domingo, 30 de outubro de 2011

Ameaças levam Professor ao esgotamento

Segue abaixo entrevista de Vera Lemgruber, chefe do setor de Psicoterapia da Santa Casa de Misericórdia . A entrevista foi publicada na edição impressa do Jornal "O Estado de S. Paulo" na folha A25.


Especialista, que atende docentes com estresse pós-traumático, diz que não há vida saudável com violência e sofrimento

RIO - Vera Lemgruber, chefe do setorde Psicoterapia da Santa Casade Misericórdia, abriu as portas para o tratamento gratuito deuma professora. E no rastro vieram outras oito, com os mesmos sintomas. Metade delas foi diagnosticada com síndrome do estressepós-traumático. As outras tinham depressão ou sofriam deestresse agudo.Nesta entrevista ao Estado, a especialista ajuda a entender adoença, motivada por episódios ameaçadores e composta de três aspectos diferentes: revivência da ameaça, reação semelhante a um ataque de pânico e retração social.

● O que provoca a síndrome do estresse pós-traumático?

O fator estressante tem de ser considerado muito grave para a maioria dos seres humanos. Essas reações ocorrem depois de guerras, estupros, ocorrências de violência doméstica, assaltos, sequestros ou qualquer episódio de agressão em que você se sinta ameaçado.

Como a síndrome do estresse pós-traumático se manifesta?

A reação do paciente envolve três aspectos. O primeiro é o flash back. A pessoa revive a ameaça, como se ela estivesse acontecendo de novo. É o caso de um ex-combatente de guerra que revive a batalha ao ouvir um estrondo qualquer.O segundo é uma reação muito forte do sistema nervoso, que provoca uma descarga de adrenalina e também elevação de batimentos cardíacos, tremores, sensação de desmaio. É como se a pessoa estivesse tendo um ataque de pânico.E o terceiro é o ensimesmamento, a pessoa se retrai socialmente.

● Uma pessoa pode passar poressas situações de ameaça à vida e conseguir não desenvolver asíndrome do estresse pós-traumático?

Pode. A probabilidade de desenvolver a síndrome do estresse pós-traumático é pequena, de apenas uns 5%.O ser humano tem uma capacidade de adaptabilidade darwiniana. Nós somos bichos. É a lei da sobrevivência. O que determina se uma pessoa vai ter ou não a síndromedo estresse pós-traumático é avulnerabilidade pessoal, que pode ser genética ou da própria experiência de vida. O tratamento é terapia e medicação.

● Por que estas professoras desenvolveram a síndrome do estresse pós-traumático?

As condições na escola não são favoráveis. Elas sofrem com um estresse muito grande. Mas o mais comum é desenvolverem o burnout, uma reação de esgotamento agudo. Algumas profissionais são mais sensíveis a isso. São anos de sofrimento.É como o jovem que trabalha no mercado financeiro. Ele vive estressado, mas tem recompensa financeira. Enquanto o professor não tem dinheiro, não tem formas de compensações,como viajar nas férias.O Estado poderia minimizaro sofrimento. Não é só dinheiro que compensa o estresse. Se elas tivessem respeito e reconhecimento da sociedade, se os colégios fossem mais decentes,elas ficariam melhores. Mas vai chegando a um ponto em que fica tudo insuportável. E aí elas adoecem. /

Créditos da entrevista a MÁRCIA VIEIRA

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