quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

GT levará propostas de educação para a Rio +20

Vanessa Ramos (Observatório da Educação)

A poucos meses da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), que será sediada pelo Brasil em junho, grupos da sociedade civil se preparam, paralelamente, para intervir nos debates do evento internacional.

No campo da educação, um Grupo de Trabalho (GT) foi constituído por diferentes entidades da sociedade civil, e há meses vem se organizando e elaborando materiais. Em novembro, foi realizado um amplo debate virtual sobre temas educacionais para discutir propostas frente ao modelo atual.

Integram o grupo o Conselho Internacional pela Educação de Adultos (ICAE), a Campanha Latino-Americana pelo Direito à Educação (Clade), o Fórum Mundial de Educação (FME), o CEAAL (Conselho de Educação de Adultos de América Latina), a Jornada Internacional de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global e a Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso).

Os acúmulos do GT foram levados ao Fórum Social Temático e ao Fórum Mundial de Educação (veja mais). A educação é debatida nesses espaços em suas relações com a crise capitalista, a questão ambiental e a justiça social.

Debates GT Educação
De 24 de novembro a 8 de dezembro último, o GT Educação organizou um intercâmbio virtual cujo tema foi “Educação em um Mundo em Crise: Limites e Possibilidades frente à RIO + 20”. Nesse espaço, muitos intelectuais, representantes de organizações e educadores/as prepararam textos (veja quadro) para reflexões e debateram os temas a distância.

Entre os objetivos estabelecidos pelo GT, no momento preparatório ao FST e à Cúpula dos Povos, estavam “promover uma análise de ‘interligação’ da educação de jovens e adultos aos principais temas a serem discutidos no âmbito do processo de Rio +20; repensar as necessidades de aprendizagem para um mundo em que valha a pena viver, no contexto de mudança de paradigmas, e ampliar a oportunidade de alianças das redes e os movimentos que trabalham pelo direito à educação com outros movimentos e organizações da sociedade civil”.

Na educação, “o sistema de ensino básico, secundário e superior vigente tem sido considerado a pedra angular do modelo neoliberal” afirma em texto Graciela Rubio, da Universidade de Granada, Espanha.

“Para superar a atual situação, a aposta é no protagonismo da sociedade civil frente ao imobilismo de grande parte dos governos, impotentes frente ao que se apresenta e envolvidos pelos interesses das grandes corporações e do sistema financeiro mundial”, explica, em texto introdutório do GT, Sérgio Haddad, da Ação Educativa.

Sobre as reflexões do GT Educação, Camilla Croso, da Clade, aponta que “está sendo um processo interessante e penso que a metodologia é acertada. Mas tem-se desafios grandes no como envolver o movimento estudantil, sindicatos e professores (nesse processo)”, diz.

FST e preparações para o futuro
Para o GT de educação, a “Rio+20 se desenvolve em uma conjuntura global de crise. Não assistimos apenas às consequências residuais da crise financeira de 2008, mas a uma crise de maior magnitude em todos os indicadores sociais e econômicos. Embora o olhar de analistas e da opinião pública esteja focalizado na Europa e nos Estados Unidos, a conjuntura manifesta sinais de colapso (em um sentido mais dramático) e de esgotamento de um modelo de desenvolvimento capitalista de tipo neoliberal”.

O GT esteve presente no Fórum Social Temático (FST), ocorrido no final de janeiro. A sua sugestão foi de ampliação do debate e organização de propostas rumo à Rio + 20. Para Croso, o fórum foi parte importante de um processo. Ela afirma que o GT não saiu do FST com agenda estabelecida, mas houve avanço na consolidação das reflexões. “Nós geramos consensos, avançamos”, afirma.

“Essas e outras manifestações e articulações de movimentos da sociedade civil nos levam a perguntar como podemos visibilizar as lutas de resistência e em defesa de uma educação pública de qualidade, e que são portadoras do futuro agora? Como, enquanto educadoras/es, podemos barrar a mercantilização da vida, a privatização da natureza e dos bens comuns? Como potencializar as estratégias de luta e articulação e as campanhas existentes em prol de uma educação de qualidade?”, questiona em texto Haddad.

“A educação deve ser proposta como tema crucial, com conteúdos de uma transformação paradigmática do pensamento social, político e econômico, que imagine e crie as condiciones culturais de um novo modo de configurar o futuro”, aponta o GT de educação.

Em breve, será apresentada a síntese do GT, de poucos parágrafos, a partir das discussões ocorridas no FST. Esse material, somado aos textos elaborados pelas organizações que compõe o GT, será importante subsídio para o encontro da Cúpula dos Povos, que também acontecerá em junho.

