sexta-feira, 10 de maio de 2013

Reflexão sobre as greves (estadual e municipal) dos professores


O texto abaixo é uma postagem retirada do facebook do professor Raimundo Justino. Ele é professor tanto da rede pública do estado de São Paulo quanto da do município de São Paulo.

Trata-se de uma reflexão sobre ambas as greves, que pode ajudar muitos professores das bases, aqueles que estão em sala de aula, não participam de nenhuma instância sindical, a refletir.

Espero que faça com que dirigentes sindicais (tanto da Apeoesp, quanto do Sinpeem) também reflitam.


ENFIM, SOBRE A GREVE

Pretendia falar sobre isso antes, mas faltou tempo...

Em relação às "Greves" na Prefeitura e no Estado. Não acredito na eficiência das greve e paralisações nos atuais moldes propostos pelas direções dos sindicatos. O que acaba acontecendo é que a grande parte dos participantes transforma o período em uma folga inesperada, e sobra para uma minoria corajosa assumir as broncas de ir ás assembleias, fazer comande de greve e tantas outras coisas que podem ser feitas...isso ocorre porque a prática sindical não consegue se organizar de outro modo senão verticalmente; no final das contas, as legendas reproduzem um jeito de decidir as coisas de baixo pra cima, e eu não tenho estômago pra fingir que não me importo com isso, que não me importo em ser "um pouco manipulado"...

A questão-encruzilhada para mim e sei, para tantos outros educadores pé: "Bem, o que fazer então, diante de uma postura como a do governo do estado, que é diretamente responsável pela deterioração da Educação e não quer negociar, ou a da Prefeitura, que recuou em suas propostas?"

Se não acredito nas práticas acima descritas, mas não vejo uma ideia plausível melhor, tenho pelo menos que avaliar qual o meu grau de envolvimento com elas; não dá pra simplesmente manter a rotina e ignorar o movimento. Então, lá vai:

No que tange à greve do estado - minha escola não tem espaço pra discutir. É uma unidade conservadora, que conta com profissionais pré-aposentados em sua maioria e que não acreditam ou não querem saber (como diz Shakespeare, não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam). Minhas falas caíram no vazio e representante da Apeoesp conseguiu ainda menos. O que eu fiz foi parar por conta própria por duas sextas e comparecer às Assembleias no Masp, aonde vi, da última vez, mais uma briga "super produtiva" entre a direção e a oposição. No estado, acho inconcebível não haver adesão, mas, companheiros, eis o que décadas de descaso fizeram com nossa categoria... bem-vindos ao Inferno!

Em relação à greve na prefeitura - o representante do Sinpeem é mais consistente, chama a discussão e passa as informações. Porém, nas duas vezes que paramos os colegas de trabalho dedicaram seu horário livre para qualquer outra coisa, menos para ir à Assembleia, e demonstram uma tremenda alienação quanto à pauta e às questões políticas ligadas ao movimento. Não acho "cedo" para fazer greve, mas vejo que o combustível dessa mobilização é muito mais um sentimento "anti-PT" do que qualquer outra coisa(já vi folder no face pedindo o Kassab de volta). Qualquer pessoa lúcida sabe que as questões municipais são tão graves quanto as do estado, mas da mesma forma não acredito que uma proposta predominantemente partidária possa dar conta das questões. Irei à Assembleia na terça, e continuarei conversando com as poucas almas bondosas que me entendem na escola.

Em ambos os casos, converso com os alunos, explico o contexto e peço o apoio.

Comentários
Eduardo Kawamura Fala, Raimundo. É muito complicado comparar o movimento sindical do Estado com o da Prefeitura. A mobilização no Estado é muito mais difícil devido a própria precarização da carreira. Na prefeitura, a defesa por direitos conquistados acaba, no fim das contas, dialogando com uma boa quantidade de professores. Eu penso que a politização do grupo parte de nós, que militamos. Não só em tempos de greve, mas no cotidiano da escola. Quanto a alienação, está ai. Mas também é tarefa nossa pelo menos tentar chegar junto. Agora a politização do movimento, ser anti PT ou anti PSDB. São gestores de um capitalismo neoliberal. Cabe defender carreira, salário, emprego, condições de trabalho e bater onde dói mais, que é falando a verdade.

