previstas no PNE
• Erradicação do analfabetismo;
• Melhoria da qualidade da educação;
• Universalização do atendimento escolar;
• Valorização dos profissionais da educação;
• Promoção do princípio da gestão democrática na educação pública;
• Estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do PIB, que assegure atendimento às necessidades de expansão, com padrão de qualidade e equidade.

Algumas metas previstas no PNE:
• Ampliar o investimento público em educação de forma a atingir, no mínimo, o equivalente a 10% do PIB ao fim do decênio;
• Elevar a taxa de alfabetização da população com 15 anos ou mais para 93,5% até 2015 e, até o fim vigência do Plano, erradicar o analfabetismo absoluto e reduzir em 50% a taxa de analfabetismo funcional;
• Triplicar as matrículas da educação profissional técnica de nível médio;
• Ampliar a proporção de mestres e doutores do corpo docente em efetivo exercício no ensino superior para 75%;
• Elevar gradualmente o número de matrículas na pós-graduação stricto sensu, de modo a atingir a titulação anual de 60.000 mestres e 25.000 doutores;
• Garantir que, até o último ano de vigência do PNE, 80% dos professores que atuam na educação básica tenham concluído curso de pós-graduação stricto ou lato sensu em sua área de atuação;
• Oferecer, no mínimo, 25% das matrículas de educação de jovens e adultos na forma integrada à educação profissional nos ensinos fundamental e médio;
• Universalizar, até 2016, a educação infantil na pré-escola para as crianças de 4 a 5 anos e ampliar a oferta de educação infantil em creches de forma a atender, no mínimo, 50% das crianças de até 3 anos até o fim da vigência do PNE;
• Oferecer educação em tempo integral em, no mínimo, 50% das escolas públicas, de forma a atender, pelo menos, 25% dos alunos da educação básica;
• Elevar a escolaridade média da população de 18 a 29 anos, de modo a alcançar no mínimo 12 anos de estudo no último ano de vigência do Plano Nacional de Educação para as populações do campo, da região de menor escolaridade no país e dos 25% mais pobres. Igualar a escolaridade média entre negros e não negros.

Sem livro não há liberdade, sem biblioteca não há escola

Boa Tarde. Gostaria de Compartilha o Texto de meu amigo Viegas, aqui de Blumenau.
Abraços
E Boa Leitura
Prof. Janilson Lotério

Sem livro não há liberdade, sem biblioteca não há escola
Charge de Cao Hering publicada no Jornal de Santa Catarina

Viegas Fernandes da Costa

Segundo a pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil” de 2011, promovida pelo Instituto Pró-Livro, a população da Região Sul lê em média 1,68 livros por mês, a segunda pior média do país, ficando a frente apenas da Região Norte, onde o índice é de 1,51. Podemos questionar a metodologia da pesquisa, mas é fato que lemos pouco e lemos mal.

Blumenau não é exceção neste cenário, e tudo indica que no “Vale Europeu” nossos índices de leitura são ainda piores. Neste sentido, constatar que boa parte das nossas escolas públicas não dispõe de Bibliotecas ativas, atualizadas e diversificadas explica, em parte, esta nossa falta de interesse pelo livro e pela leitura.

Não há proposta pedagógica que se sustente sem a leitura, e não há escola que possa oferecer estímulo e preparação adequada para a formação de leitores sem uma biblioteca. E quando falamos de biblioteca escolar, não falamos simplesmente de um depósito de livros didáticos, muitas vezes desatualizados, como é de praxe encontraremos por aí. Falamos de um espaço dinâmico, vivo, rico de possibilidades e gerido por leitores apaixonados. Sim, por leitores apaixonados, porque um professor e um bibliotecário que não leem são como corpos sem alma, e me assusta perceber como são numerosos estes corpos “sem alma” em nossas escolas e bibliotecas.

* Texto publicado no Jornal de Santa Catarina, 25 de maio de 2012. A matéria completa pode ser lida nos links:

http://www.clicrbs.com.br/jsc/sc/impressa/4,186,3769039,19656
Fonte: http://viegasdacosta.blogspot.com.br/2012/05/sem-livro-nao-ha-liberdade-sem.html?zx=e478f5f0883d9eb8

sábado, 18 de maio de 2013

É TDAH ou inabilidade de pais e educadores


Infelizmente, muitas escolas e mesmo muitos pais insistem em utilizar “métodos” “educativos” baseados em teorias dos Estados Unidos. O texto traz um comparativo entre as práticas aplicadas nos EUA e na França a crianças que, supostamente, têm Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH).

Na França, preferem educar. Nos EUA, entuchar remédios. Será que as crianças têm realmente TDAH, ou é a forma de educá-las que está errada? Será que a atenção que falta não é dos pais e educadores para com as crianças?

Por que as crianças francesas não têm Déficit de Atenção?

Nos Estados Unidos, pelo menos 9% das crianças em idade escolar foram diagnosticadas com TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade), e estão sendo tratadas com medicamentos. Na França, a percentagem de crianças diagnosticadas e medicadas para o TDAH é inferior a 0,5%. Como é que a epidemia de TDAH, que se tornou firmemente estabelecida nos Estados Unidos, foi quase completamente desconsiderada com relação a crianças na França?

TDAH é um transtorno biológico-neurológico? Surpreendentemente, a resposta a esta pergunta depende do fato de você morar na França ou nos Estados Unidos. Nos Estados Unidos, os psiquiatras pediátricos consideram o TDAH como um distúrbio biológico, com causas biológicas. O tratamento de escolha também é biológico – medicamentos estimulantes psíquicos, tais como Ritalina e Adderall.

Os psiquiatras infantis franceses, por outro lado, veem o TDAH como uma condição médica que tem causas psicossociais e situacionais. Em vez de tratar os problemas de concentração e de comportamento com drogas, os médicos franceses preferem avaliar o problema subjacente que está causando o sofrimento da criança; não o cérebro da criança, mas o contexto social da criança. Eles, então, optam por tratar o problema do contexto social subjacente com psicoterapia ou aconselhamento familiar. Esta é uma maneira muito diferente de ver as coisas, comparada à tendência americana de atribuir todos os sintomas de uma disfunção biológica a um desequilíbrio químico no cérebro da criança.

