quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Consciência pede mais do que reflexão

Quero fazer alguns comentários sobre o texto Dia Nacional da Consciência Negra - Dia de Reflexão, do professor Adilson Ferreira dos Santos publicado neste blog ontem (20/11/2013).

1)    Mesmo a suposta libertação tendo ocorrido há apenas 125, não considero ser compreensível que afro-descendentes ainda sofram com a segregação, discriminação e preconceito. Pra mim, a segregação, a discriminação e o preconceito são inadmissíveis. Precisam ser punidos conforme determina a Lei.
2)    O feriado foi revogado em Curitiba, conforme Adilson observou a pedido da Associação Comercial e do SindusCon pelo Tribunal da (in)Justiça. O argumento que mais pegou, com certeza, não foi o da inconstitucionalidade. Foi, isso sim, o econômico. No dia 20 de novembro o comércio do “natal” está a todo vapor. É inadmissível, para aqueles que sempre oprimiram os negros, aceitar a criação de mais um feriado em novembro (já temos o 2 de novembro – Finados; e 15 de novembro – Proclamação da República). Na visão desta gente, que pensa somente no lucro, os negros querem é mais folgas. E isso atrapalha o comércio e os fará ter que pagar as horas trabalhadas neste dia com 100% a mais do valor normal, segundo a CLT, uma vez que eles não vão querer liberar seus empregados na efervescência comercial do “natal”. Cristo passa longe deste “natal”. Que bom que o deputado federal Renato Simões, juntamente com a deputada Janete Pietá e o deputado Vicentinho, protocolaram um Projeto de Lei para que o dia 20 de novembro seja considerado feriado nacional da Consciência Negra. É claro que haverá lobby dos representantes do comércio para que o PL seja recusado.
3)    Bom seria se todos pudessem estudar em universidades públicas e de qualidade. Que não fosse preciso haver cotas para pobres, negros, indígenas conseguir vagas em universidades públicas. Pobres, negros e indígenas têm, sem dúvida, a mesma capacidade intelectual que aqueles que são ricos de olhos azuis e são contrários a política de cotas. O problema é que eles não têm as mesmas oportunidades. Não podem estudar em escolas de ensino fundamental e médio que lhes deem ensino do mesmo nível que aqueles que podem pagar para tê-la. No dia em que o Estado garantir educação gratuita e de boa qualidade para todos no ensino infantil, fundamental e médio, quem sabe eu deixe de apoiar a política de cotas de vagas no ensino superior. Enquanto houver diferença de oportunidades de acesso à educação básica de qualidade, as cotas não apenas são necessárias. São justas. Isso, com certeza, o Tribunal de Injustiça não avaliou.
4)    Gostaria de lembrar, ainda, do capital cultural de Pierre Bourdieu. Filhos de pais que tiveram boas oportunidades de acesso à cultura e à educação, que podem ler com frequencia, ir a teatros, cinema... e dar estas oportunidades para seus filhos, além de poder pagar os demais materiais educacionais necessários à educação tem mais chances de ter uma adequação à sociedade exigida por esta mesma sociedade. Mas, mesmo assim, não sabemos se esta é a educação correta. Apenas que é a educação exigida pela sociedade.
5)    Por tudo isso, acredito que o Dia da Consciência Negra não deva ser um mero dia de reflexão. Deve, isto sim, ser um dia de luta. Luta pela verdadeira liberdade de um povo que continua sendo oprimido por pessoas que ainda se acham no direito de tratar outras pessoas como se estas fossem inferiores, pelo simples fato de estas ter a cor da pele e feições diferentes das suas, diferentes daquelas impostas pela sociedade como sendo o “padrão de beleza”.

São apenas mais alguns argumentos para a reflexão.

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