quinta-feira, 19 de abril de 2012

Professores indígenas brasileiros lutam por valorização de suas culturas na educação escolar


Movimento de professores luta por formação diferenciada e ensino bilíngue; o país possui mais de 220 povos indígenas e cerca de 180 línguas e dialetos em seu território

por Vanessa Ramos*

O movimento dos professores Guarani e Kaiowá do Mato Grosso do Sul completa 21 anos de existência. Reconhecido em âmbito regional e nacional, é composto por professores e gestores indígenas na luta por uma educação escolar que realmente possa contribuir para as necessidades de seu povo, que soma hoje uma população de 40 mil pessoas no estado.

Durante seu tempo de atuação, “o movimento indígena participou ativamente na construção da educação escolar indígena, buscando o ensino bilíngue, com a valorização da língua e cultura próprias e a criação de escolas específicas e diferenciadas, com professores indígenas”, diz Veronice Rossato, que atua há 25 anos junto ao povo, na assessoria e formação de professores.

Em 1991, iniciou com a participação de aproximadamente sessenta pessoas e, no ano passado, completou seu 17º Encontro com a presença de mais de 200 Guaranis e Kaiowás entre professores, gestores,
lideranças, nhanderu e nhandesy (lideranças religiosas), estudantes, pais e mães, agentes de saúde.

“Esses encontros têm por objetivos fortalecer a organização dos professores para construir uma escola indígena própria e de acordo com os anseios e necessidades de nosso povo, além de avaliar, planejar e encaminhar as resoluções tiradas nos encontros”, diz a professora indígena Teodora Souza.

Atualmente, o governo brasileiro reconhece a existência de 180 línguas indígenas em seu território. São 240 povos indígenas que somam cerca de 800 mil pessoas (0,4% da população brasileira), segundo o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, de 2010.

Formação diferenciada
“Desde a nossa caminhada já conquistamos os cursos de magistério específicos e diferenciados, a abertura da licenciatura indígena na Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) e assento na Comissão Nacional de Educação Escolar Indígena”, relata Teodora.

Algumas das posições do grupo se transformaram em normas legais sobre a educação escolar indígena, em ações governamentais e em práticas escolares. “Surgiram os cursos específicos de capacitação continuada, a elaboração e a instalação do Curso Normal Médio Ara Verá, em 1999 e da licenciatura intercultural Teko Arandu, em 2006. Apesar de muito criticados, os resultados destes cursos confirmam que a participação indígena nas ações e o respeito à diferença é condição de sucesso nas iniciativas que dizem respeito aos índios”, ressalta Rossato.

Para Renata Girotto, mestre em História e apoiadora do povo Guarani, “o grande desafio é manter o movimento indígena caminhando lado a lado com seus mediadores sociais, de forma que ele seja preservado enquanto frente de oposição ao sistema capitalista globalizado”, diz.

Desafios

“A nosso ver, o movimento congrega certa força política, mas falta-lhe poder de operacionalização de ações técnicas educacionais, ainda concentradas nas mãos dos órgãos públicos e sua teia burocrática”, fala Girotto.

“Conseguimos as conquistas na legalidade, mas a implementação dessas leis deixa muito a desejar”, critica Teodora.

Além da educação propriamente dita, o movimento tem se envolvido nas demandas pela terra, seja nas reocupações, seja na elaboração de documentos e na assessoria às lideranças. “A tomada de consciência de seu papel nas lutas do povo já possibilitou o destaque de alguns professores, no âmbito nacional e internacional. Mas, infelizmente, a violência já os está atingindo, especialmente nas áreas em litígio: vários são ameaçados ou reprimidos, dois professores foram assassinados numa reocupação de terra e o corpo de um deles desapareceu”, diz Rossato.

* Vozes da Educação

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