Os psiquiatras infantis franceses não usam o mesmo sistema de classificação de problemas emocionais infantis utilizado pelos psiquiatras americanos. Eles não usam o Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders ou DSM. De acordo com o sociólogo Manuel Vallee, a Federação Francesa de Psiquiatria desenvolveu um sistema de classificação alternativa, como uma resistência à influência do DSM-3. Esta alternativa foi a CFTMEA (Classification Française des Troubles Mentaux de L’Enfant et de L’Adolescent), lançado pela primeira vez em 1983, e atualizado em 1988 e 2000. O foco do CFTMEA está em identificar e tratar as causas psicossociais subjacentes aos sintomas das crianças, e não em encontrar os melhores bandaids farmacológicos para mascarar os sintomas.


Na medida em que os médicos franceses são bem sucedidos em encontrar e reparar o que estava errado no contexto social da criança, menos crianças se enquadram no diagnóstico de TDAH. Além disso, a definição de TDAH não é tão ampla quanto no sistema americano, que na minha opinião, tende a “patologizar” muito do que seria um comportamento normal da infância. O DSM não considera causas subjacentes. Dessa forma, leva os médicos a diagnosticarem como TDAH um número muito maior de crianças sintomáticas, e também os incentiva a tratar as crianças com produtos farmacêuticos.

A abordagem psicossocial holística francesa também permite considerar causas nutricionais para sintomas do TDAH, especificamente o fato de o comportamento de algumas crianças se agravar após a ingestão de alimentos com corantes, certos conservantes, e / ou alergenos. Os médicos que trabalham com crianças com problemas, para não mencionar os pais de muitas crianças com TDAH, estão bem conscientes de que as intervenções dietéticas às vezes podem ajudar. Nos Estados Unidos, o foco estrito no tratamento farmacológico do TDAH, no entanto, incentiva os médicos a ignorarem a influência dos fatores dietéticos sobre o comportamento das crianças.

E depois, claro, há muitas diferentes filosofias de educação infantil nos Estados Unidos e na França. Estas filosofias divergentes poderiam explicar por que as crianças francesas são geralmente mais bem comportadas do que as americanas. Pamela Druckerman destaca os estilos parentais divergentes em seu recente livro, Bringing up Bébé. Acredito que suas ideias são relevantes para a discussão, por que o número de crianças francesas diagnosticadas com TDAH, em nada parecem com os números que estamos vendo nos Estados Unidos.

A partir do momento que seus filhos nascem, os pais franceses oferecem um firme cadre- que significa “matriz” ou “estrutura”. Não é permitido, por exemplo, que as crianças tomem um lanche quando quiserem. As refeições são em quatro momentos específicos do dia. Crianças francesas aprendem a esperar pacientemente pelas refeições, em vez de comer salgadinhos, sempre que lhes apetecer. Os bebês franceses também se adequam aos limites estabelecidos pelos pais. Pais franceses deixam seus bebês chorando se não dormirem durante a noite, com a idade de quatro meses.

Os pais franceses, destaca Druckerman, amam seus filhos tanto quanto os pais americanos. Eles os levam às aulas de piano, à prática esportiva, e os incentivam a tirar o máximo de seus talentos. Mas os pais franceses têm uma filosofia diferente de disciplina. Limites aplicados de forma coerente, na visão francesa, fazem as crianças se sentirem seguras e protegidas. Limites claros, eles acreditam, fazem a criança se sentir mais feliz e mais segura, algo que é congruente com a minha própria experiência, como terapeuta e como mãe. Finalmente, os pais franceses acreditam que ouvir a palavra “não” resgata as crianças da “tirania de seus próprios desejos”. E a palmada, quando usada criteriosamente, não é considerada abuso na França.

Como terapeuta que trabalha com as crianças, faz todo o sentido para mim que as crianças francesas não precisem de medicamentos para controlar o seu comportamento, porque aprendem o autocontrole no início de suas vidas. As crianças crescem em famílias em que as regras são bem compreendidas, e a hierarquia familiar é clara e firme. Em famílias francesas, como descreve Druckerman, os pais estão firmemente no comando de seus filhos, enquanto que no estilo de família americana, a situação é muitas vezes o inverso.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Apeoesp: “Hoje, o maior inimigo dos professores”


O texto abaixo foi copiado do perfil Reinaldo Melo. Uma indicação do professor Adilson Ferreira dos Santos. É mais um dos muitos textos de reflexão sobre a atuação do sindicato dos professores da rede pública do estado de São Paulo (Apeoesp).

O sindicato, hoje, é nosso maior inimigo

Antes das pedras voarem, afirmo que estou em greve, o que me dá mais tranquilidade para escrever este texto.

George Orwell, na obra 1984, constrói o conceito do duplipensar, duplifalar. São, pois, ferramentas que condicionam a sociedade oprimida do livro a não praticarem quaisquer atos de reflexão herética em relação ao status quo. Utilizam-se meios para paralisar, encurtar, negar, obstruir tudo quanto é tipo de pensamento ousado, de crítica nevrálgica, de propostas construtivas que tentem modificar o mínimo de consenso diante da ordem estabelecida.

O romance de Orwell nos dá parâmetros para analisar a postura da direção sindical na construção da greve atual. Além do duplipensar, duplifalar, o sindicato atua como as nações do romance, ora adversárias, ora aliadas.

Ora, Ora. Governo é governo e sua função é, diante dos ditames do neoliberalismo, nos ferrar por completo. Nenhuma novidade. Mas o problema é quando o sindicato não segue a sua função, que é a de organizar a categoria para barrar a retirada de seus direitos.

“Mas o sindicato não está chamando a greve? Como ele não está cumprindo a sua função?”, podem me perguntar os colegas.

