segunda-feira, 25 de março de 2013

O silêncio


Os textos abaixo foram publicados pelo professor Raimundo Justino no grupo Faces da Escola, do Facebook.

Além da preocupação com a educação, os dois têm em comum a palavra silêncio. Mas, em duas situações e com personagens distintos.

No primeiro texto, ele fala sobre a busca incessante de todo professor pelo silêncio dos alunos na hora em que busca dar alguma explicação. No segundo, fala sobre a busca pelo silêncio por uma aluna que queria entender o que o professor explicava, mas não conseguia devido à bagunça dos seus colegas. Mas, de todos os silêncios, o que mais me incomodou foi o dos professores, que se negaram a incentivar a aluna que foi à luta em busca de silêncio. Lembrou-me o “exemplo” do filme Escritores da Liberdade, no qual uma professora fazia de tudo para tentar conseguir dar uma boa aula e os demais professores faziam de tudo para que ela não conseguisse. Isso é consequência da desunião da categoria? Ou do desânimo e falta de esperança na melhoria da educação? Ou da falta de confiança e apoio aos estudantes?
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MARTELO, BIGORNA E ESTRIBO

Uma vez vi o Rodrigo Ciríaco, em uma entrevista, falando sobre a dificuldade de ter o "seu" silêncio na sala de aula. De fato, existe uma cultura escolar que enterrou quase por completo a possibilidade de um professor falar e ser automaticamente ouvido.

Vejo isso como um problema sério. Afinal, todos nós, de um modo ou de outro, gostamos de ter a atenção das pessoas. Se um professor se acostuma a falar e ser ouvido apenas por meia dúzia de pessoas(o que significa o prejuízo da mensagem, pois o ruído de todos os demais afetarão esse diálogo), ou ele não se importa com o desempenho dos alunos ou, simplesmente cansou, auto-preserva-se para não ficar doente ou aumentar sua frustração. Se ele não é ouvido por nenhum aluno, então, sua dignidade está em frangalhos.

Digo isso e acho importante ressaltar que na minha experiência, esse não-silêncio permeia todos os tipos de aula e independe da metodologia proposta; o barulho reina nas aulas expositivas clássicas, nos debates, nos trabalhos em grupo, nos seminários, nos filmes... a cultura do barulho domina a escola.

Salas aonde há professores, aliás, quase sempre reproduzem isso.

Quase sempre meu discurso de apelo ao silêncio é:

"Por que não ouvir? Por que vocês acham que a gente pode aprender sobre o mundo trocando ideias, conversando, sem precisar copiar da lousa ou responder perguntas óbvias do livro didático? Por que pessoas mais velhas ouvem e aprendem coisas, como é o caso do Costa Senna e da Tomie Ohtake?"

Quase sempre há também um silêncio como resposta. Não sei de incompreensão, não sei se de desprezo... até a recomeçarem a barulheira e a busca pelo "meu" silêncio...
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POBRE GALINHA

Antes de tudo, peço desculpas pelos erros de digitação... tenham certeza, é o cansaço!

Dia desses meu amigo Saulo Ferreira comentou aqui que sentia-se um escravo por ter que corrigir provas oficiais do governo. Para piorar, a credibilidade destas avaliações é cada vez menor, porque elas são repetitivas e feitas de cima pra baixo.... ter parâmetros é importante, mas o modelo que temos no governo do estado é pífio, não funciona e muitas vezes atrapalha...

O que acontece, porém, é que quando as provas chegam, todos sentam e fazem o serviço sem reclamar... a cena me lembra uma sala de aula, quando os jovens fazem uma tarefa absolutamente por fazer, na qual não veem (muitas vezes com razão), sentido algum...

A Rebeldia na Educação está semi-morta. Semi.

Ontem, uma aluna da oitava série desceu à Direção. Sua reclamação: ela queria ouvir o professor na aula de Ciências, mas três colegas não paravam de zoar e não deixavam. A coordenadora acolheu a reivindicação e subiu para conversar com a sala. Na sala dos professores, que ouviam passivos sobre o ocorrido, comentei:

"Ótimo... que tal se a gente chamasse essa menina e a elogiasse coletivamente? Se a gente se une pra criticar um aluno, por que não pra parabenizar...?"

Pegaram a sugestão, mataram-na, comeram-na e, sob silêncio, passaram-se anos...

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