O
“ping-pong” abaixo é parte da entrevista com Patrício Navia, cientista político chileno e pesquisador do Centro de
Estudos sobre América Latina e Caribe da Universidade de Nova York,
publicada nas páginas vermelhas da revista IstoÉ desta semana.
Ele
fala sobre os resultados do primeiro turno nas eleições para presidente no
Chile. Alguns pontos podem trazer boas reflexões para nós, brasileiros.
Destaco
um ponto. Ele fala que o maior problema do Chile não é mais a pobreza. Para
ele, é preciso “fazer
mudanças estruturais capazes de reduzir a desigualdade. Não é uma questão de
fornecer mais acesso à educação, mas igualar o acesso à educação. A cobertura
da educação no Chile é universal, mas a qualidade das escolas varia muito,
dependendo de quanto dinheiro sua família pode pagar. E isso precisa mudar.”
Além da educação, ele destaca a saúde e a habitação como outras questões
necessárias a serem resolvidas para reduzir a desigualdade. Se o cientista
político não sabe o motivo de Bachelet ter tido maior volume de votos do que a
candidata apoiada pelo atual presidente, o editorial da mesma edição diz o motivo.
Bachelet propõe aumentar entre 20% e 25% o imposto cobrados das grandes empresas
para arcar com o custeio dos programas sociais, como o ensino gratuito de
qualidade.
ISTOÉ - A economia do Chile cresce bem, a
inflação e o desemprego estão em baixa e a situação fiscal do país é
confortável. Mesmo assim, a maioria dos eleitores optou por votar na oposição.
O que aconteceu?
PATRICIO
NAVIA - Essa foi
uma eleição sobre o piloto, não sobre o trajeto. Os chilenos desejam continuar
na mesma direção, mas querem uma ênfase diferente. Eles estão mais preocupados
com a desigualdade e acreditam que, não importa quem ganhe, o modelo econômico
continuará o mesmo. Isso aconteceu porque o presidente Sebastián Piñera manteve
o modelo econômico quando assumiu o cargo. Então, os chilenos sabem que, não
importa se o governo é de esquerda ou de direita, a economia seguirá na mesma
direção.
ISTOÉ - A campanha eleitoral focou no
aumento da desigualdade social no país. Por que esse tema foi tão importante?
PATRICIO
NAVIA - O Chile
cresceu muito nos últimos 25 anos. Por isso, questões que são grandes em outros
países, como a pobreza, não são mais um problema no país. Os chilenos estão
agora focados em novos problemas. A desigualdade é o grande desafio que o Chile
tem pela frente.
ISTOÉ - Que tipo de novos problemas são
esses?
PATRICIO
NAVIA - Eles
estão todos relacionados à desigualdade. Por exemplo, o acesso à educação, à
saúde e à habitação. A qualidade de vida que os chilenos têm agora é muito
diferente, dependendo de quanto dinheiro sua família tem. As pessoas querem
melhorar de vida e acham que Michelle Bachelet pode ajudá-las mais do que um
governo de direita. Elas não estão votando na Bachelet para mudar a economia, mas
porque pensam que ela pode distribuir melhor a renda dentro do atual modelo
econômico.
ISTOÉ - O Bolsa Família foi um programa
importante para o combate à desigualdade no Brasil. O sr. acha que ele
funcionaria no Chile?
PATRICIO
NAVIA - O Bolsa
Família foi um programa para combater a pobreza, não a desigualdade, embora ele
tenha provocado efeitos positivos na distribuição de renda. Na verdade,
programas muito parecidos foram implementados no Chile no começo dos anos 90. A
pobreza aqui é bem menor, está em 14% da população (no Brasil, o índice é de
21%). Todas as coisas que precisavam ser feitas com programas de transferência
de renda já foram feitas.
ISTOÉ - Qual deve ser o próximo passo,
então?
PATRICIO
NAVIA - Fazer
mudanças estruturais capazes de reduzir a desigualdade. Não é uma questão de
fornecer mais acesso à educação, mas igualar o acesso à educação. A cobertura
da educação no Chile é universal, mas a qualidade das escolas varia muito,
dependendo de quanto dinheiro sua família pode pagar. E isso precisa mudar.
ISTOÉ - Onde Sebastián Piñera errou?
PATRICIO
NAVIA - Os
chilenos pensam que o país está bem, mas sentem que sua família não está tão
bem quanto o país. O problema de Piñera é que poucos estavam se beneficiando de
seu governo. Sua imagem acabou associada a uma classe privilegiada.
Leia a íntegra da entrevista em:
E editorial está
disponível em:
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