O sindicato não cumpre sua função quando se utiliza da luta da categoria para atingir objetivos escusos. Nas greves de 2008 e de 2010, isso ficou muito bem claro por conta da agenda eleitoral. A direção sindical não tinha o pudor de disfarçar nos discursos a intenção de desgastar o partido rival. Pior é ouvir de professor em 2010 “pelo menos evitamos do Serra ganhar a presidência.” Como se uma eleição estivesse acima dos meus direitos como professor. Tal fala do professor revela como esse aspecto orwelliano está entranhado nas diretrizes do sindicato.

Nesta greve, porém, as coisas estavam, para mim, ocultas demais. Por que o sindicato chamaria uma greve fora do ano eleitoral? Esta direção sindical nunca ligou para a categoria, mesmo, por que queimaria um cartucho de uma greve um ano antes?

Na pauta de reivindicação estava 36% de aumento, mas vozes oficiais do sindicato já falam em 13% sem isso ser votado em assembleia. Fazer esquecer o que foi dito, para não revelar as contradições é uma ferramenta orwelliana.

Mas esta greve é uma greve pela categoria O. Os O tem de ter direitos básicos garantidos. Isso foi mais do que dito no caminhão ontem. E eis aí a chave para uma suposta compreensão (já que se dizer dono da verdade hoje é mais perigoso do que antes): o sindicato está legitimando, mais uma vez, uma aberração criada pelo Estado. Ao lutar pelos direitos da categoria O, dá-se o aval da existência de um professor que não deveria existir numa educação séria. Proporcionalmente, o categoria O é um professor cuja condição de trabalho com base na constituição de 1988 é análoga à escravidão, sem vínculo para a aposentadoria, sem direito à férias integrais, sem direito à falta, à licença médica, etc.

O discurso não pode ser o de “direitos” à categoria O, mas o da extinção da categoria O e dos ACTs em geral. O professor em contrato temporário deve ser uma exceção, não uma regra. Quando a direção do sindicato sobe ao caminhão e reconhece a existência do O como algo irreversível, atua no modo duplipensar e duplifalar orwelliano: é negada à categoria qualquer oportunidade de crítica radical. Quando a Bebel sobe e fala sobre garantir os direitos do O, ela diz “legitimar a existência dos Os.”

Não tenho bases numéricas para o que vou dizer, mas falo pelo que observo. Os professores de categoria O são, em parte, jovens que não são politizados e nem sindicalizados. Para se ter uma ideia, dois destes professores acabaram de sair da faculdade e defenderam Hitler num intervalo, na sala dos professores. No entanto, por mais despolitizados que esta parte seja, nenhum tem desconhecimento da situação de agruras em que estão metidos. Sabem que fazem o mesmo que os demais professores, mas têm o de menos. É claro que aí se constrói uma grande demanda para as manipulações do sindicato.

Ao invocar uma greve pela categoria O, podemos supor que o sindicato tem como intenção a formação de uma base para a sua agenda eleitoreira de 2014 ao mesmo tempo em que atrai novos sindicalizados. Dois coelhos numa paulada, dinheiro no caixa e base eleitoral, partidária e sindical.

Mas não está apenas nisto a minha defesa de que o sindicato é nosso pior inimigo. Sabemos que o governo do Estado, nas mãos do PSDB, que, teoricamente, é o nosso maior inimigo.

Mas imagine o colega leitor que ele seja do exército laranja e sua missão principal é derrotar o exército amarelo. No meio do caminho não tinha uma pedra, mas o exército vermelho que impede o acesso ao combate contra o exército amarelo. Qual se torna o maior inimigo de então? Um ponto a mais no IDESP para quem disse o exército vermelho.

Eis a questão. O sindicato quando é braço de um partido político, coloca os interesses deste partido acima dos interesses da categoria. Esta é vista como massa de manobra, e a manipulação desta massa fica muito clara com os dizeres da turma do caminhão. Nesta manobra está tudo, menos o enfrentamento radical a quem nos massacra: o governo do estado de SP.

O sindicato há muitas décadas é um obstáculo entre a categoria, que muitas vezes foi para a rua com sangue nos olhos, e o governo do estado. Isso fica muito claro no impedimento de votação de qualquer radicalização do movimento. O estado pode radicalizar conosco, mas nós não podemos radicalizar porque senão vão queimar o filme do partido da direção sindical no Jornal Nacional e manipulações afins. Seja acampamento na porta da SEE, seja greve de fome na porta do Palácio dos Bandeirantes, nenhuma proposta que revele uma crítica radical ou o desespero dos professores pode sequer entrar em votação.

O sindicato (ou a direção sindical, pra não dizerem que quero a extinção do que pode ser uma ferramenta nossa), afirmo, é, hoje, o principal inimigo da categoria. O governo é previsível, sempre vai querer nos ferrar. Mas os movimentos do sindicato, na intenção de manipular a categoria, são imprevisíveis, mas dentro de uma previsibilidade de traição. Quando o governo tem a intenção de nos ferrar, está dentro de suas funções, mas quando o sindicato não está dentro de suas funções de que é a radicalização da luta dos professores na proporção da radicalidade do governo, logo o sindicato é cúmplice dos crimes do estado. O maior inimigo é aquele que se traveste de amigo.

Muitos dos colegas históricos desta greve já estão com o discurso de derrotados: “Eu sei que o sindicato vai trair, mas estou em greve por minha consciência, por um grito de desespero.” É triste ouvir isso de colegas engajados, mas não os culpo. Este sentimento de derrota previsível vem de traições rotineiras da direção sindical. Quando se fala mais em greve por consciência individual do que por uma greve em torno de um coletivo é sinal de que a categoria inexiste ou fragmentada está.