Raimundo Justino Então, Eduardo Kawamura, a leitura que eu faço é do momento. Não tenho essa visão histórica que você, que milita há mais tempo, tem. A questão é que a politização e a participação estão muito ligadas também a um modelo ainda muito representativo. É bem assim: "ora, precisamos fazer alguma coisa", e aí? "vai lá você na assembleia e vê o que decidem"... nesses moldes, greve e paralisação caem no vazio... sem falar que muitas vezes comprometem a legitimidade do movimento, porque quem está de fora só não consegue enxergar as entrelinhas das propostas... nesse sentido eu vejo os dois sindicatos muito parecidos... quanto ao anti-petismo, é uma verdade doída que o PT não é mais aquele - faz tempo - e tende a piorar...mas é verdade também que não é equilibrado igualar uma gestão que acabou de começar com uma que teve oito anos pra promover mudanças, negociar melhorias, etc...

Eduardo Kawamura Dá para pensar, mas recebemos o governo Serra com uma greve de 17 dias. Os ganhos desta greve ainda são sentidos em nossa carreira e em nossos bolsos. A proposta do Haddad é draconiana: aceita o que eu apresento e cala a boca pelos próximos 4 anos. Não é contra o PT, quem diz isto é o documento apresentado pelo secretário da educação. Está greve deveria ter sido chamada em fevereiro, no momento dos vetos. Demorou, o governo acumulou forças, e, pelo visto, a coisa vai se arrastar. É triste, muito mesmo. Poderia ser qualquer partido, a situação posta é muito complicada, mesmo. E lançando em perspectiva, se não houver demonstração de força por parte dos educadores, vamos acumular derrotas. Por outro lado, cada dia de greve, o PT fica mais distante de qualquer pretensão política aqui em São Paulo. Já te digo, vamos bater forte.

AnaPaula Pires Oi, Raimundo! Tudo bem?
Adoro suas reflexões!!! Me identifico muitoooo com seus questionamentos que, aliás, sempre contribuem com minhas reflexões também. Brigada, viu!!!
Concordo plenamente com você: temos que abraçar a causa, nos informar e ir à luta! Não dá pra querer fazer greve e ficar assistindo!!! ...Pena q em momentos como esses nos vemos tão sós e decepcionados com aqueles que deveriam estar ao nosso lado, né?!!! Não bastasse o governo, que aliás, já me deixa preocupada... Bom, de toda forma, o pessoal do CEU que aderiu ao movimento estará lá na terça mais uma vez, quem sabe a gente não se vê, né?!!!!

Um comentário:

  1. Raimundo Justino,
    Tenho dois cargos no Estado que estão lotados na EE João Ramalho no centro de São Bernardo do Campo e nesta escola só eu um outro colega estão fazendo a greve sendo que este colega acumula com a Prefeitura de SP. Esta escola de São Bernardo do Campo é composta em sua maioria que não estão mais se importando e os que não estão nesta situação de aposentadoria se escoram neles. Vou à Assembleia hoje, fui à reunião ontem à noite na Subsede da Apeoesp de São Bernardo do Campo, mas eu sou só na greve e só na vida. Quando ouvi os companheiro já falando em cestas básicas, me causou cólera de pensar que eu vou ter que repor sozinho também esses dias parados se é que irão negociar os dias parados. Quer saber? Chega de dar murros em ponta de faca na rede estadual e fico mais triste ainda porque passei no último concurso da Prefeitura de SP minha classificação é 389 e já está no 114 e se a Prefeitura me chamar não encontrarei bom cenário. Afinal, trabalhar para o PT e PSDB como servidor público é tomar chicote na certa!

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