quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Fórum pensa educação para a sustentabilidade

Fórum Mundial de Educação 2012 fez parte de processo de debates que culminará na Rio + 20; educadores têm papel preponderante na mudança de paradigma da educação

Aconteceu na semana passada – de 24 a 29 de janeiro – o Fórum Mundial de Educação (FME), junto com o Fórum Social Temático (FST) 2012, ambos inseridos no processo do Fórum Social Mundial 2012. O principal objetivo dos encontros, realizados no Rio Grande do Sul, foi a preparação para a Rio + 20 – Conferência das Nações Unidas sobre desenvolvimento sustentável, que vai acontecer em junho deste ano.

Além do Fórum de educação, outros encontros como os de Mídia Livre e o Cidades Sustentáveis fizeram parte do FST. Essa edição, por anteceder a Rio + 20 e a “Cúpula dos Povos” (evento da sociedade civil paralelo ao evento oficial da ONU, que tentará influenciar os debates e decisões) teve como tema Crise Capitalista, Justiça Social e Ambiental. A ideia de Fóruns Temáticos, como parte do processo do Fórum Social Mundial, começou em 2001 no Brasil, e pretende concentrar pensamentos alternativos sobre um tema específico.

No FME, discutiu-se como a educação deveria ser pensada para a construção de um mundo mais sustentável. “A educação trabalhou, entre outras coisas, com os vários temas ligados à forma como educadores e educadores poderiam se integrar nesse processo da preparação da Rio + 20”, afirmou ao Observatório Sérgio Haddad, palestrante do Fórum Mundial de Educação. Haddad é economista, doutor em educação, coordenador geral da ONG Ação Educativa e membro do Grupo de Reflexão e Apoio ao Processo do Fórum Social Mundial.

As discussões centraram-se em análises sobre a conjuntura em crise, os limites do capitalismo e as consequências de natureza social e ambiental. A conjuntura de crise, segundo Haddad, aponta que a conferência avançará muito pouco sobre determinação de natureza social e ambiental, para criar um mundo sustentável – nos aspectos ambiental e também social.

Camilla Croso, da Campanha Latino-Americana pelo Direito à Educação (Clade), acredita que o Fórum de Educação esteve mais integrado ao Fórum Temático, e ao Fórum Social Mundial como um todo, do que nas últimas edições – fator que considerou positivo: “Isso permite que movimentos de educação dialoguem com demais movimentos”.

A preparação para a cúpula dos Povos não começou nesse Fórum, foi a continuação de um processo. O resultado não foi um documento fechado, explicou Camila. “Não saímos de lá com agenda fechada, mas com reflexão mais consolidada. No Grupo de Trabalho (GT) de educação, fizemos um esforço de síntese a partir de diversos debates”.

Esse esforço de síntese rendeu um pequeno texto com 3 ou 4 parágrafos, disse, que apesar de não exprimir uma posição fechada, gera consensos. "Temos avanços", opinou, divergindo de outros participantes do Fórum, como o professor de Sociologia da UERJ, Emir Sader. Para ele, não é positivo sair sem posições mais fechadas: "não se tira resolução nenhuma, não leva a nada. Elas [as ONGs] são contra qualquer decisão, então não se tira documento nenhum. É só troca de experiências", criticou.

Camilla afirmou que o texto emitido tem como foco a importância da gestão democrática nos processos de decisão, que visa "consolidar a democracia e repensar o modelo de desenvolvimento". Outro ponto é a mudança de paradigma da educação: "que possa promover cidadania crítica, processo de reflexão e permita que comunidade educativa possa ter leitura crítica da realidade social e se coloque em posição de questioná-la e mudá-la".

E, com a educação crítica, o texto também aborda a escola mais ancorada no seu contexto histórico-cultural, para pensar em soluções para a comunidade em que está inserida.

O papel do educador
Sérgio Haddad, palestrante convidado na primeira mesa do Fórum, diz que, para uma mudança de paradigma de desenvolvimento e de perspectiva que o Fórum Social Mundial busca, é necessário debater os processos educativos. Para, no mínimo, "discutir temáticas e aumentar a consciência das pessoas sobre o limite do [atual] modelo civilizatório".

Para quaisquer mudanças individuais ou coletivas, explica, desde a preservação do meio ambiente até processos coletivos de políticas públicas, os educadores têm um papel preponderante. Mas, além dessa função de ensinar novas culturas sustentáveis, o grande problema da educação é que "todo modelo educativo é voltado a perspectivas de desenvolvimento baseadas no aumento da produção e do consumo. Desenvolver é fazer com que todos entrem no mercado de trabalho. Que todos tenham dinheiro pra comprar o que quiser... o valor das pessoas não é dado pelo que as pessoas são, mas pelo que elas têm, pelo que elas ganham. Essa é a grande questão", resume.

Para se mudar o modelo de desenvolvimento, e os comportamentos, "valorizar o ser humano com seu ambiente", para tudo isso a educação tem um papel fundamental.

A edição desse Fórum Social Temático
Para Camilla Croso, este ano o Fórum Temático foi mais esvaziado. Mas uma virtude foi ter permitido não só macro discussões sobre a crise do capitalismo, mas que GTs (Grupo de Trabalho) se reunissem tematicamente.

Tanto Camilla quanto o professor Emir Sader sentiram que havia pouca representação dos novos movimentos sociais, que estão pulsando mundo afora, como os indignados da Espanha, o movimento estudantil do Chile, os protestantes do norte da África que ganharam destaque com a chamada "Primavera Árabe".

Na programação do evento, havia participantes de movimentos como o Ocupe Wall Street e Londres, além de estudantes do movimento chileno. Houve também uma mesa específica sobre as revoltas árabes. Para as próximas edições, disse Camilla, o FST tem que buscar maior aproximação com esses movimentos.

Chamou atenção também a falta de líderes de governos latino-americanos. O presidente do Uruguai, por exemplo, confirmou um debate com a presidenta Dilma Roussef, mas não veio. "Talvez isso tenha sido sintoma de momento desse fenômeno de esvaziamento", preocupa-se Camilla. "Não sei se isso tem a ver com falta de aposta de diálogo dos governos com sociedade civil". Mas, para Sader, o motivo do não comparecimento dos líderes foi devido a um recorte do Fórum, de ser feito por e para a sociedade civil.

Para ele, o Fórum Mundial de Educação foi mais exitoso, por ser “voltado pra questões concretas”.

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