Ainda tenho esperanças e consciência de que o sindicato é uma ferramenta primordial para a emancipação dos trabalhadores, mas enquanto vermos Bebel e Cia em cima do caminhão a nos tratar como idiotas, o fim dos professores está mais próximo do que a valorização que tanto almejamos.

sábado, 11 de maio de 2013

Crônica de uma traição anunciada

          Às 13 horas eu apontava na estação de Mauá e revi os colegas professores que há dois anos trabalhavam comigo. Cumprimentei a todos e já tive o primeiro indício de que a assembleia seria esvaziada. Só 15 professores daquela cidade tinham passado na estação de Mauá e pego os bilhetes de trem para ir ao Vão Livre do Masp.
          Quando chegamos ao local, o caminhão do som não estava lá e a presença de poucos Professores prenunciava que algo estava muito diferente. As primeiras informações que chegavam davam conta de que os representantes da Apeoesp tiveram uma reunião com o Secretário Estadual de Educação e que depois  aconteceu o CER (Conselho Estadual de Representantes) que foi realizado no Teatro Gazeta.
          O Caminhão de Som chegou e  mais uma assembleia se iniciava com a Presidenta da Apeoesp Maria Izabel Azevedo Noronha que leu as propostas do governo que eram as seguintes:

>   Fim da prova anual aplicada aos professores da chamada “categoria F”;
>   Fim da prova exigida dos professores da chamada “cate­goria O”
     que já pertencem à rede estadual;
>   Direito de atendimento médico pelo IAMSPE aos profes­sores da
     “categoria O”;
>   Concurso público no segundo semestre para professores PEB II;
>   Não privatização do Hospital do Servidor Público e do IAMSPE;
>   Convocação da comissão paritária prevista no artigo 5º da lei
     complementar nº 1143/11 para discussão da pos­sibilidade de novo
     reajuste e discussão da implantação paulatina da jornada do piso
     (no mínimo 1/3 da jornada para preparação de aulas e formação,
     entre outras ativi­dades extraclasse);
>   Convênio em torno de projeto a ser elaborado pela APEOESP para
     prevenção e combate à violência nas escolas;
>   Discussão do pagamento dos dias parados e retirada das faltas da
     greve mediante reposição de aulas.
          Depois da leitura desses itens negociados, a assembleia foi para regime de votação e por ampla maioria os Professores reunidos no Vão Livre do MASP decidiram pela continuidade da greve, pois não foi negociado nenhum tipo de aumento e sim algumas intenções do governo sem nenhum compromisso de cumprimento.

          Não contente com a decisão dos Professores da Rede Estadual a Presidenta gritou: " A greve está encerrada" e "A luta continua". Um tapa na cara da categoria que estava com "sangue nos olhos" e literalmente porque se rebelou e começou a arremessar garrafinhas de água e outros objetos em direção ao caminhão de som e logo após o confronto com a Polícia Militar alguns professores realmente sangraram até nos olhos. Uma verdadeira cena de barbárie que este Professor que vos escreve se assustou ao ver indignado a categoria sendo traída pelos próprios representantes.
          Em uma leitura  dos fatos mais contextualizada, a Presidenta da Apeoesp já havia conseguido o seu objetivo, ou seja,  liderar uma greve no governo Geraldo Alckmin (PSDB) e este perdeu o argumento para a eleição do ano que vem que sob o seu governo os Professores jamais tinham feito greve e com essa traição à categoria ela também retirou a unidade dos Professores da Rede Estadual com os da Rede Municipal que estão em greve contra as atrocidades que o Prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT) comete contra os Professores Municipais.
          Este gesto da Presidenta da Apeoesp e todo o campo majoritário que a sustenta (Articulação Sindical-PT) foram única e exclusivamente para poupar o seu colega de partido Fernando Haddad (PT) já que várias correntes políticas da Apeoesp que são formados por grupos políticos ligados ao PCO (Educadores em Luta), PSTU (Oposição Alternativa), PSOL ( Apeoesp na Escola e na Luta ) e outros defenderam a continuidade da greve e a unificação com a luta dos Professores da Prefeitura de SP. 
          A propósito do título do texto, sim foi uma traição anunciada e escrevo isso, porque ao nosso lado na assembleia uma professora nos disse que seu namorado que é policial militar relatou que na assembleia do dia 3 de maio, ele teve sua folga cancelada porque a Apeoesp havia enviado um ofício pedindo para a PM fechar o acesso à Avenida Consolação. Trata-se de um relato da Professora, mas se um dia se confirmar significa dizer que a Apeoesp usou de força militar contra os próprios professores na assembleia passada. Um fato grave que causou um transtorno, pois os Professores foram forçados fisicamente e impedidos de descer a Consolação rumo à Praça da República pelos próprios Policiais.
          Sim, traição anunciada porque hoje o fato se repetiu. Depois de sair escoltada pela PM no caminhão de som, a presidenta da Apeoesp soltou um FAX Urgente FAX URGENTE Nº 24 chamando os Professores que se rebelaram de embriagados. 
           Depois de todos esses fatos, os Professores desceram sozinhos a Paulista e Consolação e desta vez não tinha tropa de choque convocada pela Apeoesp para impedir os Professores descerem rumo à Praça da República. Quando a passeata chegou na praça da República um grupo de Professores liderados pela Oposição Altenativa (PSTU) foi para a frente da Secretaria Estadual de Educação e outro grupo de Professores Independentes foram para a Sede da Apeoesp e montaram uma equipe de 10 professores para entrarem lá. Alguns desentendimentos aconteceram com os Policiais Militares que estavam lá para impedirem os Professores de entrarem no seu próprio Sindicato. Traição de novo, nunca vi isso na minha vida, um sindicato convocar a Polícia Militar para impedir a entrada dos Professores.
          Encerro esse texto não vislumbrando bons horizontes para os Professores da Rede Estadual Paulista que assim como os da Rede Municipal de SP estão com representantes que mais atendem interesses dos seus partidos do que os interesses da própria categoria. 
          Parabéns a Professores combativos como Christian LonguinAbell NascimentoGustavo VianaGabriela AlmeidaIrene CarvalhoAntonio Carlos da Silva que permaneceram juntos até o último momento na porta da Sede da Apeoesp vivenciando a cena bizarra da PM protegendo o Sindicato de seus filiados.

Paz e bem a todos e parabéns pela coragem de todos vocês!

Prof. Adilson Ferreira

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Entrevista do Secretário Municipal de Educação

Entrevista do Secretário Municipal de Educação, onde ele se defende das muitas exonerações que acontecem na Rede Municipal. Ele quer se juntar com o Secretário Estadual de Educação do Estado de SP (PSDB) para combater o acúmulo de cargos. No pano de fundo tanto Estado como Município querem inviabilizar o direito constitucional que os Professores terem duas aposentadorias. Ele usa números que não são reais do salário dos Professores no que se refere ao salário Bruto.

