Vanessa Ramos*
A Rede pela Valorização d@s Docentes Latino-american@s “nasce do
sentimento de indignação de como a agenda da educação vem sendo tratada
nos países latino-americanos. É urgente uma mudança de perspectiva e
esta deve estar pautada numa agenda de toda a sociedade”, disse Denise
Carreira, coordenadora de Educação da Ação Educativa, durante o
lançamento da iniciativa.
Na ocasião, docentes, pesquisadores e representantes de
organizações da sociedade civil equatorianos, argentinos, paraguaios,
uruguaios e de diferentes regiões do Brasil participaram do debate “A
questão docente na América Latina”, que ocorreu pela manhã e foi
transmitido ao vivo pela internet. Em breve, os vídeos dos debates
estarão disponíveis da íntegra no portal Vozes da Educação.
Uma agenda regional
A
educação precisa ser vista como “um ponto de integração para políticas
de governo e de integração nossa enquanto trabalhadores e movimentos
sociais”, disse Fátima Aparecida Silva, vice-presidente da Internacional
de Educação da América Latina (IEAL).
Camilla Croso,
coordenadora da Campanha Latino-Americana pelo Direito à Educação
(Clade), ressaltou que há no continente um “conjunto de desvalorização e
desprestígio, chegando ao ponto da criminalização dos trabalhadores em
educação”.
Além disso, muitos países sofrem com a precarização da
educação pelo setor privado, completou o professor Guillermo
Williamson, diretor do Departamento de Educação da Universidad de La
Frontera, do Chile. “Mais de 50% dos professores estão no ensino
privado, e o Estado é o financiador disso”. Para ele, é importante que o
professor recupere “a autoridade do saber e a autoridade docente, não
na forma de poder, mas autoridade daquele que sabe”, disse.
Para
Marcelo Mosqueira, professor e diretor de escola da rede pública da
província de Buenos Aires, é importante que os docentes assumam seu
papel na construção da educação. “Nós não podemos perder de vista o
trabalho na educação e a construção do sujeito”, falou.
Neoliberalismo
“No
Chile estamos na ponta do modelo neoliberal, numa economia aberta, de
mercado total. Temos um sistema que tem reflexos ainda do período da
ditadura. A extrema direita se apropriou do aparelho ideológico da
educação. Não há gratuidade, a universidade se paga”, afirmou
Williamson. Ainda, “esse modelo está gerando crises: de distribuição,
concentração da riqueza, de poder, territorial e de classes”, disse.
Para
Luis Alberto Riart, ex-ministro da educação do Paraguai, “há uma
estrutura de poder político que continua fazendo com que o modelo
neoliberal funcione. Além disso, há uma distância entre a práxis e o
discurso”, apontou.
Sobre o tema, Camilla Croso explicou que “há
um documento do Banco Mundial que sintetiza muitas dessas tendências”.
Chamado “Aprendizagem para todos: Investimento no conhecimento e nas
habilidades das pessoas para promover o desenvolvimento”, ele pautará
ações para o campo da educação, até 2020.
Milton Luna,
coordenador do Contrato Social pela Educação, rede do Equador, reafirma
que há uma “disputa de sentidos: por um lado estão experiências de
governos e de processos democráticos que têm colocado novos paradigmas
visando um novo modelo e, por outro, estão os grandes atores como o
Banco Mundial com suas estratégias a partir do modelo neoliberal”,
falou.
Outro modelo
“Tem-se que fazer
uma seríssima reflexão e parece importante criar propostas desde o setor
progressista. Que tenhamos capacidade propositiva para propor uma linha
que interpele e proponha um novo paradigma”, disse Luna.
Para
Fátima Aparecida Silva “empoderar o sujeito é a melhor forma de
empoderarmos a sua valorização, isso na medida em que o professor se
apropria do perceber global, agir local e do saber pedagógico.
Precisamos compartir as experiências bem sucedidas, dialogar e ter força
para mudar o que precisa ser mudado”, sugeriu.
Luna falou que é
preciso ir além da discussão sobre a educação, pensando num sistema
amplo que supere as desigualdades em todos os âmbitos, para que a
sociedade possa viver de forma plena. Relatou que um dos conceitos
discutidos no Equador e em países andinos é o Sumak Kawsay (Bem Viver),
inspirado nas culturas indígenas Quéchua e Ayamara, que quer dizer uma
forma diferente de organização social, política e econômica.
Para
Mosqueira, é importante resgatar a memória histórica da América Latina.
“É um momento em que os movimentos sociais têm que participar com maior
força desse processo”, disse. “É preciso resgatar a educação como
direito humano”, finalizou Croso.
*Observatório da Educação.
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