domingo, 13 de maio de 2012

Fechamento de creche transtorna famílias na Parada Inglesa, em São Paulo*


São Paulo – No dia 31 de maio, o bairro Parada Inglesa, na zona norte da capital paulista, vai perder sua única creche. Nesta data, o convênio de 13 anos entre a prefeitura de São Paulo e a Sociedade Beneficente São Camilo, que gerencia a unidade, será encerrado.

Em reunião com os pais das crianças na manhã de hoje (11), a diretora regional de Educação, Leila Barbosa Oliva, afirmou que todas as 274 crianças que frequentam o Centro de Educação Infantil (CEI) Mãe Wanda terão vagas garantidas em creches de locais próximos e que uma parte delas não terá de sair do bairro porque uma nova unidade vai acolher as crianças que ali moram.

"Com esse novo convênio vamos abrir 114 vagas, que serão destinadas prioritariamente a crianças que moram até a um quilômetro da CEI Mãe Wanda. Nosso objetivo é ampliar o número de vagas e, para isso, vamos fazer adequações no prédio para atender a mais crianças", disse Leila. A nova creche será gerenciada pela organização não-governamental Star of Hope, que já administra o CEI Vila Medeiros.

A Sociedade São Camilo não apresentou justificativa para o rompimento do convênio. Disse, apenas, por meio de nota, que a parceria será encerrada conforme disposição do Termo de Convênio firmado entre a entidade e a prefeitura e que, por iniciativa própria, estará à frente da administração do CEI Mãe Wanda somente até o fim deste mês. De acordo com Leila, os altos custos de manutenção do imóvel fizeram a Sociedade São Camilo desistir da creche. "Eles alegaram que era custoso manter a unidade e que não havia mais interesse", afirmou.

O prédio onde funciona a CEI Mãe Wanda é de uma outra associação, também beneficente, chamada Mãos Juntas Associação Brasileira de Voluntários Sociais, que, por sua vez, também não se interessou em negociar o espaço com a prefeitura. "Entramos em contato com o representante do dono do imóvel para que ele assinasse um termo de cessão à prefeitura ou a outra entidade que tivesse interesse em administrar o CEI, mas até o momento, não obtivemos resposta", disse a diretora.

Ela afirmou ainda que o rompimento de um convênio no meio do ano é uma situação inédita e que a preocupação do órgão neste momento é dar um atendimento adequado às crianças e às famílias. Leila explica que serão acomodadas na nova creche, inicialmente, as crianças que residirem na Parada Inglesa, mas também será levado em conta o local de trabalho dos pais.
Transtorno

Leila disse que, no último mês, em função do cancelamento desse contrato, a prefeitura buscou novos convênios e ampliou o número de vagas em algumas unidades já conveniadas. Segundo ela, apenas nos últimos 30 dias foram criadas 911 novas vagas em creches da região. A diretora assegurou que na terça-feira (15) terá início uma série de reuniões com os pais para definir os locais nos quais as crianças serão atendidas. "Vamos falar com cada família para conhecer a situação de cada uma delas e então, definir qual a unidade mais adequada para cada caso", ressaltou.

Durante a semana, sem informações sobre o que ocorreria com suas crianças, alguns pais ainda estavam surpresos com a notícia do fechamento da creche. Claudecir José Costa é um deles. Ele tem uma filha de quatro anos que há dois está na creche. "É uma surpresa, né? No meio do ano. Pouco tempo para achar outra creche. Deram algumas opções, tudo longe. Se precisar sair do bairro, vou ter de arranjar transporte para levar a menina. Vai ser um transtorno".

Sheila Lopes da Silva também está preocupada com a situação. Ela tem uma filha de um ano e um mês na creche. "A gente não está entendendo, e não aceita ficar sem a creche. É ano de eleição, eles tinham de abrir mais creches, não fechar", lamentou.

Moradora do Tucuruvi, bairro vizinho à Parada Inglesa, Mariana Soares, mãe de um bebê de seis meses, desabafa: "Acho essa história um absurdo. Aqui foi o único lugar em que encontrei vaga. No Tucuruvi não tem escola para criança com a idade do meu filho. Isso que eles estão fazendo é falta de consideração com a gente. Podiam esperar mais seis meses, pelo menos, até o final do ano para resolver isso."
Déficit de vagas

A promessa do prefeito Gilberto Kassab (PSD) de zerar o déficit de vagas nas creches, feita na campanha de 2008, dificilmente será alcançada. O Plano de Metas do prefeito previa 100% das crianças de até 3 anos atendidas até 2012. Segundo levantamento da Secretaria Municipal de Educação, existe hoje um déficit de 100 mil vagas nas creches da prefeitura.

Em algumas regiões da capital paulista os números são bastante altos. A subprefeitura de São Mateus, zona leste da cidade, contabiliza um déficit de mais de 9 mil  vagas. Em Cidade Ademar, na zona sul, mais de 6 mil crianças aguardam uma vaga e no Grajaú, também na zona sul, a fila de espera passa de 7 mil crianças.
'Chave do futuro'

A presidenta Dilma Rousseff afirmou hoje, durante a inauguração de unidades habitacionais em Betim (MG), que construir creche é atacar na raiz a desigualdade, a diferença de oportunidade que existe entre filho de pobre e filho de rico. Dilma disse ainda que “um país se mede pelo que ele faz pelas crianças, pela capacidade de transformar a vida da criança, dando oportunidades iguais a elas”.

O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, também presente ao evento, disse que a “chave do futuro” que as crianças receberão na creche é tão importante quanto a chave das casas recebidas pelas famílias. A unidade educacional recebeu o nome de Centro Infantil Municipal Wilma Costa Pinto Afonso e faz parte do Programa Nacional de Reestruturação e Aquisição de Equipamentos para a Rede Escolar Pública de Educação Infantil (ProInfância).

*Terlânia Bruno, Rede Brasil Atual

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