terça-feira, 9 de agosto de 2011

O paradoxo do ensino médio


O jornal Folha de S. Paulo publicou hoje o texto com o título desta postagem: O paradoxo do ensino médio.

O autor, Fernando Veloso, foi muito feliz em suas colocações. Ele explica que, apesar da baixa qualidade, o ensino médio pode representar ganhos significativos para os jovens que o concluem. Se não em conhecimento e desenvolvimento cognitivo, pelo menos na possibilidade de verem a média salarial aumentar em mais de 30% em relação ao salário daqueles que cursaram apenas o ensino fundamental. Mas, segundo o autor, o paradoxo é que, mesmo com esse retorno monetário, ainda são baixas as taxas de matrícula e de conclusão no ensino médio.

Veloso aponta duas possibilidades pelo desinteresse dos jovens pelo ensino médio: 1. O aumento percentual de salário para o grupo específico de jovens que preferem não completar o ensino médio não seria tão grande quanto a média percentual de retorno monetário apresentada; 2. Os jovens desconhecem a informação do possível aumento percentual de salário para os concluintes do ensino médio.

Vale ressaltar que o texto se vale de reportagens publicadas no mesmo jornal (Folha de S. Paulo) que afirmam que 40% dos jovens evadem o ensino médio não por ter que trabalhar para ajudar a família, como muitos pensavam, mas por falta de interesse.

Eu aponto um terceiro possível motivo. O ensino médio está tão ruim e tão desvinculado da vida dos jovens que, mesmo sabendo do retorno financeiro, os jovens não conseguem permanecer na escola e evadem. Desacreditam que tamanha falta de nexo possa levar as empresas, mesmo conhecedoras da baixa qualidade da educação, concordarem em conceder aumentos salariais apenas por um papel chamado diploma. Pensando dessa forma, digo: Realmente o diploma não deveria valer tanto. O que deveria ter valor é a boa educação, a boa estrutura, o bom conteúdo, a boa aula... não uma folha de papel.

Aliás, para não dizer que estou comparando fontes diferentes, o mesmo jornal (Folha de S. Paulo), publicou no dia 20 de março de 2011, a reportagem Escolarizado é maioria entre desocupados na qual informa que faltam vagas para jovens que concluíram o ensino médio e sobram para aqueles que têm somente o fundamental, justamente porque as vagas disponíveis são para cargos com menores salários. Caramba! Que paradoxo! Se eu concluo o ensino médio não tenho vaga de trabalho, se não concluo ganho um salário-de-fome... Vladimir Lênin diria: Que fazer?* Mas, o jornal aponta que Mudança exige que trabalhador de nível médio ajuste expectativa, que País precisa aumentar formação técnica e que Falta de experiência afeta pessoas de baixa renda.

"O pulso ainda pulsa" e o paradoxo permanece.

*Livro no qual Lênin aponta caminhos e ações a serem seguidos para se efetivar e se manter a revolução operária, para dar uma explicação básica.

5 comentários:

  1. Muito bom este texto! É o real paradoxo!!!
    Elisângela Duarte

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  2. Oi, Elisangela! Obrigado pelo comentário. Já que você gostou do texto, indique para outras pessoas.
    Abraço,

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  3. Paulo, a rede Pública Estadual de São Paulo e até mesmo no restante do País acontece isso mesmo. O Ensino Médio é esvaziado e as aulas são de baixo nível mesmo. Presenciei isso em duas escolas periféricas que lecionei em Mauá e na Zona Leste. Nos conselhos de classe conforme postei neste espaço, os professores são praticamente forçados pelas direções de escolas que estão mais preocupados com números para mostrar aos Governos Estaduais. Os alunos em si, estão mesmo vivendo esse paradoxo ou encruzilhada: Estudar para quê? Se para as Direções de EScola basta o aluno está presente que ele passa de ano? Então é melhor ir para as funções braçais com exigência de ensino fundamental. Desse modo, concluir ensino médio é perda de tempo e dinheiro. Que paradoxo...

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  4. O paradoxo não seria tão "paradoxal" se pensarmos que o ensino médio não prepara para o mercado de trabalho, mesmo quem faz ensino técnico, o faz porque é melhor que o ensino normal. O ensino médio deveria preparar o aluno para universidade. Hoje, mesmo entre os pobres, já é aceito que o jovem só estude. Esse fenômeno se percebe no decrécimo pela procura do ensino noturno. Há uns 20 anos atrás faltavam vagas no noturno, hoje estão fechado turmas e escolas. A questão é que a aprovação automática emburrece tanto alunos quanto professores. Uma situação presenciada em uma escola aqui da Bahia: o professor pergunta: quem fez o trabalho? Só 1/3 levanta a mão. O professor diz: então quem não fez fica com 6,0 e quem fez fica com 10. Assim o aluno percebe que não precisa frequentar a escola para passar, daí a acostumar-se com a vadiagem e ficar em casa o tempo todo é um pulo.

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    1. O problema é que o ensino médio não tem uma identidade definida. Não se sabe se ele serve (ou deveria servir) para formar para a vida, para o mercado de trabalho ou para a faculdade. Os alunos ficam perdidos, os pais ficam perdidos, os professores ficam perdidos, a escola fica perdida e o governo, então, nem se fala.

      Com relação à aprovação automática, vale à pena ler uma postagem aqui neste blog sobre os Conselhos de Clase do fim de ano (http://prioridadeeducacao.blogspot.com/2011/12/os-conselhos-de-classe-no-final-do-ano.html). Nele o professor Adilson relata a vergonha na qual eles se tornaram. Muitos "mestres" aqui de São Paulo não se preocupam se os alunos aprenderam. Querem mais é que eles "passem de ano" para ganharem o bonus dado pelo governo do estado, que, entre os fatores para sua definição, utiliza a taxa de repetência. Qunato maior a repetência menor o bônus. É imperdoável!

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