Hoje (11/5/2012), o jornal O Estado de S. Paulo publicou a reportagem “Dados sobre educação básica revelam abismos em regiões da capital paulista”. Com base nos resultados do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), aponta a disparidade do índice de repetência e o número de alunos em série/ano inadequado em relação à sua idade. Pra variar, coloca a “culpa” pelo problema nos professores.
Incentivada pela ótica da imprensa, a declaração de um aluno é a de que ele deixava de frequentar as aulas porque elas eram “chatas”. Uma líder comunitária diz que são poucos os professores preparados e que os mal preparados não conseguem motivar os alunos.
Quem não se deixa levar pela ótica da imprensa e conhece minimamente a realidade da educação no país e, especificamente, na cidade de São Paulo, sabe que o professor pode até ter culpa, mas essa deve ser compartilhada com os governos (que não garantem estruturas e condições para que os professores mantenham a contínua formação; se dediquem ao ensino em uma única escola; ...).
Os pais, que não acompanham a educação formal de seus filhos e têm a escola como a única responsável pela educação deles, também devem compartilhar essa “culpa”. Além disso, é preciso ter claro que a escola é responsável pela educação formal e que este trabalho é prejudicado pela “falta de educação” de muitos alunos, que não a recebe em casa.
A falta da “homogeneidade” entre os alunos advém daquilo que Pierre Bourdieu chama de capital cultural. Vivemos em uma sociedade desigual. As crianças recebem diferentes estímulos culturais em suas casas. Isso afeta a apreensão do conteúdo formal “transmitido” na escola. Para algumas crianças, a educação formal é mais importante, para outras menos. Para umas é mais fácil, mais legal, para outras, mais difícil, mais chato.
É por isso que se recomenda que as aulas procurem fazer a ligação do conteúdo a ser passado aos alunos com o cotidiano de vida de cada um deles.
Os “culpados” não são apenas os professores nem se limitam aos que apontei acima. O que quero dizer é que existem muitos fatores que levam à disparidade do aprendizado entre os alunos. Apontar o professor e sua “falta de preparo” como responsável pela realidade apontada pelo levantamento é querer fugir pela tangente e não solucionar o problema. O problema existe. Precisa ser solucionado!
Fonte: O Estado de São Paulo e Estadão.com
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