Compartilho um texto reflexivo com todos os amigos desta Rede Social. O
texto foi publicado originalmente no meu blog pessoal.
Sei que o texto traz alguns temas polêmicos e aceitarei de forma sensata
todas as críticas.
Um feliz Dia Nacional da Consciência Negra e Viva a Memória de Zumbi dos
Palmares!
Texto:
Hoje é feriado
municipal do dia Nacional da Consciência Negra em mais de mil municípios do
Brasil. Não temos muito que comemorar, pois se passaram apenas 125 anos que os
Negros e Negras deixaram de ser escravos neste país e é compreensível que os
que afro-descendentes ainda sofram com a segregação, discriminação e
preconceito racial e social principalmente.
O feriado em si tem sofrido
muitos ataques não só de gestores municipais como também da própria Justiça. O
caso mais recente aconteceu no Estado do Paraná em que o Tribunal de Justiça
daquele lugar suspendeu a Lei que instituiu o Feriado de 20 de novembro que
comemora o Dia Nacional da Consciência Negra. O TJ-PR acatou argumento da Associação Comercial do Paraná
e do Sinduscon de que o feriado aprovado pela Câmara Municipal de Curitiba pecava pela inconstitucionalidade
e importava em prejuízo econômico. Uma decisão que causou grande revolta e
indignação na comunidade negra não só do Paraná como de todo o Brasil.
Não há muito que comemorar nestes
125 anos de Libertação dos Escravos no Brasil. Neste país, os Negros foram
soltos e ao contrário do que aconteceu nos Estados Unidos da América, lugar em
que tiveram acesso à terra, no Brasil os negros foram soltos como se tivessem
saído da jaula e ficaram vagando nas ruas e para não voltarem para a casa das
famílias que os escravizavam foram se espendurando nos morros de Salvador que
na época era a capital do Império e do Rio de Janeiro e muitos não saíram de lá
até hoje. Há uma grande dívida social a ser paga pela sociedade brasileira com
essa camada sofrida da população, entretanto, nos últimos 10 anos o governo
brasileiro tem aplicado algumas políticas públicas paliativas para amenizar o
saldo desta dívida social com uma política de ações afirmativas, mais conhecida
como "cotas" para os negros terem acesso à Universidade e
consequentemente às melhores posições sociais no mercado de trabalho.
Todavia, boa parte da elite
brasileira se rebela contra as políticas de ações afirmativas, usando o
argumento falacioso e fraco de que a política de cotas é mais uma forma de
discriminação e que os Negros que querem fazer uso deste tipo de política estão
se discriminando a eles próprios. É compreensível que parte da elite brasileira
e até mesmo de boa parte da população deste país se apeguem a essa posição
reacionária e combatam de forma até odiosa as ações afirmativas para Negros e
Indígenas propostas pelo Governo Brasileiro, pois a escravidão no nosso país
terminou há 125 anos apenas. Nesse sentido, podemos afirmar que no Brasil ainda
há pessoas com uma visão racista e segregadora não só com os Negros e Indígenas
que são os beneficiários das políticas de ações afirmativas, mas também com a
população pobre já que nas Universidades Federais 50% das vagas são reservadas
para os alunos egressos da Rede Pública.
Na Rede Pública e Privada de
ensino, não raro os alunos por vezes são incentivados a serem contra a política
de ações afirmativas de acesso às Universidades Federais e até alguns
professores são contra e acabam reproduzindo a visão editorial de grandes
empresas jornalísticas como a Editora Abril (revista Veja), Grupo Folha (jornal
Folha de S. Paulo) e Grupo Estado (jornal O Estado de S. Paulo) e a própria
rede Globo. Estas empresas, que representam o pensamento elitista brasileiro,
são contra as chamadas "cotas" porque seus filhos teriam que conviver
na Universidade Pública com os filhos dos trabalhadores oriundos das classes
mais populares do nosso país. Não cabe o argumento de que o acesso à
Universidade Pública deva ser pelo mérito, pois universidades públicas bem
conceituadas como a Universidade de Brasília (UNB) e a UNICAMP de SP já
demonstraram que os alunos que entraram por Cotas têm demonstrado grande
capacidade e interesse acadêmico. Nunca é demais recordar que o acesso à
Universidade por meio das "cotas" é feito com nota de corte, ou seja,
não basta ser Negro, Índio ou pobre tem que ter uma nota alta de corte para ter
acesso às vantagens previstas nas políticas de ações afirmativas.
Mediante os poucos aspectos
mencionados até aqui, podemos afirmar que não cabe mais a intolerância, racial
e ou/social com os alunos que ingressam nas universidades públicas por meio de
ações afirmativas. A intolerância e os resquícios racistas que ainda nutrem o
pensamento e o inconsciente de muitas pessoas precisa ao menos ser combatido
com argumentos razoáveis e sensatos de quem pensa diferente para que essas
diferenças não se traduzam em violência física e /ou verbal. Um feliz Dia
Nacional da Consciência Negra que tem a função de lembrar a Memória de Zumbi
dos Palmares que tem uma biografia bonita que trarei em outro texto a ser
publicado neste espaço. Deixo anexo a este texto o link do livro SÉRIE
ANTROPOLOGIA 355 BASES PARA UMA ALIANÇA NEGRO-BRANCO-INDÍGENA CONTRA A DISCRIMINAÇÃO ÉTNICA E RACIAL NO BRASIL, de José Jorge de Carvalho.
Um abraço fraterno e
solidário a todos
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir