sábado, 4 de maio de 2013

A morte de um soldado no front. (esse será meu último texto) - Por Christian Longuin

A morte de um soldado no front. (esse será meu último texto)

Por Christian Longuin
Companheiros, sou da base. Não pertenço a nenhuma corrente política dentro do sindicato. Sou apenas, um professor. Há 13 anos sou servidor público estadual, e desde que entrei, sempre militei de forma ativa em todos os movimentos da categoria. Foi assim em 2000, 2005, 2008, 2010 e tem sido agora em 2013. 

Após uma década de derrotas a nós imputadas por esse nefasto governo tucano e pela minha descrença no poder de mobilização da articulação sindical, eu relutei em entrar nessa greve. Mas entrei. Entrei sabendo que ia perder, e de fato, perdi. Como sempre fiz, militei ativamente nessa greve visitando escolas, tomando o protagonismo, construindo minha própria historia. Dias inteiros visitando inúmeros companheiros nas mais diversas UEs de minha região, tirando $ da passagem do meu bolso muitas vezes sem sequer almoçar. Vivi intensamente cada instante dessa greve.

Não militei por acreditar que teríamos uma vitoria histórica, militei por que promover a consciência coletiva dos trabalhadores é para mim a maior de todos os satisfações da vida. Ouvi historias, ouvi angustias, ouvi receios e medos. Por todos os lugares que eu passei tentei esclarecer direitos, desconstruir mitos e motivar pessoas para a resistência.

Aguardei hoje com muita expectativa, pois queria expressar publicamente minha opinião. Tinha discordâncias sobre a condução do movimento e reforço, sou da base, logo, não tenho interesse político com nenhuma corrente. Porem, tive meu direito de expressão tolido.

Um sentimento de impotência tomou conta de mim. Comecei a chorar. Não por medo, mas por que eu vi que toda minha luta na base, no chão da escola, de fato pouco importou. Tomei consciência que essa greve não é para mim. Em nenhum momento foi levantada a questão da regulamentação da evolução funcional a partir do nível V, a aberração da promoção de faixas através de provas, ou seja, a questão crucial do plano de carreira, que é o que de fato interessa, não foi lembrada em nenhum momento. A questão dos tickets miseráveis, que muitos não recebem, do auxilio transporte e principalmente, o estabelecimento de um nível máximo de temporários, para que passado esse nível, houvesse abertura imediata de concursos, isso não foi levantado. O que ouvimos, a todo momento, foi O, O, O, O,O, O. É uma greve para a categoria O. 

Agora quero me dirigir a pessoa que tapou minha voz hoje. Sempre me dirigi a você, de forma muito respeitosa, e em que pese divergências, toda vez que me dirigia, usava a expressão, respeitosamente. Você pode vasculhar as postagens dessa comunidade e vera que em nenhum momento ofendi sua moral. Você conseguiu tirar a ultima gota de esperança que ainda ardia dentro de mim. Mas você me ajudou. Me ajudou a tomar consciência que estou numa luta na qual eu sempre sairei derrotado. Me ajudou a olhar para mim mesmo e escancarar a imediata necessidade que tenho de romper com essa letargia que se apoderou de mim e ver que de fato, eu preciso mudar de emprego, pois tenho apenas 33 anos e todo um futuro pela frente. 

Aos que sempre defendem a luta, dirão que esse é um discurso covarde. Que esse discurso “esta insatisfeito, então saia” é um discurso conformista, neoliberal e pelego. De fato é. Mas há um momento na vida em que você se vê tão só, e tão sem forcas, que a única forma que vc encontra é buscar a solução individual. E racionalmente, não vejo outra alternativa, a não ser, seguir meu caminho. Não estou abdicando da luta, não absolutamente. Eu lutei,lutei com todas as forcas, ao longo de 13 anos, mas morri no front. Começo a entrar em estado de decomposição. Já cheiro mal.

Ao companheiro que presenciou a cena de hoje peco, não cite nomes, não cite locais, não cite nada, não quero expor ninguém (por favor colega, respeite meu pedido). Que essa pessoa que fez isso comigo hoje, siga em paz e seja feliz. De verdade, desejo a essa pessoa, toda a paz, sem magoas ou rancor. Fim da historia, que cada um siga seu caminho. 

Não adianta querer mudar, pois a mudança sequer é desejada. Visitando escolas, percebi nitidamente que a presença dos comandos de greve é uma presença que incomoda. O professor em geral não gosta de nossa visita. Estão resignados e já aceitam como normal sua condição de exploração. A reflexão sobre a condição trabalhista não é bem vinda para muitos.

Ha um sem numero de categoria O que veem nessa greve, seu messias. Fui ofendido por um menino, que devia ter apenas uns 20 anos, categoria O. Deixe-os lutar a sua luta, é legitimo. Se querem apenas virar F, que sigam nessa senda. No lugar deles eu lutaria por concursos periódicos, mas cada qual tem seu sonho. O meu sonho, enfim, acabou. Eu sonhava com a emancipação total da classe trabalhadora e com o despertar da consciência coletiva do proletariado. Rsrsrsrs, isso não é um sonho, é uma utopia. O totalitarismo mercante triunfou amplamente e qualquer sonho coletivo, não passa de uma pueril ilusão.

Segunda feira pela primeira vez voltarei para a escola antes do fim da greve. Para mim, não faz mais sentido essa luta. Fiquem a vontade para me chamar de pelego, de covarde, enfim, sintam-se livres para tripudiar sobre meu cadáver  especialmente aqueles que me disseram "você é um idiota por entrar nessa greve". Para tudo na vida há um limite e o meu chegou. Aqui no front, sozinho, ensanguentado, com o corpo duro e gelado, crivado de balas, despeço-me de todos os companheiros que ainda seguirão nessa luta. A infantaria precisa avançar. Apenas peco que sepultem meu corpo em um local digno, pois digno fui em toda a minha trajetória de luta. 

Um comentário:

  1. acho que deveria citar nomes sim.. afinal eh fato!!!
    meus sentimentos por toda esta situação...
    de uma forma ou de outra todos nos sentimos como vc!!!

    ResponderExcluir