Quero
fazer alguns comentários sobre o texto Dia Nacional da Consciência Negra - Dia de Reflexão, do professor Adilson Ferreira dos Santos
publicado neste blog ontem (20/11/2013).
1)
Mesmo
a suposta libertação tendo ocorrido há apenas 125, não considero ser
compreensível que afro-descendentes ainda sofram com a segregação,
discriminação e preconceito. Pra mim, a segregação, a discriminação e o
preconceito são inadmissíveis. Precisam ser punidos conforme determina a Lei.
2)
O
feriado foi revogado em Curitiba, conforme Adilson observou a pedido da Associação
Comercial e do SindusCon pelo Tribunal da (in)Justiça. O argumento que mais
pegou, com certeza, não foi o da inconstitucionalidade. Foi, isso sim, o
econômico. No dia 20 de novembro o comércio do “natal” está a todo vapor. É
inadmissível, para aqueles que sempre oprimiram os negros, aceitar a criação de
mais um feriado em novembro (já temos o 2 de novembro – Finados; e 15 de
novembro – Proclamação da República). Na visão desta gente, que pensa somente
no lucro, os negros querem é mais folgas. E isso atrapalha o comércio e os fará
ter que pagar as horas trabalhadas neste dia com 100% a mais do valor normal,
segundo a CLT, uma vez que eles não vão querer liberar seus empregados na
efervescência comercial do “natal”. Cristo passa longe deste “natal”. Que bom
que o deputado federal Renato Simões,
juntamente com a deputada Janete Pietá e o deputado Vicentinho, protocolaram um
Projeto de Lei para que o dia 20 de novembro seja considerado feriado nacional
da Consciência Negra. É claro que haverá lobby dos representantes do comércio para
que o PL seja recusado.
3)
Bom
seria se todos pudessem estudar em universidades públicas e de qualidade. Que
não fosse preciso haver cotas para pobres, negros, indígenas conseguir vagas em
universidades públicas. Pobres, negros e indígenas têm, sem dúvida, a mesma
capacidade intelectual que aqueles que são ricos de olhos azuis e são
contrários a política de cotas. O problema é que eles não têm as mesmas
oportunidades. Não podem estudar em escolas de ensino fundamental e médio que
lhes deem ensino do mesmo nível que aqueles que podem pagar para tê-la. No dia
em que o Estado garantir educação gratuita e de boa qualidade para todos no
ensino infantil, fundamental e médio, quem sabe eu deixe de apoiar a política
de cotas de vagas no ensino superior. Enquanto houver diferença de
oportunidades de acesso à educação básica de qualidade, as cotas não apenas são
necessárias. São justas. Isso, com certeza, o Tribunal de Injustiça não
avaliou.
4)
Gostaria
de lembrar, ainda, do capital cultural de Pierre Bourdieu. Filhos de pais que tiveram boas oportunidades de acesso à cultura
e à educação, que podem ler com frequencia, ir a teatros, cinema... e dar estas
oportunidades para seus filhos, além de poder pagar os demais materiais
educacionais necessários à educação tem mais chances de ter uma adequação à
sociedade exigida por esta mesma sociedade. Mas, mesmo assim, não sabemos se
esta é a educação correta. Apenas que é a educação exigida pela sociedade.
5)
Por
tudo isso, acredito que o Dia da Consciência Negra não deva ser um mero dia de
reflexão. Deve, isto sim, ser um dia de luta. Luta pela verdadeira liberdade de
um povo que continua sendo oprimido por pessoas que ainda se acham no direito
de tratar outras pessoas como se estas fossem inferiores, pelo simples fato de
estas ter a cor da pele e feições diferentes das suas, diferentes daquelas
impostas pela sociedade como sendo o “padrão de beleza”.
São
apenas mais alguns argumentos para a reflexão.
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