Reflexão sobre as greves (estadual e municipal) dos professores


O texto abaixo é uma postagem retirada do facebook do professor Raimundo Justino. Ele é professor tanto da rede pública do estado de São Paulo quanto da do município de São Paulo.

Trata-se de uma reflexão sobre ambas as greves, que pode ajudar muitos professores das bases, aqueles que estão em sala de aula, não participam de nenhuma instância sindical, a refletir.

Espero que faça com que dirigentes sindicais (tanto da Apeoesp, quanto do Sinpeem) também reflitam.


ENFIM, SOBRE A GREVE

Pretendia falar sobre isso antes, mas faltou tempo...

Em relação às "Greves" na Prefeitura e no Estado. Não acredito na eficiência das greve e paralisações nos atuais moldes propostos pelas direções dos sindicatos. O que acaba acontecendo é que a grande parte dos participantes transforma o período em uma folga inesperada, e sobra para uma minoria corajosa assumir as broncas de ir ás assembleias, fazer comande de greve e tantas outras coisas que podem ser feitas...isso ocorre porque a prática sindical não consegue se organizar de outro modo senão verticalmente; no final das contas, as legendas reproduzem um jeito de decidir as coisas de baixo pra cima, e eu não tenho estômago pra fingir que não me importo com isso, que não me importo em ser "um pouco manipulado"...

A questão-encruzilhada para mim e sei, para tantos outros educadores pé: "Bem, o que fazer então, diante de uma postura como a do governo do estado, que é diretamente responsável pela deterioração da Educação e não quer negociar, ou a da Prefeitura, que recuou em suas propostas?"

Se não acredito nas práticas acima descritas, mas não vejo uma ideia plausível melhor, tenho pelo menos que avaliar qual o meu grau de envolvimento com elas; não dá pra simplesmente manter a rotina e ignorar o movimento. Então, lá vai:

No que tange à greve do estado - minha escola não tem espaço pra discutir. É uma unidade conservadora, que conta com profissionais pré-aposentados em sua maioria e que não acreditam ou não querem saber (como diz Shakespeare, não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam). Minhas falas caíram no vazio e representante da Apeoesp conseguiu ainda menos. O que eu fiz foi parar por conta própria por duas sextas e comparecer às Assembleias no Masp, aonde vi, da última vez, mais uma briga "super produtiva" entre a direção e a oposição. No estado, acho inconcebível não haver adesão, mas, companheiros, eis o que décadas de descaso fizeram com nossa categoria... bem-vindos ao Inferno!

Em relação à greve na prefeitura - o representante do Sinpeem é mais consistente, chama a discussão e passa as informações. Porém, nas duas vezes que paramos os colegas de trabalho dedicaram seu horário livre para qualquer outra coisa, menos para ir à Assembleia, e demonstram uma tremenda alienação quanto à pauta e às questões políticas ligadas ao movimento. Não acho "cedo" para fazer greve, mas vejo que o combustível dessa mobilização é muito mais um sentimento "anti-PT" do que qualquer outra coisa(já vi folder no face pedindo o Kassab de volta). Qualquer pessoa lúcida sabe que as questões municipais são tão graves quanto as do estado, mas da mesma forma não acredito que uma proposta predominantemente partidária possa dar conta das questões. Irei à Assembleia na terça, e continuarei conversando com as poucas almas bondosas que me entendem na escola.

Em ambos os casos, converso com os alunos, explico o contexto e peço o apoio.

Comentários
Eduardo Kawamura Fala, Raimundo. É muito complicado comparar o movimento sindical do Estado com o da Prefeitura. A mobilização no Estado é muito mais difícil devido a própria precarização da carreira. Na prefeitura, a defesa por direitos conquistados acaba, no fim das contas, dialogando com uma boa quantidade de professores. Eu penso que a politização do grupo parte de nós, que militamos. Não só em tempos de greve, mas no cotidiano da escola. Quanto a alienação, está ai. Mas também é tarefa nossa pelo menos tentar chegar junto. Agora a politização do movimento, ser anti PT ou anti PSDB. São gestores de um capitalismo neoliberal. Cabe defender carreira, salário, emprego, condições de trabalho e bater onde dói mais, que é falando a verdade.

Raimundo Justino Então, Eduardo Kawamura, a leitura que eu faço é do momento. Não tenho essa visão histórica que você, que milita há mais tempo, tem. A questão é que a politização e a participação estão muito ligadas também a um modelo ainda muito representativo. É bem assim: "ora, precisamos fazer alguma coisa", e aí? "vai lá você na assembleia e vê o que decidem"... nesses moldes, greve e paralisação caem no vazio... sem falar que muitas vezes comprometem a legitimidade do movimento, porque quem está de fora só não consegue enxergar as entrelinhas das propostas... nesse sentido eu vejo os dois sindicatos muito parecidos... quanto ao anti-petismo, é uma verdade doída que o PT não é mais aquele - faz tempo - e tende a piorar...mas é verdade também que não é equilibrado igualar uma gestão que acabou de começar com uma que teve oito anos pra promover mudanças, negociar melhorias, etc...

Eduardo Kawamura Dá para pensar, mas recebemos o governo Serra com uma greve de 17 dias. Os ganhos desta greve ainda são sentidos em nossa carreira e em nossos bolsos. A proposta do Haddad é draconiana: aceita o que eu apresento e cala a boca pelos próximos 4 anos. Não é contra o PT, quem diz isto é o documento apresentado pelo secretário da educação. Está greve deveria ter sido chamada em fevereiro, no momento dos vetos. Demorou, o governo acumulou forças, e, pelo visto, a coisa vai se arrastar. É triste, muito mesmo. Poderia ser qualquer partido, a situação posta é muito complicada, mesmo. E lançando em perspectiva, se não houver demonstração de força por parte dos educadores, vamos acumular derrotas. Por outro lado, cada dia de greve, o PT fica mais distante de qualquer pretensão política aqui em São Paulo. Já te digo, vamos bater forte.

