Eu ainda acrescentaria:
"Uma pessoa diz:
– Meu filho é prejudicado por causa desta greve.
Um professor retruca de imediato:
– Seu filho é prejudicado durante todo o ano letivo, desde quando ele estuda, pela falta de prioridade do governo com a educação. O Alckmin é o culpado pela greve. É ele quem prejudica seu filho!
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Mais gente. Ou aumentou
um terço ou passamos de 10 para 20 mil, algo assim. Os professores caminham
pela Avenida Paulista. Nos cruzamentos fechados, motoboys reclamam. Carros
importados buzinam inutilmente. Um transeunte passa, olhando como quem não
entende o nexo das coisas. É talvez uma figura importante da república
disfarçado em roupas de assalariado, pois reclama: "Isso é a Paulista,
gente... Pra que fechar?" De todo modo, alguns moradores acenam dos
apartamentos, aplaudem, jogam papéis (embora outros balancem negativamente a
cabeça).
Um carroceiro,
catador de lixo, leva tapinhas nas costas, enquanto espera a multidão que
passa. Na minha vez, falo com ele: "Desculpe atrapalhar seu trampo,
mano." "Num tem problema não, véio, tô esperando a transformação
também." A marcha prossegue. Já na Consolação, um edifício ocupado por
sem-tetos: gente pobre acena das janelas, com o punho erguido. Das janelas dos
apartamentos remediados, chovem mais papéis picados. Um garçom pergunta:
"Pra onde vocês vão?" Um engraçadinho responde: "À praça da
República: ainda não podemos ir ao socialismo."
Um velho professor,
negro, grande, tranquilo, "com as pontinhas dos dedos na
aposentadoria", comenta tristemente ao meu lado: "Menino... quando eu
fiz isso a primeira vez, em 84, achava que a gente resolvia isso logo, logo...
Num pudia imaginar que trinta ano depois ainda ia tá aqui marchando..."
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