quarta-feira, 27 de novembro de 2013

O exemplo do Chile

O “ping-pong” abaixo é parte da entrevista com Patrício Navia, cientista político chileno e pesquisador do Centro de Estudos sobre América Latina e Caribe da Universidade de Nova York, publicada nas páginas vermelhas da revista IstoÉ desta semana.

Ele fala sobre os resultados do primeiro turno nas eleições para presidente no Chile. Alguns pontos podem trazer boas reflexões para nós, brasileiros.

Destaco um ponto. Ele fala que o maior problema do Chile não é mais a pobreza. Para ele, é preciso “fazer mudanças estruturais capazes de reduzir a desigualdade. Não é uma questão de fornecer mais acesso à educação, mas igualar o acesso à educação. A cobertura da educação no Chile é universal, mas a qualidade das escolas varia muito, dependendo de quanto dinheiro sua família pode pagar. E isso precisa mudar.” Além da educação, ele destaca a saúde e a habitação como outras questões necessárias a serem resolvidas para reduzir a desigualdade. Se o cientista político não sabe o motivo de Bachelet ter tido maior volume de votos do que a candidata apoiada pelo atual presidente, o editorial da mesma edição diz o motivo. Bachelet propõe aumentar entre 20% e 25% o imposto cobrados das grandes empresas para arcar com o custeio dos programas sociais, como o ensino gratuito de qualidade.


ISTOÉ - A economia do Chile cresce bem, a inflação e o desemprego estão em baixa e a situação fiscal do país é confortável. Mesmo assim, a maioria dos eleitores optou por votar na oposição. O que aconteceu?

PATRICIO NAVIA - Essa foi uma eleição sobre o piloto, não sobre o trajeto. Os chilenos desejam continuar na mesma direção, mas querem uma ênfase diferente. Eles estão mais preocupados com a desigualdade e acreditam que, não importa quem ganhe, o modelo econômico continuará o mesmo. Isso aconteceu porque o presidente Sebastián Piñera manteve o modelo econômico quando assumiu o cargo. Então, os chilenos sabem que, não importa se o governo é de esquerda ou de direita, a economia seguirá na mesma direção.

ISTOÉ - A campanha eleitoral focou no aumento da desigualdade social no país. Por que esse tema foi tão importante?

PATRICIO NAVIA - O Chile cresceu muito nos últimos 25 anos. Por isso, questões que são grandes em outros países, como a pobreza, não são mais um problema no país. Os chilenos estão agora focados em novos problemas. A desigualdade é o grande desafio que o Chile tem pela frente.

ISTOÉ - Que tipo de novos problemas são esses?

PATRICIO NAVIA - Eles estão todos relacionados à desigualdade. Por exemplo, o acesso à educação, à saúde e à habitação. A qualidade de vida que os chilenos têm agora é muito diferente, dependendo de quanto dinheiro sua família tem. As pessoas querem melhorar de vida e acham que Michelle Bachelet pode ajudá-las mais do que um governo de direita. Elas não estão votando na Bachelet para mudar a economia, mas porque pensam que ela pode distribuir melhor a renda dentro do atual modelo econômico.

ISTOÉ - O Bolsa Família foi um programa importante para o combate à desigualdade no Brasil. O sr. acha que ele funcionaria no Chile?

PATRICIO NAVIA - O Bolsa Família foi um programa para combater a pobreza, não a desigualdade, embora ele tenha provocado efeitos positivos na distribuição de renda. Na verdade, programas muito parecidos foram implementados no Chile no começo dos anos 90. A pobreza aqui é bem menor, está em 14% da população (no Brasil, o índice é de 21%). Todas as coisas que precisavam ser feitas com programas de transferência de renda já foram feitas.

ISTOÉ - Qual deve ser o próximo passo, então?

PATRICIO NAVIA - Fazer mudanças estruturais capazes de reduzir a desigualdade. Não é uma questão de fornecer mais acesso à educação, mas igualar o acesso à educação. A cobertura da educação no Chile é universal, mas a qualidade das escolas varia muito, dependendo de quanto dinheiro sua família pode pagar. E isso precisa mudar.

ISTOÉ - Onde Sebastián Piñera errou?

PATRICIO NAVIA - Os chilenos pensam que o país está bem, mas sentem que sua família não está tão bem quanto o país. O problema de Piñera é que poucos estavam se beneficiando de seu governo. Sua imagem acabou associada a uma classe privilegiada.

Leia a íntegra da entrevista em:

E editorial está disponível em:

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