AnaPaula Pires Oi, Raimundo! Tudo bem?
Adoro suas reflexões!!! Me identifico muitoooo com seus questionamentos que, aliás, sempre contribuem com minhas reflexões também. Brigada, viu!!!
Concordo plenamente com você: temos que abraçar a causa, nos informar e ir à luta! Não dá pra querer fazer greve e ficar assistindo!!! ...Pena q em momentos como esses nos vemos tão sós e decepcionados com aqueles que deveriam estar ao nosso lado, né?!!! Não bastasse o governo, que aliás, já me deixa preocupada... Bom, de toda forma, o pessoal do CEU que aderiu ao movimento estará lá na terça mais uma vez, quem sabe a gente não se vê, né?!!!!

domingo, 5 de maio de 2013

Por que ninguém mais quer ser professor na escola publica?


O desinteresse dos alunos pelos estudos, aumento dos casos de indisciplina, violência e atos infracionais nas escolas preocupam os educadores. Além dos baixos salários e as más condições de trabalho, são as principais causas geradoras de angústia, insatisfação, medo, desestimulando-os ao exercício da profissão. Frase como, por exemplo: “os jovens de hoje não tem limites”, “não querem saber de nada”, “não estudam”, “são apáticos”, “sem educação”, tornaram-se comum. As escolas públicas são muito mais vulneráveis a esses problemas pelas suas características: plural, universalizada, composta por uma clientela heterogênea quanto à condição econômica, social e cultural.

A educação básica na escola pública vai mal. As universidades reclamam, dizem que os alunos que chegam as universidades tem informação, mas são incapazes de compreendê-las. De que será a culpa? Da escola? Dos educadores? Do Estado? Dos Jovens? A racionalidade nos indica que a culpa não é dos nossos jovens, afinal, eles não nasceram prontos, foram produzidos assim na configuração política e social em voga. Sabemos que desde que o “mundo é mundo” os jovens sempre manifestaram certa rebeldia. O que mudou foi à configuração da rebeldia. A indisciplina e a violência revelam-se cada vez mais cruel e perversa.

A indisciplina e a violência na escola é a reprodução da violência que ocorrem na sociedade. A escola não é desconectada da sociedade, faz parte dela. As condições políticas e sociais do país, má distribuição de renda, impunidade, corrupção, baixa escolaridade e de renda da maior parte da população são exemplos de problemas sociais que refletem na escola. Além disso, as mudanças sociais contemporâneas ocorridas no modelo de família refletem na formação dos jovens.  Atualmente os pais necessitam trabalhar, as crianças e adolescentes tem ficado cada vez mais aos cuidados de terceiros ou sós, numa fase da vida tão importante para a educação de valores indispensáveis à boa convivência humana. O pior é que, muitas vezes, a família não é referência. Esses problemas se agravam nas famílias de baixa renda, eles não podem pagar uma cuidadora capacitada ou colocar numa escola infantil de qualidade. Faltam vagas nas creches e de projetos alternativos que acolham essas crianças e adolescentes enquanto os pais trabalham.

Pois bem, esses jovens indisciplinados e violentos estão nas escolas, não é a maioria, mas são muitos. Não estão lá para estudar, estão ali porque a escola é um ambiente social deles ou porque são obrigados. No final dos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio os problemas se agravam. Aumentam à falta de respeito, alunos se recusam a fazer atividades e estudarem, atrapalham as aulas, brigas, xingamentos, palavrões, depredação do patrimônio público, bulling e ameaças são exemplos de ocorrências diárias no cotidiano das escolas. A figura do professor, que antes, e não faz muito tempo assim, talvez uns vinte ou trinta anos atrás, tinha a função de professar o conhecimento, hoje não é, mas assim. Hoje, ele tem que mediar conflitos, chamar atenção dos alunos, enfim, tentar primeiro manter a ordem para que a sala de aula tenha condições de fazer o que ele fazia antigamente.

 A questão é que manter a ordem da sala está cada vez mais difícil, os professore não obtém êxito. É humilhado, ameaçado e ofendido com palavrões. O bom aluno que tentar defender o professor e a ordem, também é ameaçado. Outros, menos violentos quando é chamado atenção, olham para o professor com “cara” de deboche e respondem: “tô suave”; “não dá nada não professora”. Ah! Vai me mandar para a diretoria? Vai chamar meus pais? Conselho Tutelar? Boletim de Ocorrência? Fica a vontade “fessora”. “Não dá nada não”. Suspensão? Que bom vou ficar uns dias em casa e ficar mais na internet, “na brisa”, vou curtir.

Os educadores trabalham em situações extremas de nervosismo, medo e angústia. Preparam aulas maravilhosas e não conseguem colocar em prática. Não é possível produzir se o ambiente e as condições não são favoráveis, o resultado é a baixa qualidade do ensino e não está pior porque muitos não desistem. A maioria é consciente de suas responsabilidades: transformar vidas, mudar a realidade caótica de muitas crianças e adolescentes, prepara-los para serem cidadãos críticos, conscientes, responsáveis e com uma formação moral e ética por uma sociedade melhor. O paradoxo é que eles são responsabilizados pelo fracasso e o insucesso escolar. Angústia dupla. Na hora de receber o salário, outra angústia.

Jovens, educadores e pais são vitimas do modelo educacional político social e histórico. A melhoria da qualidade da educação acontecerá na medida em que o país melhore a qualidade de vida da sua população, valorize a nossa cultura e desvincule do modelo de práticas curriculares eurocentrista, uniformizadora e colonizadora. Por enquanto, qualquer intervenção nas escolas é apenas um paliativo e isso não dispensa qualquer ação dos sistemas de ensino. Por exemplo, capacitar os educadores é muito importante, mas hoje não é esse o principal problema. O maior problema é tê-los. Ninguém quer ser professor com o salário que ganha e com as condições de trabalho vigente e se nada for feito a educação brasileira travará em breve.

sábado, 4 de maio de 2013

Direito de Greve - Programa Justiça do Trabalho nº142

Como os trabalhadores podem exercer o seu direito de entrar em greve? É o que vai nos explicar na entrevista do terceiro bloco o desembargador Claúdio Cassou Barbosa.

