Começo essa
reflexão com uma paródia ao famoso poema Intertexto, de Bertold Brecht.
Primeiro
eles implantaram o toque de recolher, mandando fechar bares e danceterias após 22h.
Estes espaços são frequentados por muitos jovens. Eles são as maiores vítimas
da violência. Disseram que impedindo a abertura de bares e danceterias iriam reduzir
a mortalidade de jovens. Como eu não saio após 22h, não vou a bares e nem a
danceterias...
Depois
eles mandaram prender os adolescentes pobres, principalmente os negros e
moradores das periferias dos grandes centros urbanos. Mesmo com o toque de
recolher, o número de mortes entre os jovens continuava subindo. As estatísticas
mostram que 0,2% dos adolescentes se envolvem em algum tipo de delito. Estes
delitos são, principalmente, contra o patrimônio. Mas, vez ou outra, também
cometem atos contra a vida. Disseram que, com isso, reduziriam a violência e a
mortalidade entre os jovens. Como não e não tenho filhos adolescentes, muito
menos pobre e tampouco moro nas periferias...
Em
seguida mandaram fechar as escolas públicas. São os espaços onde há a maior
concentração de crianças, adolescentes e jovens. O tráfico de drogas domina o
ambiente. Os jovens se agridem a si mesmos e aos professores. Depredam o
patrimônio público e nada aprendem. Disseram que, com isso, reduziriam a
mortalidade da juventude. Mas, eu e meus filhos não estudamos em escolas públicas...
Agora,
estão lacrando a porta de saída de minha casa. Somente os adultos têm
autorização para sair, trabalhar e, claro, consumir para manter a “sociedade”
funcionando. Deixar meus filhos (adolescentes e jovens) sair é muito perigoso. Para
eles e para a sociedade. Os jovens são quase 15% da população. São intempestivos
e querem, sempre, alguma mudança. Sempre deixei a imprensa e os donos do
dinheiro fazer o que eles queriam. Por que atacam minha liberdade e de minha
família? Não tem ninguém que possa me ajudar?
Retomando a
reflexão, lembro que, tempos atrás, a sociedade debateu, também
superficialmente, o “toque de recolher”. Algumas cidades o implantaram. Num
primeiro momento, em algumas delas o número de mortes caiu, principalmente
entre a juventude.
Agora,
querem reduzir a idade mínima para que os adolescentes respondam criminalmente
a partir dos 16, 14, 12 anos. Outros dizem que não deve existir idade mínima. “Se
fez, tem que pagar”, é o lema.
Não aceitam
penas sócio-educativas como punição. Querem que os mesmos fiquem trancafiados.
Sejam impedidos de ter o convívio social em instituições que os reeduquem.
Muitos deles são reincidentes. Já passaram por estas mesmas instituições. As
instituições não conseguiram reeducá-los. Na maioria das vezes, conseguiram,
apenas, jogá-los mais ainda para um mundo de criminalidade. As pesquisas
mostram que saíram de lá mais violentos do que entraram.
Ou seja, o
sistema penitenciário não funciona. A culpa é de quem está sendo “reeducado”,
ou de quem criou e administra o sistema? Os mesmos “iluminados” que pedem a redução
da maioridade penal vão dizer: “Privatiza!”. A telefonia móvel foi privatizada.
O sinal de meu celular vive caindo. Quando tem sinal.
Na verdade,
a sociedade pós-moderna, onde tudo é efêmero (passageiro, provisório), tudo
precisar ser imediato, quer que o “problema” seja resolvido da forma mais
rápida possível. Para eles, prender os adolescentes é a forma mais rápida de
solução.
Mas, será
que a solução realmente virá com a prisão dos adolescentes? Para mim (e
acredito que para eles também) é apenas mais uma das muitas medidas que são
tomadas que lhes rouba a liberdade. Numa sociedade cheia de desigualdades a
liberdade já lhes é roubada de diversas formas, em diversas ocasiões.
Eles não têm
a liberdade, são privados, de ter uma educação de qualidade. São privados de
morar em um ambiente digno (muitas vezes, são privados de um teto). Eles são privados
do convívio familiar. São privados do lazer, da cultura, da saúde... A prisão
será apenas mais uma privação.
Até seu bichinho de estimação, seu gato, que você trata tão bem, se ele se sentir privado de liberdade, acuado, ele te ataca.
E querem culpar os jovens, os adolescentes pela violência.
Até seu bichinho de estimação, seu gato, que você trata tão bem, se ele se sentir privado de liberdade, acuado, ele te ataca.
E querem culpar os jovens, os adolescentes pela violência.
Será que não
é a sociedade que os violenta? Lembrando do poema de Brecht e da paródia que
fiz, hoje são eles. E amanhã?
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