Em 2010, Prefeitura formou 2º ano
do ensino fundamental com estudantes repetentes e vindos de outras redes; hoje
eles estão no 5º ano
A cidade de São
Paulo terá até 2017 uma série escolar atípica, com alto porcentual de alunos
atrasados. A distorção foi criada em 2010 na implementação do ensino
fundamental de nove anos. Hoje, as turmas dessa série, com cerca de 7 mil
alunos, estão no 5.º ano e acumulam mais um problema: também abrigam alunos
reprovados no ano passado, no fim do primeiro ciclo.
O município optou
à época por manter os dois sistemas (com denominações de oito e nove anos).
Quem estava na 1.ª série em 2009 foi para o 3.º em 2010 e os novos alunos do
fundamental, para o 1.º ano (mais informações nesta página).
Segundo a gestão
do ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD), não havia alunos para o 2.º ano (pois os
saídos da pré-escola eram muito novos) e, por isso, foram formadas turmas com
estudantes provenientes de outras redes, além dos retidos por repetência.
Segundo a antiga
gestão, a cidade não tinha alunos na idade adequada para esse ano porque
matriculava, até 2009, crianças com 6 anos na 1.ª série. O Estado apurou que a
formação das turmas de 2.º ano ocorreu por conta de uma preocupação do governo
do Estado em haver uma lacuna de uma turma futura no ensino médio.
A decisão tem um
impacto imediato nas estatísticas da cidade. Índices tabulados pela equipe do
Estadão Dados mostram que na rede municipal a taxa de distorção idade-série no
2.º ano teve um salto de 1,8% para 6,3%. Essa defasagem se arrastou em 2011, já
no 3.º ano, e deve se espelhar até o 9.º ano. A taxa é expressa pelo porcentual
de alunos com dois ou mais anos além da idade recomendada para a série.
Prova Brasil.
Enquanto essa turma tem pouco mais de 7 mil alunos, os outros anos da rede
contam com uma média de 55 mil. Mas é essa turma que faz neste ano a Prova
Brasil, avaliação federal, como lembra a diretora executiva da ONG Todos pela
Educação, Priscila Cruz. "Como sabemos que a repetência tem forte
correlação com evasão futura, é preciso ter muita atenção", diz ela, que
ressalta a criação dessas turmas como uma escolha de gestão. "Mas a turma
não é representativa da rede."
A consultora em
educação Ilona Becskeházy afirma que essa realidade precisa ser estudada.
"São alunos que têm dificuldade e se viram em uma transição
administrativa", diz.
Segundo dados do
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), as turmas foram
formadas em 71 escolas. Na Recanto dos Humildes, em Perus, 32,3% dos alunos do
2.º ano de 2010 estavam atrasados. Um integrante da equipe gestora, que
preferiu não se identificar, disse que não houve tratamento específico e a disparidade
de idades não foi percebida. "Há muitas transferências", disse.
Na escola Prof.
Iracema Marques da Silveira, no Campo Limpo, também não houve nenhum trabalho
específico - em 2010, o 2.º ano tinha 28,6% de alunos defasados. "Era só
uma turminha", disse uma integrante da secretaria. Segundo ela, a
distorção maior começou a ser sentida agora, com os repetentes da 4.ª série
(que ficaram em 2013 no 5.º ano).
A gestão anterior
ressaltou que questionários da Prova Brasil de 2011 aplicados aos diretores mostraram
que 99% das escolas possuíam programas de recuperação. Já a Secretaria
Municipal de Educação informou que está integrando ações para assegurar a
educação na idade certa. "Os alunos em defasagem cumprirão o fluxo regular
do ensino fundamental, com apoio pedagógico complementar caso necessário",
informou em nota.
As turmas atípicas
também foram formadas em escolas do Estado na capital, mas a defasagem ficou
menos concentrada. Segundo o professor Ruben Klein, da Fundação Cesgranrio, a
implementação do fundamental de nove anos foi malfeita. "O problema é que
cada rede fez de um jeito, não houve organização".
Fonte: O Estado de S. Paulo
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