Matéria veiculada no programa Justiça do Trabalho nº 142, de 05 de setembro de 2011.

Assistam e tirem suas dúvidas.

A morte de um soldado no front. (esse será meu último texto) - Por Christian Longuin

A morte de um soldado no front. (esse será meu último texto)

Por Christian Longuin
Companheiros, sou da base. Não pertenço a nenhuma corrente política dentro do sindicato. Sou apenas, um professor. Há 13 anos sou servidor público estadual, e desde que entrei, sempre militei de forma ativa em todos os movimentos da categoria. Foi assim em 2000, 2005, 2008, 2010 e tem sido agora em 2013. 

Após uma década de derrotas a nós imputadas por esse nefasto governo tucano e pela minha descrença no poder de mobilização da articulação sindical, eu relutei em entrar nessa greve. Mas entrei. Entrei sabendo que ia perder, e de fato, perdi. Como sempre fiz, militei ativamente nessa greve visitando escolas, tomando o protagonismo, construindo minha própria historia. Dias inteiros visitando inúmeros companheiros nas mais diversas UEs de minha região, tirando $ da passagem do meu bolso muitas vezes sem sequer almoçar. Vivi intensamente cada instante dessa greve.

Não militei por acreditar que teríamos uma vitoria histórica, militei por que promover a consciência coletiva dos trabalhadores é para mim a maior de todos os satisfações da vida. Ouvi historias, ouvi angustias, ouvi receios e medos. Por todos os lugares que eu passei tentei esclarecer direitos, desconstruir mitos e motivar pessoas para a resistência.

Aguardei hoje com muita expectativa, pois queria expressar publicamente minha opinião. Tinha discordâncias sobre a condução do movimento e reforço, sou da base, logo, não tenho interesse político com nenhuma corrente. Porem, tive meu direito de expressão tolido.

Um sentimento de impotência tomou conta de mim. Comecei a chorar. Não por medo, mas por que eu vi que toda minha luta na base, no chão da escola, de fato pouco importou. Tomei consciência que essa greve não é para mim. Em nenhum momento foi levantada a questão da regulamentação da evolução funcional a partir do nível V, a aberração da promoção de faixas através de provas, ou seja, a questão crucial do plano de carreira, que é o que de fato interessa, não foi lembrada em nenhum momento. A questão dos tickets miseráveis, que muitos não recebem, do auxilio transporte e principalmente, o estabelecimento de um nível máximo de temporários, para que passado esse nível, houvesse abertura imediata de concursos, isso não foi levantado. O que ouvimos, a todo momento, foi O, O, O, O,O, O. É uma greve para a categoria O. 

Agora quero me dirigir a pessoa que tapou minha voz hoje. Sempre me dirigi a você, de forma muito respeitosa, e em que pese divergências, toda vez que me dirigia, usava a expressão, respeitosamente. Você pode vasculhar as postagens dessa comunidade e vera que em nenhum momento ofendi sua moral. Você conseguiu tirar a ultima gota de esperança que ainda ardia dentro de mim. Mas você me ajudou. Me ajudou a tomar consciência que estou numa luta na qual eu sempre sairei derrotado. Me ajudou a olhar para mim mesmo e escancarar a imediata necessidade que tenho de romper com essa letargia que se apoderou de mim e ver que de fato, eu preciso mudar de emprego, pois tenho apenas 33 anos e todo um futuro pela frente. 

Aos que sempre defendem a luta, dirão que esse é um discurso covarde. Que esse discurso “esta insatisfeito, então saia” é um discurso conformista, neoliberal e pelego. De fato é. Mas há um momento na vida em que você se vê tão só, e tão sem forcas, que a única forma que vc encontra é buscar a solução individual. E racionalmente, não vejo outra alternativa, a não ser, seguir meu caminho. Não estou abdicando da luta, não absolutamente. Eu lutei,lutei com todas as forcas, ao longo de 13 anos, mas morri no front. Começo a entrar em estado de decomposição. Já cheiro mal.

Ao companheiro que presenciou a cena de hoje peco, não cite nomes, não cite locais, não cite nada, não quero expor ninguém (por favor colega, respeite meu pedido). Que essa pessoa que fez isso comigo hoje, siga em paz e seja feliz. De verdade, desejo a essa pessoa, toda a paz, sem magoas ou rancor. Fim da historia, que cada um siga seu caminho. 

Não adianta querer mudar, pois a mudança sequer é desejada. Visitando escolas, percebi nitidamente que a presença dos comandos de greve é uma presença que incomoda. O professor em geral não gosta de nossa visita. Estão resignados e já aceitam como normal sua condição de exploração. A reflexão sobre a condição trabalhista não é bem vinda para muitos.

Ha um sem numero de categoria O que veem nessa greve, seu messias. Fui ofendido por um menino, que devia ter apenas uns 20 anos, categoria O. Deixe-os lutar a sua luta, é legitimo. Se querem apenas virar F, que sigam nessa senda. No lugar deles eu lutaria por concursos periódicos, mas cada qual tem seu sonho. O meu sonho, enfim, acabou. Eu sonhava com a emancipação total da classe trabalhadora e com o despertar da consciência coletiva do proletariado. Rsrsrsrs, isso não é um sonho, é uma utopia. O totalitarismo mercante triunfou amplamente e qualquer sonho coletivo, não passa de uma pueril ilusão.

