terça-feira, 21 de julho de 2009

A educação que temos e a educação que queremos

(Caio Andrade)

Nós, jovens de 15 a 24 anos de idade, somos mais de 18% dos 190 milhões de brasileiros. Somos negros, brancos, mulheres, homens e, na maioria das vezes, pobres. Ouvimos dizer por aí que somos o amanhã de uma nação do futuro… só que esse papo de futuro já tá rolando há um tempão e estamos cansando de esperar: estamos no final da primeira década do século XXI e no Brasil 11% da população com mais de 15 anos é analfabeta. Para termos uma idéia do que isso significa, é só darmos uma olhada nos índices dos nossos vizinhos: Uruguai – 2%; Cuba – 2,7%; Argentina – 2,8%; Chile – 3,5%; Costa Rica – 3,8%; Paraguai – 5,6% e por aí vai… será que é melhor a gente esperar o futuro ou fazer história agora?

Tudo bem que de 2001 a 2006 o analfabetismo entre jovens no Brasil caiu de 4,2% para 2,4%. Mas vale a pena olharmos para as desigualdades regionais: essa taxa em Alagoas é de 8,2% e em São Paulo é de 0,7%. Ah, então SP está muito bem!? Em SP há 7.235.481 jovens e 0,7% disso dá 50.648 jovens. Em AL há 589.522 jovens e 8.2% disso dá 48.840 (caraca, são muitos jovens analfabetos!). SP está há anos sob o comando do PSDB e, mesmo sendo o estado mais rico do país está longe de ter a melhor educação pública. AL colhe ainda hoje os frutos que os coronéis não pararam de plantar e, tragicamente, é o estado com maior índice de analfabetismo entre jovens.

Tem mais: a zona rural apresenta taxas de analfabetismo quatro vezes maior (6,4%) que as de zona urbana (1,6%). Também não dá para esquecer que entre a quinta parte (1/5 ou quintil) mais pobre dos jovens brasileiros a taxa de analfabetos é de 6,4% enquanto que na quinta parte mais rica essa taxa é de 0,4%. Essas disparidades se somam a uma outra tão perversa quanto: entre os e as jovens negros e negras o índice de analfabetismo é de 3,3% enquanto entre brancos é de 1,4%, isto é, duas vezes e meia menor.

A evasão escolar e a defasagem idade/série também nos preocupam: metade de todos e todas os/as jovens do Brasil está fora da escola e só 1/3 está cursando estudos em nível compatível com sua idade. Entre os que estudamos, a décima parte (1/10) mais pobre não chega a ocupar 1% das vagas no nível superior. Os 1/10 mais ricos ocupam 54% das vagas nas universidades! A gente não respeita as diferenças e com as desigualdades a gente se conforma!

Na educação básica, segundo o SAEB (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica), 94% dos jovens não apresenta formação adequada, o que coloca o Brasil na 52ª posição entre os 57 países participantes do PISA (Programa Internacional de Avaliação dos Alunos). Como a gente aceita isso!?

"Temos mil razões para viver" indignados e acreditando na mudança.

E ainda tem gente dizendo que se universalizou a educação básica no Brasil… mas aqui a educação mesmo ainda é para poucos: brancos, ricos e urbanos. Não é assim que se constrói um país justo e democrático! Queremos uma educação para todos e não só nas estatísticas, mas também uma educação de qualidade de verdade. Não adianta ter muitos diplomas e pouca formação. Queremos uma educação que nos liberte em vez dessa que nos treina para manter o mundo do jeito que está.

Por que o Brasil tem o oitavo maior PIB (Produto Interno Bruto) do mundo, mas tem essas estatísticas vergonhosas quando o assunto é a educação do seu povo? O lema federal diz "Brasil, um país de todos". Ora, se o Brasil fosse um país da maioria a gente já estaria menos insatisfeito. Aí o slogan bem que podia ser "Brasil, um país do povo".

NOTA: E como sabemos desses números!? Andaram escrevendo aí sobre a gente um tal de Relatório de Desenvolvimento Juvenil. Aliás esse último de 2007 já é o terceiro – em 2003 e 2005 a Rede de Informação Tecnológica Latino Americana (RITLA) e o Instituto Sangari em parceria com o Ministério da Ciência e Tecnologia publicaram essa pesquisa também.

Um comentário:

  1. Opa! É uma honra ver meu texto aqui! Esse e outros estão no meu blog tb, que aliás vc será muito bem vindo em participar tb Lobinho, assim como eu sigo o seu... ABRAÇOS!

    ResponderExcluir