sábado, 19 de novembro de 2011

Desafios de valorização docente são comuns aos países latino-americanos

Vanessa Ramos*

A Rede pela Valorização d@s Docentes Latino-american@s “nasce do sentimento de indignação de como a agenda da educação vem sendo tratada nos países latino-americanos. É urgente uma mudança de perspectiva e esta deve estar pautada numa agenda de toda a sociedade”, disse Denise Carreira, coordenadora de Educação da Ação Educativa, durante o lançamento da iniciativa.

Na ocasião, docentes, pesquisadores e representantes de organizações da sociedade civil equatorianos, argentinos, paraguaios, uruguaios e de diferentes regiões do Brasil participaram do debate “A questão docente na América Latina”, que ocorreu pela manhã e foi transmitido ao vivo pela internet. Em breve, os vídeos dos debates estarão disponíveis da íntegra no portal Vozes da Educação.

Uma agenda regional


A educação precisa ser vista como “um ponto de integração para políticas de governo e de integração nossa enquanto trabalhadores e movimentos sociais”, disse Fátima Aparecida Silva, vice-presidente da Internacional de Educação da América Latina (IEAL).

Camilla Croso, coordenadora da Campanha Latino-Americana pelo Direito à Educação (Clade), ressaltou que há no continente um “conjunto de desvalorização e desprestígio, chegando ao ponto da criminalização dos trabalhadores em educação”.

Além disso, muitos países sofrem com a precarização da educação pelo setor privado, completou o professor Guillermo Williamson, diretor do Departamento de Educação da Universidad de La Frontera, do Chile. “Mais de 50% dos professores estão no ensino privado, e  o Estado é o financiador disso”. Para ele, é importante que o professor recupere “a autoridade do saber e a autoridade docente, não na forma de poder, mas autoridade daquele que sabe”, disse.

Para Marcelo Mosqueira, professor e diretor de escola da rede pública da província de Buenos Aires, é importante que os docentes assumam seu papel na construção da educação. “Nós não podemos perder de vista o trabalho na educação e a construção do sujeito”, falou.

Neoliberalismo


“No Chile estamos na ponta do modelo neoliberal, numa economia aberta, de mercado total. Temos um sistema que tem reflexos ainda do período da ditadura. A extrema direita se apropriou do aparelho ideológico da educação. Não há gratuidade, a universidade se paga”, afirmou Williamson. Ainda, “esse modelo está gerando crises: de distribuição, concentração da riqueza, de poder, territorial e de classes”, disse.

Para Luis Alberto Riart, ex-ministro da educação do Paraguai, “há uma estrutura de poder político que continua fazendo com que o modelo neoliberal funcione. Além disso, há uma distância entre a práxis e o discurso”, apontou.

Sobre o tema, Camilla Croso explicou que “há um documento do Banco Mundial que sintetiza muitas dessas tendências”. Chamado “Aprendizagem para todos: Investimento no conhecimento e nas habilidades das pessoas para promover o desenvolvimento”, ele pautará ações para o campo da educação, até 2020.

Milton Luna, coordenador do Contrato Social pela Educação, rede do Equador, reafirma que há uma “disputa de sentidos: por um lado estão experiências de governos e de processos democráticos que têm colocado novos paradigmas visando um novo modelo e, por outro, estão os grandes atores como o Banco Mundial com suas estratégias a partir do modelo neoliberal”, falou.

Outro modelo


“Tem-se que fazer uma seríssima reflexão e parece importante criar propostas desde o setor progressista. Que tenhamos capacidade propositiva para propor uma linha que interpele e proponha um novo paradigma”, disse Luna.

Para Fátima Aparecida Silva “empoderar o sujeito é a melhor forma de empoderarmos a sua valorização, isso na medida em que o professor se apropria do perceber global, agir local e do saber pedagógico. Precisamos compartir as experiências bem sucedidas, dialogar e ter força para mudar o que precisa ser mudado”, sugeriu.

Luna falou que é preciso ir além da discussão sobre a educação, pensando num sistema amplo que supere as desigualdades em todos os âmbitos, para que a sociedade possa viver de forma plena. Relatou que um dos conceitos discutidos no Equador e em países andinos é o Sumak Kawsay (Bem Viver), inspirado nas culturas indígenas Quéchua e Ayamara, que quer dizer uma forma diferente de organização social, política e econômica.  

Para Mosqueira, é importante resgatar a memória histórica da América Latina. “É um momento em que os movimentos sociais têm que participar com maior força desse processo”, disse. “É preciso resgatar a educação como direito humano”, finalizou Croso.

*Observatório da Educação.

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