terça-feira, 27 de dezembro de 2011

O Pisa, o PNE e o currículo

Ontem (26/12) o Estadão publicou uma entrevista com Barry McGaw, ex-membro da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e um dos criadores do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), prova aplicada a cada três anos que fornece dados sobre os sistemas educacionais de 65 países. Não postei na integra por ser muito grande. Quem quiser ler a íntegra, basta acessar o Estadão.

Gostaria de lembrar também que, tempos atrás, postei o artigo “Educação acaba em Pisa” neste blog. Nele, resumidamente, digo que se dá mais importância ao Pisa do que ao PNE, que é o que poderia ajudar a resolver problemas detectados com essas “provinhas”.

Mas, independente disso, acho que vale à pena ler a entrevista feita pela jornalista Mariana Mandelli, do O Estado de S. Paulo.

Segue abaixo excertos da entrevista.

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Estado: Que benefícios a criação do Pisa trouxe à educação, numa perspectiva global?
Barry McGaw: Ele nos deu uma discussão muito mais informada dos sistemas de educação nacionais, bem como das comparações entre os países.

Estado: Quais são os pontos fortes e os fracos do teste?
Barry McGaw: Os testes do Pisa avaliam a capacidade de os estudantes usarem o que aprenderam, e não simplesmente se eles aprenderam alguma coisa. Essa é a grande força da avaliação. Seria bom se tivéssemos mais perguntas abertas e menos questões de múltipla escolha. Os funcionários técnicos geralmente querem isso também, mas os funcionários responsáveis pelo orçamento querem mais itens de múltipla escolha, porque que isso mantém baixos os custos da prova. No final, o Pisa acaba sendo um equilíbrio saudável dessas duas considerações.

Estado: O Brasil foi um dos países com o maior avanço no ranking do último Pisa. No entanto, continuamos nas últimas posições. Como resolver isso?
Barry McGaw: Eu acho que a melhoria do Brasil é muito encorajadora. Não é apenas rankings que você deve olhar. Você deve observar como seus alunos melhoram nas habilidades que as escalas do exame medem.

Estado: É justo comparar escolas em condições diferentes? Os resultados dos testes - como o Pisa - não escondem essas disparidades? Como lidar com isso?
Barry McGaw: Há maneiras de fazer comparações justas entre as escolas. Na Austrália, no site My School, comparamos as escolas diretamente, mas apenas com outras escolas que tenham alunos semelhantes. Existem diferenças marcantes entre as escolas quando elas são comparadas dessa forma, e as escolas com os desempenhos mais baixos não podem dizer que esse é o resultado dos alunos com os quais elas lidam, porque os outros colégios da comparação têm alunos semelhantes. Também publicamos os fundos que cada escola tem para gastar com os alunos. Divulgamos essa informação pela primeira vez neste ano e ela está proporcionando um embasamento melhor para a discussão sobre os níveis de recursos financeiros para as escolas do governo.

Estado: Quais as melhores e as piores características dos sistemas educacionais dos países de referência?
Barry McGaw: O ponto positivo é o alto valor que eles dão à educação, mas isso pode levar a uma pressão desproporcional sobre as crianças, por meio de um sistema altamente competitivo, com muitas delas passando horas excessivas fora da escola em aulas adicionais. A Finlândia se destaca pelo fato de que seus estudantes passam menos tempo na escola, não ingressam antes dos 7 anos e não gastam tantas horas na escola a cada ano. E os sistema finlandês vai muito bem assim. É claramente muito eficiente na realização dos seus ótimos resultados.

Estado: O que é um bom currículo?
Barry McGaw: Aquele que estabelece claramente o que os alunos têm direito a aprender, mas que não é demasiado prescritivo sobre como a aprendizagem dos alunos deve ser organizada. Isso deve ser deixado para os professores e as escolas, a menos que não estejam suficientemente bem preparados para isso.

Estado: Na sua opinião, como o currículo deve ser construído?
Barry McGaw: O processo exige equipes de especialistas, mas exigem também amplas consultas sobre as primeiras versões do currículo.

Estado: O sr. é a favor de que os países tenham currículo único?
Barry McGaw: Isso depende do quão grande e diversificado é o país. Mas sou a favor de um currículo único para a Austrália, que tem apenas 23 milhões de pessoas. Na década de 1970, tivemos um movimento baseado nas escolas para permitir a variação no currículo, para refletir características locais. Um dos resultados foi que, para as crianças que residiam em regiões onde a classe trabalhadora morava, foi oferecido, por professores de classe média, um currículo menos exigente. Eles achavam que isso era bom para aquelas crianças - mas certamente não para seus filhos, que estavam seguros em escolas de classe média, com altas expectativas de aprendizagem.

Estado: Com um currículo único, como fica a autonomia da escola?
Barry McGaw: A maneira de dar às escolas autonomia é desenvolver um currículo que estabeleça "direitos de aprendizagem" para os estudantes (conhecimentos, compreensão e habilidades que todos devem ter a oportunidade de desenvolver), mas sem especificar como a aprendizagem deles deve ser organizada.

Estado: Quais são os principais fatores por trás de um bom sistema educativo?
Barry McGaw: A qualidade da aprendizagem dos alunos é o critério mais óbvio. Equidade é outra. Não podemos esperar - nem devemos desejar - que todos os alunos sejam iguais. O que podemos fazer é reduzir o impacto das diferenças das origens sociais dos alunos nas diferenças da qualidade da aprendizagem deles. No Pisa, temos visto alguns países - com Finlândia e Coreia - fazerem isso e obterem médias altas.

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