Fórum pensa educação para a sustentabilidade

Fórum Mundial de Educação 2012 fez parte de processo de debates que culminará na Rio + 20; educadores têm papel preponderante na mudança de paradigma da educação

Aconteceu na semana passada – de 24 a 29 de janeiro – o Fórum Mundial de Educação (FME), junto com o Fórum Social Temático (FST) 2012, ambos inseridos no processo do Fórum Social Mundial 2012. O principal objetivo dos encontros, realizados no Rio Grande do Sul, foi a preparação para a Rio + 20 – Conferência das Nações Unidas sobre desenvolvimento sustentável, que vai acontecer em junho deste ano.

Além do Fórum de educação, outros encontros como os de Mídia Livre e o Cidades Sustentáveis fizeram parte do FST. Essa edição, por anteceder a Rio + 20 e a “Cúpula dos Povos” (evento da sociedade civil paralelo ao evento oficial da ONU, que tentará influenciar os debates e decisões) teve como tema Crise Capitalista, Justiça Social e Ambiental. A ideia de Fóruns Temáticos, como parte do processo do Fórum Social Mundial, começou em 2001 no Brasil, e pretende concentrar pensamentos alternativos sobre um tema específico.

No FME, discutiu-se como a educação deveria ser pensada para a construção de um mundo mais sustentável. “A educação trabalhou, entre outras coisas, com os vários temas ligados à forma como educadores e educadores poderiam se integrar nesse processo da preparação da Rio + 20”, afirmou ao Observatório Sérgio Haddad, palestrante do Fórum Mundial de Educação. Haddad é economista, doutor em educação, coordenador geral da ONG Ação Educativa e membro do Grupo de Reflexão e Apoio ao Processo do Fórum Social Mundial.

As discussões centraram-se em análises sobre a conjuntura em crise, os limites do capitalismo e as consequências de natureza social e ambiental. A conjuntura de crise, segundo Haddad, aponta que a conferência avançará muito pouco sobre determinação de natureza social e ambiental, para criar um mundo sustentável – nos aspectos ambiental e também social.

Camilla Croso, da Campanha Latino-Americana pelo Direito à Educação (Clade), acredita que o Fórum de Educação esteve mais integrado ao Fórum Temático, e ao Fórum Social Mundial como um todo, do que nas últimas edições – fator que considerou positivo: “Isso permite que movimentos de educação dialoguem com demais movimentos”.

A preparação para a cúpula dos Povos não começou nesse Fórum, foi a continuação de um processo. O resultado não foi um documento fechado, explicou Camila. “Não saímos de lá com agenda fechada, mas com reflexão mais consolidada. No Grupo de Trabalho (GT) de educação, fizemos um esforço de síntese a partir de diversos debates”.

Esse esforço de síntese rendeu um pequeno texto com 3 ou 4 parágrafos, disse, que apesar de não exprimir uma posição fechada, gera consensos. "Temos avanços", opinou, divergindo de outros participantes do Fórum, como o professor de Sociologia da UERJ, Emir Sader. Para ele, não é positivo sair sem posições mais fechadas: "não se tira resolução nenhuma, não leva a nada. Elas [as ONGs] são contra qualquer decisão, então não se tira documento nenhum. É só troca de experiências", criticou.

Camilla afirmou que o texto emitido tem como foco a importância da gestão democrática nos processos de decisão, que visa "consolidar a democracia e repensar o modelo de desenvolvimento". Outro ponto é a mudança de paradigma da educação: "que possa promover cidadania crítica, processo de reflexão e permita que comunidade educativa possa ter leitura crítica da realidade social e se coloque em posição de questioná-la e mudá-la".

E, com a educação crítica, o texto também aborda a escola mais ancorada no seu contexto histórico-cultural, para pensar em soluções para a comunidade em que está inserida.

O papel do educador
Sérgio Haddad, palestrante convidado na primeira mesa do Fórum, diz que, para uma mudança de paradigma de desenvolvimento e de perspectiva que o Fórum Social Mundial busca, é necessário debater os processos educativos. Para, no mínimo, "discutir temáticas e aumentar a consciência das pessoas sobre o limite do [atual] modelo civilizatório".

Para quaisquer mudanças individuais ou coletivas, explica, desde a preservação do meio ambiente até processos coletivos de políticas públicas, os educadores têm um papel preponderante. Mas, além dessa função de ensinar novas culturas sustentáveis, o grande problema da educação é que "todo modelo educativo é voltado a perspectivas de desenvolvimento baseadas no aumento da produção e do consumo. Desenvolver é fazer com que todos entrem no mercado de trabalho. Que todos tenham dinheiro pra comprar o que quiser... o valor das pessoas não é dado pelo que as pessoas são, mas pelo que elas têm, pelo que elas ganham. Essa é a grande questão", resume.

Para se mudar o modelo de desenvolvimento, e os comportamentos, "valorizar o ser humano com seu ambiente", para tudo isso a educação tem um papel fundamental.

A edição desse Fórum Social Temático
Para Camilla Croso, este ano o Fórum Temático foi mais esvaziado. Mas uma virtude foi ter permitido não só macro discussões sobre a crise do capitalismo, mas que GTs (Grupo de Trabalho) se reunissem tematicamente.