Segunda feira pela primeira vez voltarei para a escola antes do fim da greve. Para mim, não faz mais sentido essa luta. Fiquem a vontade para me chamar de pelego, de covarde, enfim, sintam-se livres para tripudiar sobre meu cadáver  especialmente aqueles que me disseram "você é um idiota por entrar nessa greve". Para tudo na vida há um limite e o meu chegou. Aqui no front, sozinho, ensanguentado, com o corpo duro e gelado, crivado de balas, despeço-me de todos os companheiros que ainda seguirão nessa luta. A infantaria precisa avançar. Apenas peco que sepultem meu corpo em um local digno, pois digno fui em toda a minha trajetória de luta. 

quinta-feira, 2 de maio de 2013

MEC desmente reportagem da Folha

O Ministério da Educação desmentiu reportagem publicada pelo jornal Folha de S. Paulo nesta quinta-feira (02/05). O jornal afirmou que o MEC lançaria programa de incentivo à docência nas áreas de Matemática, Química, Física e Biologia, com curso de pós-graduação para docentes, no qual a entrega do diploma aos professores estaria vinculado à melhora do desempenho dos alunos.

Evasão no ensino de ciências exige programas específicos

Por: Nelio Bizzo

O desempenho dos estudantes brasileiros nas áreas científicas seguramente não é bom, ainda que não haja elementos concretos de sua evolução na última década.

Isso se deve à decisão de excluir essa área das provas do Saeb (avaliação federal) há 13 anos, quando o país aderiu ao Pisa, um programa internacional de avaliação.

Se por um lado não há dados concretos, a acentuada falta de professores em disciplinas científicas e a alta evasão nos cursos de licenciatura, ao lado dos dados do Pisa, são evidências claras de que a situação se agrava.

Pesquisas de abrangência nacional realizadas por nosso núcleo na USP indicam que os jovens do ensino médio das regiões mais desenvolvidas economicamente tendem a evitar as carreiras científicas, o que ocorre em outros países.

Isso sugere que o apagão de mão de obra qualificada tende a se acentuar nas próximas décadas, o que traria efeitos perversos no desenvolvimento do país. Programa específico para a área é mais do que necessário, antes que seja tarde.

A estratégia de abrir diversas frentes de atuação, no ensino médio, na universidade e na formação dos professores em exercício, é boa, mas não pode deixar de enfrentar a tendência que temos constatado no ensino médio, mencionada acima, que desvia os jovens das carreiras relacionadas a ciência e tecnologia.

A criação de mestrados profissionalizantes para professores é necessária, e já está em curso, mas pode agravar a já confusa normatização da certificação profissional do magistério no país.

Por exemplo, se professores de matemática das redes de ensino obtiverem um diploma de mestrado profissional em ensino de física, a evasão dessa licenciatura pode se acentuar, pois tornará ainda menor o mercado de trabalho dos professores apenas com a licenciatura em física.

Além disso, a vinculação da certificação dos professores ao desempenho de seus alunos é problemática e pode desestimular a adesão em todas as áreas.

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Nelio Bizzo é coordenador científico do Núcleo de Pesquisa em Educação, Divulgação e Epistemologia da Evolução da USP

Texto relacionado

Professores terão de melhorar alunos para ganhar diploma

O texto abaixo foi publicado hoje na Folha de S. Paulo. Fala sobre a falta de docentes formados em Matemática, Física, Química e Biologia. Também da necessidade de os professores melhorarem o desempenho dos alunos, se quiserem conquistar o diploma de um curso de pós-graduação que o governo pretende oferecer para aqueles que se "aventurem" a estudar estes programas para ter progressão na carreira e melhorar seus salários.

Alunos de ensino médio também vão ser estimulados a seguir estas áreas.

Mas, será que o(s) governo(s) vai/vão dar a estrutura necessária para a atuação nestas áreas. Por exemplo, vai haver laboratórios de química e biologia? Qual será a obrigatoriedade dos governos? Se o governo não cumprir sua parte, os professores também serão isentos de melhorar o desempenho dos alunos? A obrigatoriedade da "melhora" não pode recair somente sobre os professores.

O que você acha? Leia o texto abaixo e a “análise” e dê sua opinião.
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Professores terão de melhorar alunos para ganhar diploma

O Ministério da Educação lançará nas próximas semanas programa para tentar melhorar o desempenho de alunos e professores em matemática, física, química e biologia, tanto no ensino médio quanto no superior.

As quatro matérias são as que mais possuem problemas de qualidade, de acordo com o próprio governo federal.

Uma das ações será a oferta de pós-graduação em universidades federais e privadas a professores que lecionam as disciplinas nas escolas públicas de ensino médio.

O certificado garantirá aumento salarial ao docente (progressão na carreira), mas só será concedido se houver a comprovação de que seus estudantes melhoraram --exigência inédita em programas federais de educação.

"Hoje, gasta-se muito com formação dos professores, mas a melhoria não chega aos alunos", disse Mozart Neves, que coordenará o programa do Ministério da Educação.

A forma de avaliar a evolução dos estudantes não está definida. O docente reprovado poderá refazer o curso.

O número de professores participantes do programa dependerá da adesão dos Estados, que são os responsáveis pelos docentes.

O país tem cerca de 250 mil docentes de ensino médio em matemática, física, química e biologia, segundo os últimos dados do governo. Mas boa parte não tem formação na área --em física, são 90%.

OUTRAS FRENTES
"Temos um número insuficiente de professores nessas áreas. E a procura pelas licenciaturas é insuficiente", disse o ministro da Educação, Aloizio Mercadante. Para tentar reverter o quadro, o programa terá outras duas frentes.

Em uma delas, o governo tentará incentivar alunos do ensino médio a escolherem o magistério nessas áreas.

Para isso, estudantes com interesse nessas matérias passarão a ter aulas de reforço e ganharão ajuda mensal de R$ 150 (paga pela União).

Eles participarão também de atividades nas universidades em grupos que reunirão docentes universitários, alunos de licenciaturas e professores das escolas básicas. A meta é recrutar 100 mil estudantes do ensino médio.

Em outra frente, os estudantes que já estão nas licenciaturas poderão fazer aulas de reforço nos conteúdos básicos, numa tentativa de diminuir a evasão nos cursos.

Ex-diretor da Unesco no Brasil (braço da ONU para educação), Jorge Werthein diz que o programa é interessante. Ele faz, porém, ressalva sobre a vinculação do certificado de pós-graduação ao professor à melhoria dos alunos.

"Ainda não se encontrou uma boa forma de avaliar o trabalho do professor. Pode haver injustiças."

Leia análise: