quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Educação acaba em Pisa

Paulo Flores

Além da feijoada, o “cardápio” desta quarta-feira (8/12) tinha muito Pisa. Veja bem, não é pizza, é Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos). Consequência da divulgação do resultado da avaliação realizada pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) a cada três anos, com a finalidade de medir a qualidade da educação nos países desenvolvidos e em outros convidados a participarem da avaliação, como o Brasil.

A maioria (se não todos) dos veículos da chamada “grande imprensa” estampou em suas capas chamadas para reportagens sobre o desempenho do Brasil no Pisa.

Alguns textos exaltavam a melhora do Brasil na pontuação obtida no exame realizado em 2009, na comparação com o anterior, realizado em 2006. Expunham informação creditada ao MEC de que o país é o terceiro em melhora de desempenho desde o início da pesquisa, em 2000.

Houve também aqueles que menosprezaram a suposta melhora no desempenho dos estudantes brasileiros. Preferiram se apegar ao fato de que, mesmo com a melhora de desempenho, o país ainda é um dos últimos na avaliação (53º colocado entre 65 países avaliados). Esses também ressaltaram que os estudantes brasileiros estão bem abaixo da média. Mais da metade não consegue decifrar informações implícitas em um texto curto.

“Estudantes, esses burros!”. Isso é o que pode transparecer as reportagens. Mas, elas também deixam claro que o Governo (Federal é claro) é o culpado pela mazela educacional brasileira, apesar de as escolas públicas federais terem tido desempenho superior até mesmo ao das escolas particulares e serem as escolas públicas estaduais e municipais as que puxam para baixo a classificação brasileira.

Para a elaboração do ranking da educação mundial, a OCDE leva em conta a resposta dos alunos de 15 anos (independentemente da série/ano/ciclo que ele esteja) a questões de leitura, matemática e ciências.

Claro que os jornalistas, corretamente, tratam de embasar seus textos em opiniões de especialistas e apresentam as “receitas” para a melhora da educação no país.

Mas, nenhuma das reportagens que li citou que o Plano Nacional de Educação (PNE) em vigor tem vigência somente até o final de 2010. Que de 2011 até 2020 deve vigorar um outro PNE, mas que o Governo, por meio do Ministério da Educação, adia sua apresentação faz meses. Como podemos melhorar a educação com plano apresentados em “atropelos”?

Diversas entidades, entre elas a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), a Ação Educativa e a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), que fazem parte da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, lançaram o manifesto “A educação não pode esperar”, no qual criticam os constantes adiamentos de apresentação do PNE 2011-2020 e falam da importância do mesmo.

As receitas apresentadas para a melhoria da educação têm como seus principais ingredientes o aumento dos investimentos e o planejamento, mas, sem o PNE, tudo acaba em Pisa.
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Obs.: A imagem é do artigo com algumas edições, publicado no Jornal da Tarde (São Paulo), em 16/12/2010.

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