Tanto Camilla quanto o professor Emir Sader sentiram que havia pouca representação dos novos movimentos sociais, que estão pulsando mundo afora, como os indignados da Espanha, o movimento estudantil do Chile, os protestantes do norte da África que ganharam destaque com a chamada "Primavera Árabe".

Na programação do evento, havia participantes de movimentos como o Ocupe Wall Street e Londres, além de estudantes do movimento chileno. Houve também uma mesa específica sobre as revoltas árabes. Para as próximas edições, disse Camilla, o FST tem que buscar maior aproximação com esses movimentos.

Chamou atenção também a falta de líderes de governos latino-americanos. O presidente do Uruguai, por exemplo, confirmou um debate com a presidenta Dilma Roussef, mas não veio. "Talvez isso tenha sido sintoma de momento desse fenômeno de esvaziamento", preocupa-se Camilla. "Não sei se isso tem a ver com falta de aposta de diálogo dos governos com sociedade civil". Mas, para Sader, o motivo do não comparecimento dos líderes foi devido a um recorte do Fórum, de ser feito por e para a sociedade civil.

Para ele, o Fórum Mundial de Educação foi mais exitoso, por ser “voltado pra questões concretas”.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Chuchu engasga

Em uma entrevista ao Grupo Estado, por ocasião da disputa eleitoral de 2010, um eleitor de Bauru (interior de São Paulo) pergunta ao então candidato Chuchu Alckmin: "O senhor colocaria hoje seus filhos e netos em escola pública?". O vídeo tem apenas 49 segundos. A imagem mostra o que o governador pensa sobre a educação pública no estado de São Paulo.





Agora eu pergunto: O que o Chuchu fez para melhorar?

sábado, 21 de janeiro de 2012

Mudando Paradigmas na Educação

Esse vídeo de animação, produzido de forma semelhante ao História das Coisas, pode nos ajudar, e muito, a refletir sobre a educação. Tem apenas 11 minutos e 40 segundos. Perca um tempinho. Pode trazer muitas boas reflexões.


Nascimento da Luiza no programa da Plin Plin


Concordo que tanto o programa do canal Plin Plin, que me recuso a dizer o nome e colocar o link aqui, quanto o meme da Luiza são duas futilidades. Até hoje me recusei a postar qualquer coisa sobre ambos os assuntos. Não vejo o programa que até o Boni disse ser ruim e não peguei a onda do Canadá. Com certeza existem coisas mais sérias para serem tratadas neste país de desigualdades.

Mas, minha concordância com o Nascimento vai somente até aí. Uma coisa é eu manter minha chatice e me recusar a ver a “grande merda Brasil” e não reproduzir toda corrente que recebo (meme - outra definição). Outra coisa é eu chamar todo mundo que faz isso de idiota. Cada qual faz o que quer.
Mas, a liberdade incomoda quem está acostumado a mandar e ser obedecido sem que ninguém o retruque.

Quando o Lula assumiu o governo do Brasil e ousou fazer algo diferente daquilo que todos os “lambe-saco” dos States tinham feito até então, quando fingiram assumir o governo (na verdade mantiveram o mando nas mãos do Tio San), as pessoas o criticavam. “Como pode ir contra os Estados Unidos? Eles são os maiores compradores de nossos produtos.”

Estas mesmas pessoas têm posições diferentes para o mesmo tipo de manifestação de rua. Quando elas ocorrem nos países árabes, o povo está “clamando” por democracia. Se os governos tentam impedi-las, estão usando a força para manter a ditadura. Mas, quando a manifestação é a Ocupe Wall Street não se fala que o povo quer democracia, tampouco se diz que o governo está sendo antidemocrático quando tira à força os manifestantes da praça.

O que certas pessoas precisam entender é que cada vez mais a sociedade, em todo o mundo, está deixando de ser controlada pela TV e suas "manias" (espero). Está assumindo sua liberdade. Em que pese apenas estar havendo uma troca de "senhores" (da TV para a Internet), pelo menos pode haver uma ampliação do número dos "ditadores de pauta”. A velha mídia ainda é senhora e soberana do mundo da informação, mas a tendência é que haja uma divisão do poder, uma "democratização". Tem gente que está com medo.

Cabe aos educadores, tanto os responsáveis pela educação formal quanto os educadores populares e membros de movimentos sociais, repercutir essa reflexão e fazer todas as pessoas entenderem que elas são livres para pensar o que e como quiserem, sem a manipulação dos meios de comunicação, incluindo a Internet e suas redes sociais. Nesta reflexão, é preciso ficar claro que não existe imparcialidade nos meios de comunicação. Aliás, não existe imparcialidade em nada neste mundo. Todos, mesmo que instintivamente, “puxam a sardinha” para seu lado. Por isso, não podemos ler ou ver alguma coisa e tomar aquilo como se fosse verdade absoluta e incontestável. Precisamos sempre ouvir o outro lado, olhar por outro ângulo.